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Estado de Minas paulo delgado

A guerra estagnada

"Com mais de 200 mil mortos e feridos, a Rússia fracassa no front e ataca a Ucrânia de longe sem conseguir entrar ou permanecer no território bombardeado"


26/02/2023 04:00

Está melhor preparado para tudo quem cultiva a serenidade e é senhor da visão de conjunto. Quem luta pela necessidade de qualquer maneira costuma não dar valor à verdade de maneira nenhuma. Necessidade e verdade não conseguem andar juntas quando a política de poder das nações apela para a força para alcançar seus interesses. A verdade não se limita aos fatos se está diante da espada de reis salteadores, pois sempre estará mais próxima do vigor da sabedoria dos sensatos. A guerra estagnada de Putin contra a Ucrânia fez um ano anteontem, mas a maldade humana do conflito parece não ter fim.
 
Com mais de 200 mil mortos e feridos, a Rússia fracassa no front e ataca a Ucrânia de longe sem conseguir entrar ou permanecer no território bombardeado. A força da antipatia histórica pelo vizinho truculento, uma espécie de poder obsoleto de quem se sente mais elevado do que o outro, aumenta o vigor dos ucranianos contra o gigante enfurecido e saudoso do império soviético. Infeliz de quem tem um mal vizinho, diz a sabedoria dos camponeses do país. Milhares de ucranianos fugiram para a Polônia, que testa seu sistema de solidariedade humanitária ao acolher os imigrantes forçados.
 
País que fez do pão e do sal, desde tempos ancestrais, um dos principais símbolos de prosperidade e boas-vindas, a Ucrânia tem a poesia e a música entre seus elevados costumes.  Versos patrióticos e esperançosos são antigos e consagrados, como os do criador da moderna literatura ucraniana, o poeta Taras Schevchenko, nascido em 25 de fevereiro, no ano de 1814: Rugem as cascatas, nasce a lua, como sempre nasceu. Onde estão os nossos filhos, onde eles andam. Somente o inimigo está rindo. Ria, cruel inimigo! Mas não muito, tudo está desaparecendo, porém a glória não sumirá e contará ao mundo o que está acontecendo. De quem a verdade, de quem a injúria e de quem nós somos filhos. Nossa balada, nossa canção, não perecerá. 
 
Putin, no sentido próprio ou figurado, não está preparado para viver na sociedade mundial que cultiva valores de compartilhamento, tolerância e enfrenta dificuldades econômicas que só podem ser enfrentadas com inteligência e diálogo. Mas parece disposto a ir em frente arrastando o mundo para o pior. Se orgulha do espírito traquina que tanto mal fez à Rússia Soviética ao não saber compreender a espiritualidade do povo russo sufocando sua religiosidade. Uma guerra de governo fraco, sem perspectiva, encurralado entre a liderança ocidental norte-americana e o milenar passo-a-passo da influência oriental da China. Uma guerra em que o presidente dos Estados Unidos, provocador, visita Kiev viajando de trem pelo país invadido, dando a impressão de negligência excessiva com sua própria segurança, é uma guerra de símbolos. Como é o caso do balão chinês, que sobrevoou os EUA – espião militar ou meteorológico - derrubado por um caça nas costas da Carolina do Sul. 
 
A presunção de Putin de ensinar a única coisa que sabe e querer controlar o resultado das suas divagações belicosas pode conter a decisão de não deixar EUA, OTAN e China serem capazes de coibir o que seria melhor sufocar. A espada de Putin é ignorante e parece ser a senhora das profundezas tenebrosas que existem nos seres humanos amedrontados e é sempre aproveitada, oportunisticamente, pela luta política fratricida que impera atualmente dentro de todos os países.
Sem condições de elevar seu pensamento mais alto do que ambições territoriais, Putin não empolga a população russa para sua cruzada de cossaco. E enfrenta contratempos militares imediatos com significação cultural de longo prazo. Ao tentar deter o avanço das ideias ocidentais, mais democráticas e magnânimas para a rotina da população civil, vai perdendo a hegemonia sobre os países nórdicos, vendo a vizinha Finlândia e a Suécia pedirem sua adesão à área militar da OTAN. 
 
Nações distantes começam a se movimentar.  O recente pronunciamento do chanceler brasileiro em direção ao diálogo entre as nações interessadas na paz na região teve um sentido positivo. E ajuda a diminuir a compreensão diplomática negativa de que a expansão militar da aliança ocidental para o leste possa significar uma nova corrida armamentista, como afirma Putin sempre que pode. A legítima defesa tem suas próprias leis e cada país sabe bem o que mais o ameaça.
 
Não há hoje, no mundo, uma balança da justiça pesando as decisões políticas nacionais. A ONU é lenta. Sustentada pelo orçamento dos países membros e condicionada pelo poder de veto derivado dos arranjos políticos nacionalistas de meados do século 20, não está dotada de argúcia e doutrina universal para entender os sentimentos humanos atuais. E se a ONU pode pouco, quem poderá mais?

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