(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Comportamento

Temos fome de quê?

"Gostaria muito de ter um trabalho"


07/08/2022 04:00

No momento estou em Moçambique, em uma vila na província de Gaza, a cerca de 300 quilômetros de Maputo. Há alguns dias parti do Malawi e fiz a travessia entre as duas fronteiras de carro. Foram 2h30 nas estradas do Malawi, depois mais 4 horas nas estradas no norte de Moçambique, até a cidade de Tete, na província de mesmo nome, onde a presença de brasileiros é comum em decorrência de anos de exploração de carvão mineral por parte da Vale. Um dia depois peguei um voo de 1h45 até o sul. Enfim, Maputo.
 
O que me levou até Tete foi o orfanato Vó Teresa, onde vivem 75 internos, sendo os mais novos com três anos de idade e os mais velhos já universitários. Meus anfitriões, o casal Seu João e Sandra, explicaram que uma vez ali as "crianças" só saem com emprego e condições de viverem sozinhas, o que não é nada fácil conseguir. O orfanato sobrevive há pouco mais de 20 anos a base de doações, campanhas, muita boa vontade e amor.
 
Eu poderia ter feito a travessia via aérea, mas escolhi ir por terra mesmo sabendo que ficaria mais caro e demandaria muito mais tempo. O que me atrai muito é conhecer o interior dos países os quais visito, e no caso do continente africano explorar suas entranhas me torna cada vez mais apaixonada por seu povo e admirada com seu poder de resignação, fé e resiliência.
 
Estradas ruins, sendo que nos trechos próximos às vilas, há muita gente caminhando nos cantos, cabras atravessando e bikes antigas carregando enormes e pesados fardos de todo tipo, desde carvão a madeira e grãos, sendo impossível imaginar como o ciclista consegue equilibrar e pedalar ao mesmo tempo.
 
O transporte público é feito por chapa, nome dado às vans, que carregam muito mais gente e carga que o recomendado, e por caminhões abertos que lotam suas caçambas de gente em pé ou sentada sobre sacos de milho e ferramentas agrícolas.
 
O mesmo motivo me trouxe aos dois países, levar adiante as oficinas de costura que a Fraternidade Sem Fronteiras mantém em seus projetos. Há muitas diferenças entre as duas culturas com as quais me vi imersa, mas o desejo e a necessidade de se profissionalizar, ter ocupação e renda, as iguala. Outro ponto que se vê nos dois lugares é a fome como sendo uma de suas maiores expiações. Come-se dia sim, dia não ou com intervalos ainda maiores e sacrificantes.
 
    Uma psicóloga com quem estive durante estes dias perguntou a uma "mama", como são carinhosamente chamadas as mulheres adultas. "Se você pudesse escolher uma única coisa, o que você pediria?" Sem pensar muito, a mama respondeu: "Eu queria muito uma casa, mas não posso comer uma casa. Se eu pedir comida, amanhã estarei novamente sem ter o que comer". Sabiamente concluiu: "Eu gostaria muito de ter um trabalho, pois dessa forma poderei comprar a comida do dia a dia e aos poucos construir uma casa para viver com toda minha família".
 
 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)