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Estado de Minas COMPORTAMENTO

A vida dura em um campo de refugiados na África

"Aqui a fome dói, literalmente falando"


24/07/2022 04:00 - atualizado 24/07/2022 10:14

Refugiados
Refugiados que vivem ha mais de 20 anos no campo Dzaleka (foto: Fraternidade Sem Fronteiras/Divulgacao )

 
Providence, Perfect, Esperance, God, Divine, Justicia, Fidele, Dieu Merci, Gift, God Live, Chance, Blessing, Inocent, Baraka (bênção) Dieu Exist, Alegria, Mandela. Estes são alguns dos nomes que os pais dão aos seus filhos que nascem aqui no Campo de refugiados de Dzaleka, no Malawi, África onde estou há duas semanas. Nomes que traduzem a fé em Deus e a esperança em um futuro melhor.

É minha quarta temporada por aqui, onde em julho de 2019 ajudei a Fraternidade Sem Fronteiras a implantar uma oficina de costura que hoje sustenta nove famílias e capacita muitos outros refugiados, em sua maioria fugidos da República Democrática do Congo, mas há também pessoas nascidas em Burundi, Ruanda e Gana.
 
O tempo passou, a situação do campo piorou. Mais gente (agora são cerca de 55 mil), somada à inflação galopante no Malawi. Um dólar, em dezembro do ano passado quando aqui estive, comprava 950 Malawi Kwacha, a moeda do país. Hoje equivale a 1.300 MK.
 
O salário-base é de 35 dólares/mês, mas refugiados são proibidos de trabalhar fora do campo. Os que não conseguem nada e nenhuma ocupação remunerada recebem da ONU cinco dólares/mês para se sustentar. Não é difícil imaginar como aqui a fome dói, literalmente falando. Famílias enormes, filhos são presentes de Deus, ninguém os dispensa.
 
Fui à capital, Lilongwe, acompanhada de dois deles para comprar material de costura. O centro é um caos de gente, camelôs que expõe suas mercadorias (a maioria chinesas) no chão de terra, um mix de legumes, bolinhos fritos, vasilhame de plástico, tecidos.
 
A certa altura da caminhada pelo passeio de terra com pedaços de cimento que se confunde com a rua de terra com pedaços de asfalto, um deles foi para um lado, o outro me puxou me conduzindo para o oposto. Meu medo de perder o companheiro no meio do tumulto me levou a gritá-lo pelo nome e ele fingiu que não me conhecia. Pouco depois nos reunimos e me perguntaram: "você viu do que fugimos?"
 
Claro que não! Minha primeira pergunta foi: "iam nos roubar?". Depois, "havia algum homem nos olhando com cara de quem ia nos agarrar?". Rindo de mim disseram: "fugimos dos agentes da imigração". A duras penas aprenderam a andar sem serem vistos em um espaço que não são desejados. Para estar fora dos limites do campo precisam de uma autorização especial, sempre acompanhada de pagamento que eles também não têm como fazer.
 
Por essas e outras entendemos de onde vem os nomes das crianças: Providence, Perfect, Esperance, God, Divine, Justicia, Fidele, Dieu Merci, Gift, God Live, Chance, Blessing...

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