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Estado de Minas Comportamento

Lembranças

"O que de fato não queremos perder ou esquecer"


05/06/2022 04:00

Quando uma grande amiga faleceu, recebi a incumbência de ajudar a família a separar o que deveria ser guardado e desfazer do que só fazia sentido para ela. Tarefa difícil, confesso, visto que decidir descartar aquilo que ela tanto valorizava não foi nada confortável.
 
Havia uma pilha interminável de "trabalhinhos" que o filho fez no tempo da pré-escola. Alguns eram uma folha enorme com um ou dois riscos aparentemente sem sentido, a não ser para ele no momento em que o fez e para ela, que valorizava tudo aquilo que tinha a mão e a imaginação do filho. Lixo, decidi, não sem antes perguntá-lo e ao pai se havia interesse em manter parte ou tudo aquilo. Eles mal deram atenção à minha dúvida, o que fez com que eu me sentisse menos mal.
 
Não é fácil encontrar o limite entre guardar o supérfluo necessário e acumular aquilo que não tem sentido. Por um tempo, mantive, por exemplo, uma caixinha de primeiras coisas dos meus filhos: o primeiro dente que caiu, o primeiro sapatinho, o primeiro boné. O dente ficou nojento, o sapatinho e o boné pouco significaram. Concluí que não passavam de peças que nada diziam sobre quem eles foram enquanto bebês. Ganhei espaço em meu armário e me libertei da tentação que sempre ronda os humanos de "guardar pois um dia posso precisar".
 
Esta semana, meu filho mais velho estava nos visitando e me pediu uma foto dele quando criança. Indiquei onde guardo nosso passado em prateleiras e gavetas e ele acabou sentado se divertindo ali por horas. Procurou pelo dente, mas pouco se importou quando contei que o havia jogado fora. Foi aí que vi o que são nossas experiências, o que de fato não queremos perder ou esquecer.
 
Um ou outro boletim escolar o fizeram se lembrar de uma infinidade de situações vividas no colégio. Mas foram os diários ou exercícios de escrever sobre como foram as férias, as excursões que fazia com os colegas, além das fotos, o que mais tomou seu tempo. Ria do garrancho que era sua letra, das histórias que ele contou, dos erros de ortografia, da forma como expunha sua vida.
 
Avisei que não era para jogar nada daquilo fora, pois já não lhe pertencia mais enquanto algo concreto. Deveria se satisfazer com as lembranças, essas, sim, junto com as sensações vividas no momento ocorrido ou nos momentos revividos. "Vou mostrar para seus filhos e quem sabe seus netos." Ele riu e não contestou. Concordou em continuar sob minha guarda até porque confessou que esse tipo de coisa só tem graça porque não está sempre à vista.

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