(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas COLUNA

Imagens tortas, monstruosas ou idealizadas com base no que desejamos viver

A reflexão que levanto é quanto ao hábito que temos de fazer juízos de valor sem sentido e deixar que eles balizem nossos passos


27/02/2022 04:00 - atualizado 27/02/2022 08:23

Ilustração
(foto: Pixabay)

 
Quando criança, eu morria de medo de ser mandada para um colégio interno. Isso nunca foi uma possibilidade, muito menos uma ameaça real. Não conhecia nenhuma escola nesta modalidade, nem uma criança que nelas estivesse matriculada.
 
Tudo não passava de especulação, com base no que eu imaginava acontecer dentro de seus limites, o que, por sua vez, tinha base no que eu via em filmes a que assistia na TV e estórias cujo objetivo era aterrorizar e doutrinar as crianças "levadas", perfil no qual eu não me via encaixada. Meus pais nunca disseram que se eu não me comportasse esse seria meu fim.
 
Ainda assim eu tinha medo. Não conseguia me imaginar vivendo longe de meus pais e irmãos, do cotidiano em família, do ir e voltar para a escola todos os dias, por mais que o tempo em que eu passasse lá pudesse ser muito prazeroso. Escola era lugar de encontrar os colegas e colegas não podiam suprir a afetividade que cabia à família.
 
Adorava ir para o colégio, o que não queria dizer que o estudo em si fosse meu forte. Eu era muito tímida, bem longe do tipo popular de circulação fácil entre todas as tribos. Era do tipo simples, descomplicada, obediente, e não conseguia entender como alguém poderia viver dentro da escola como se fosse sua casa. Só se fosse castigo, consequência de um erro muito grave, quase irremediável.
 
Quando ouvia a mãe de uma amiga contar que tinha frequentado uma escola interna, onde se divertiu muito e aprontou a ponto de ser "de fato e com razão" castigada pela diretora, eu ficava ainda mais confusa, já que imaginava que o abandono era o que mantinha este tipo de instituição. Ou a família desejava abandonar a criança ou a criança estava abandonando a vida.
 
Ao mesmo tempo, eu tinha colegas vindas do interior que viviam separadas da família. Não sei se mito, realidade ou demonstrativo de status e poder, na época se acreditava que educação de qualidade só se encontrava na capital. Então, os pais mantinham a distância suas filhas  (quando criança, estudei em escolas para meninas) sob a tutela de governantas. Já assim eu não considerava abandono, por mais que os pais raramente viessem vê-las ou elas a eles.
 
Muitas vezes, criamos imagens monstruosas ou idealizadas com base no que desejamos viver ou acreditamos ser o melhor para todos sob óticas infantis e cegas. Não que hoje eu defenda a proliferação e muito menos a extinção desse tipo de instituição. A reflexão que levanto é quanto ao hábito que temos de fazer juízos de valor sem sentido e deixar que eles balizem nossos passos, nossos medos e anseios.  Muitas vezes, nos posicionamos em discussões calorosas como se fôssemos os donos da verdade, quando até a verdade é mutável, temporal e uma questão de ponto de vista.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)