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Estado de Minas Comportamento

O que faço?

'Tomei rapidamente meu rumo sem olhar para trás'


13/02/2022 04:00

Guarulhos
Aeroporto internacional de Guarulhos (foto: Divulgação/Cumbica)

 
Recentemente, estava no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, e decidi pegar um ônibus que transporta os passageiros de um terminal ao outro e de lá segue até a estação de trem mais próxima, através da qual se chega ao metrô. Eu tinha o dia todo até que meu voo partisse e decidi fazer o trajeto para passar o tempo e visitar alguns locais na região da Avenida Paulista.
Enquanto aguardava o ônibus, se aproximou de mim uma senhora de origem asiática com dificuldades em falar português. A dúvida dela era exatamente cono chegar ao metrô. Pedi que acompanhasse meus passos, pois aquele também era meu objetivo. Era uma mulher de estatura baixa, magra, miúda puxando uma mala enorme. Seu corpo aparentemente frágil somado à sua idade me fizeram tentar auxiliá-la a subir o degrau e a colocar a mala dentro do ônibus.
 
Porém fui logo impedida por ela. Pelo que pude perceber, ela temia ter seus pertences roubados. Me restou assistir à cena atenta, sem poder interferir. Indiquei a ela quando chegou a hora de descermos e fiquei aguardando-a no final dos degraus para poder instruí-la sobre qual caminho tomar até a entrada da estação. Continuei percebendo por parte dela um certo receio, o que foi confirmado quando pela última vez tentei ajudar com o transporte da mala em meio aos buracos no percurso.
 
Decidi então me separar dela, que já começava a demonstrar sinais de tensão, não sem antes apontar o elevador. Eu segui pela escada rolante. De lá tomei rapidamente meu rumo sem olhar para trás, lamentando o fato de que com minha ajuda ela certamente chegaria mais rápido e com mais segurança. Mas que garantias ela tinha? Nenhuma. O fato de ter me feito uma pergunta lá no ponto de partida e ter sido atendida com solicitude por mim, muito pouco diz a meu respeito. Melhor, então, ficar na retranca e ir perguntando aqui e ali, creio ter sido a conclusão da senhora.
 
Pude experimentar duas sensações bem claras que se inter-relacionam. A primeira diz respeito a ser vista como alguém que deseja se aproveitar da fragilidade de um vulnerável e a segunda ser vítima da generalização de que no Brasil todos têm más intenções. Imagino o quanto aquela senhora deva ter sido alertada por seus familiares sobre a violência de toda espécie que sabemos ser realmente alarmante em nossa terra.
 
Apesar de não ter me sentido vítima de preconceito, as atitudes daquela senhora me fizeram refletir sobre o que sofrem aqueles cuja linguagem, pele, roupa, cabelo e outras características e marcas corporais e comportamentais não estão entre as identificadas socialmente como sendo de "gente de bem" ou "gente do bem". É esse prejulgamento é que ajuda a alimentar as aberrações e atrocidades cometidas através de violência verbal ou física, como as que temos visto ocorrer com pessoas que não se encaixam nos ultrapassados e ultrajantes  parâmetros de honestidade.
 
O que faço para manter esse status? é a pergunta que deveríamos nos fazer diariamente ao acordar. Se quiséssemos realmente saber as respostas, ao nos deitar as teremos. E caso estivéssemos preocupados em ser de fato sinceros conosco mesmos, o "não faço nada" não estaria entre elas.

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