(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Comportamento

Por trás das aparências

'A vida está sempre nos pregando peças'


14/02/2021 04:00

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

 
Meu marido deixou a carteira cair no chão no Centro da cidade, na região do Barro Preto, e quando se deu conta voltou na loja onde tinha feito a última compra. O vendedor contou que muita gente viu quando um rapaz pegou uma carteira no chão e entrou correndo dentro de um carro que parou para levá-lo.
 
Boletim de ocorrência, cancelamento de cartão, pouco dinheiro perdido, ou melhor, roubado, concluímos. O coitado do marido teve que ouvir de todo mundo que não se colocam valores no bolso de trás da calça e que é preciso tomar mais cuidado; afinal, moramos numa terra onde cada um só quer furar o olho do outro.
 
Surpresa teve ele um dia depois ao receber o telefonema da gerente de uma das agências do banco onde é correntista dizendo que um de seus clientes estava de posse da carteira e desejava devolvê-la a quem era de direito. Conexão feita entre os dois, lá foi meu marido ao encontro do benfeitor. Bairro distante do centro, simples, de casas e barracos pequenos ouviu do senhor toda a história.
O rapaz que vende açaí na esquina de uma das ruas do Barro Preto, chamara um uber para ir embora para casa quando ouviu alguém gritando: “oba, pega essa carteira aí, eu quero essa carteira pra mim”. Macaco veio que é, sabia que aquela carteira estava prestes a cair em mãos erradas e a pegou no chão, pensando que em algum momento conseguiria faze-la chegar às mãos do distraído que a perdera.
 
O motorista do uber, percebendo toda a manobra, fez a seguinte proposta: “Veja quanto tem aí de dinheiro e vamos dividir”. O vendedor de açaí respondeu prontamente: “Claro que não. Primeiro porque o dinheiro tem dono e não sou eu nem você. Segundo porque estou pagando a corrida do uber e não tenho que te dar nem um centavo a mais”.
 
Chegando em casa, chamou o vidraceiro que mora no barraco da frente e perguntou o que eles poderiam fazer. Nessa hora, abriram a carteira atrás de algo que pudesse identificar o dono. “O cartão de crédito é do mesmo banco onde tenho conta”, disse o vidraceiro. Foi aí que a gerente entrou na história e o círculo se fechou.
 
Nem um dos dois benfeitores aceitou recompensa; afinal, acreditam que não é justo nem ético fazer da honestidade um comércio. Do lado de cá, combinamos que agora vamos comer açaí todas as vezes que formos ao Barro Preto ou redondezas. Afinal, isto sim é um comércio que merece ser estimulado.
 
A vida está sempre nos pregando peças e adoro quando os finais das histórias me surpreendem por serem completamente diferentes daqueles que eu imaginava. Estamos tão acostumados a ouvir e a contar casos que tiveram desfechos ruins que nos esquecemos de que nem tudo está perdido e nem sempre as coisas são o que parecem.
Ainda bem!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)