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Estado de Minas Comportamento

Até logo, amigo!

'Deviamos ajudá-lo a partir'


24/01/2021 04:00 - atualizado 24/01/2021 19:04

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

 
Como se despede de alguém a quem se ama e que a princípio está partindo prema -turamente desta vida? Tarefa difícil. Até então havia me despedido de duas grandes amigas com as quais convivi desde a infância. Mas o que as levou foram males que se arrastaram por anos, nos dando a chance de conviver intensamente na saúde e na doença, fazendo com que no final pudéssemos rir e chorar juntas, filosofar sobre o sentido da vida e da morte. E aos poucos elas se foram, aos poucos nos dizemos adeus.
 
Mas desta vez fui pega de surpresa. Um dos membros de nossa “turma família”, como a apelidamos logo que montamos nosso grupo de WhatsApp, foi internado, entubado e em menos de um mês acabou sendo levado por complicações decorrentes da Covid. Enquanto ele lutava, tínhamos informações sobre tudo o que estava ocorrendo, a evolução do quadro, os altos e baixos, as esperanças.
 
Rezávamos e desejávamos a melhora dele, já imaginando que, logo que saísse dessa, íamos esvaziar as adegas repletas de bons vinhos que sempre bebemos com ou sem motivo. E, logo que pudéssemos, iríamos voltar a viajar, todo mundo junto e misturado, como vínhamos fazendo há quase quatro décadas.
 
Até que chegou o momento em que percebemos que deveríamos mudar o tom de nossos desejos e auxiliá-lo a partir. Foi quando decidimos fazer orações todos na mesma hora do dia e da noite, cada um em seu canto, vibrando juntos por ele. E demos início a algo difícil com o qual temos muito a aprender: o desapego.  Nosso desapego às pessoas e à vida.
 
Sim, precisamos assumir que um dia nossos amigos morrem e que um dia morreremos. Que seja então da forma mais positiva possível. O que não quer dizer sem dores, sem sofrimentos físicos, pois muitas vezes não há como deles escapar. Mas em paz! E foi assim que cada um de nós se despediu dele.
 
Costumo recitar o refrão da Canção da América, de Milton Nascimento, que diz: “Qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar, qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar”, pois tenho certeza disso. Quando cultivamos bons sentimentos entre um e outro, somos capazes rir e chorar separados como fazíamos quando juntos.
 
E assim desenvolvemos a capacidade de transformar as despedidas em momentos mágicos. Esse foi o legado do Marcelão. Enquanto se preparava para partir, nos ensinou a pedir. Pedir por tempos mais tranquilos, por força e coragem para buscar o que de fato tem valor, pois quando ele se permitiu partir, tenho certeza de que foram esses sentimentos que o ajudaram a se desapegar da vida que não pulsava mais deste lado de cá.
 
A cada dia, um de nós desenterra e publica no grupo fotos de tempos remotos ou recentes nas quais o que mais me chama a atenção é a áurea de alegria e confiança que permeiam as verdadeiras amizades, sempre fadadas a serem infinitas, “mesmo que tempo e a distância digam não”.

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