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Estado de Minas Comportamento

A maioria mora em abrigos

Outra experiência junto a refugiados%u2019


13/12/2020 04:00

(foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil/Divulgacao)
(foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil/Divulgacao)

 
Cheguei a Boa Vista, Roraima, no sábado, no início da tarde. Minha viagem começou em Confins, desci em Campinas, depois em Manaus, e mais um voo me trouxe a esta que é a única capital brasileira localizada totalmente ao norte da linha do Equador. Não preciso dizer que o calor aqui é escaldante, úmido, e qualquer atividade que se faça ao ar livre produz uma suadeira enorme.
 
Me disseram que aqui pousam dois voos comerciais por dia – um vindo de Manaus e outro de Campinas, o que creio ajude a explicar por que o comercio é tão restrito como é. Não que faltem itens, apenas a diversidade é muito pequena. Acredita que um brócolis ninja custa em média R$ 25? Itens básicos de costura, como linha e agulha, são encontrados, mas de um só padrão e tama- nho.
A cidade foi planejada e tem ruas e avenidas largas. Trânsito bom, mesmo em horários de pico, e motoristas sem muita pressa, o que me beneficia, pois meu meio de transporte tem sido uma bicicleta. Nunca vi cidade tão plana, não há uma única subida, o que causa estranheza aos mineiros, acostumados ao constante sobe e desce.
 
Estou aqui, como adiantei domingo passado, implantando uma oficina de costura para refugiados venezuelanos. O exército brasileiro atua em conjunto com a Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados), que por sua vez tem a Fraternidade Sem Fronteiras como parceira em várias frentes, como o caso do Espaço Emergencial 13 de setembro, onde estou trabalhando como voluntária.
As coisas aqui são organizadas. Ao contrário do que muita gente imagina, e era comum quando do início da chegada deles, não se veem refugiados acampados para todos os lados. Esta tranquilidade pode se explicar, em parte, porque as fronteiras estão fechadas devido à COVID. Mas me disseram que as cidades venezuelanas mais próximas da fronteira estão cheias de pessoas esperando apenas o Brasil reabrir suas portas.
 
Os que aqui já estão, em sua maioria moram em abrigos, mas há também os que vivem em ocupações espontâneas, que conhecemos como invasões. Normalmente, exército e Acnur tentam remover os que vivem em invasões, convidando-os a ir para os abrigos, mas muitos não querem. Afinal, há regras a serem seguidas, nada de droga, prostituição e qualquer tipo de violência.
 
Há um enorme esforço para interiorizar os que vivem nos abrigos, espalhando-os Brasil adentro. Eles ficam em média de três meses a um ano até serem alocados. Claro que existem aqueles que não querem sair de perto da fronteira, pois do outro lado estão seus familiares, os que temem não se adaptar, ou mesmo os que têm preguiça de enfrentar tudo o que uma nova vida lhes impõe.
Imagino o quão difícil deva ter sido decidir deixar seu país até chegar aqui. Também não deve ser decisão fácil, descer ainda mais ao sul. Mas como não me cabe julgar ninguém, ensino os primeiros passos da costura a quem quiser aprender, elas em sua tota- lidade. Eles se recusam, pois acreditam que costura seja coisa de mulher.
 
São muitas as crianças. Elas estão para todos os lados, o que ajuda a alegrar o ambiente, pois nada melhor que esses pequenos para nos divertir com suas brincadeiras, perguntas sinceras e curiosidades. E eles aparecem em pencas acompanhando suas mães, que chegam cheias de vontade de aprender um ofício que lhes sirva de diversão, num momento de vida no qual impera a ociosidade, ou que de fato seja o primeiro passo para a profissionalização.

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