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Ouvir contar

Hoje, tentando voltar à normalidade, muita gente, cansada com tantas perguntas sem respostas, diz que passou a agir como se o vírus não existisse


08/11/2020 04:00 - atualizado 06/11/2020 11:33


Ainda havia medo nos rostos das pessoas e dentro das casas entre as ruelas de Jerusalém no primeiro dia da semana em que Jesus ressuscitou. Estando reunidos a portas fechadas, Ele se põe entre os discípulos desejando paz.

Oito dias depois, agora Tomé estando presente, Jesus novamente se põe entre eles e convoca Tomé, que duvidava da ressurreição, para colocar a mão em suas chagas.

Afinal, onde andava Tomé, que não estava entre os discípulos na primeira aparição? São Gregório responde: “Julgais que aquele discípulo estivesse ausente, que ao voltar ouvisse contar, que ao ouvir duvidasse, que ao duvidar tocasse e que ao tocar acreditasse?

Tudo isso não aconteceu por acaso, mas por disposição da providência divina. A bondade atuou de modo admirável a fim de que aquele discípulo que duvidara, ao tocar as feridas do corpo do Mestre, curasse as feridas da nossa incredulidade. Mais proveitosa foi para a nossa fé a incredulidade de Tomé do que a fé dos discípulos”.
 
Embora Cristo tivesse avisado que voltaria, os discípulos custaram a entender a ressurreição e reagiram mostrando medo. Talvez porque temessem que também fossem presos pelo sinédrio ou pelos guardas romanos, talvez porque fossem gente simples, incapazes de entender algo para o qual não tinham explicações.

Estavam diante de um fenômeno totalmente novo para eles, ultrapassando o horizonte das suas experiências. O que era ressurreição? Se nunca tinham visto, então não existia. Mas não. No encontro com Jesus foram conquistados pela nova realidade.

Saindo da história sagrada, vamos para a Inglaterra do século 17, quando se acreditava que todos os cisnes eram brancos, porque se todo mundo só conhecia cisne branco, então não existia de outra cor.

Até que um europeu chega na desconhecida Austrália e vê deslizando sobre os mares lindos cisnes negros, jogando por terra a crença na impossibilidade da existência de cisnes negros.

Como se diz popularmente nos círculos científicos e filosóficos, “ausência de evidência não é evidência de ausência”. Deve ter sido uma surpresa e tanto naquela época, pois “cisne negro” acabou virando uma expressão popularizada pelo escritor e matemático líbano-americano Nassim Nicholas Taleb, autor de A lógica do cisne negro. Hoje, no mundo das finanças, se alguém fala que uma coisa foi um cisne negro significa que foi pego de surpresa por algo impactante.

Bem, o coronavírus não foi um cisne negro – ou foi?. Durante uma palestra, em 2015, Bill Gates já dizia que o maior risco de uma catástrofe global teria a aparência de um coronavírus. “Se alguma coisa vai matar mais de 10 milhões de pessoas nas próximas décadas, o mais provável é que seja um vírus altamente infeccioso”, disse.

A comunidade científica trocava informações sobre o assunto há bastante tempo, mas em janeiro deste ano, em Davos, quando um participante do Fórum Mundial que voltava de Cingapura tentou alertar sobre o tema, não lhe deram atenção.

E aconteceu: fomos todos empurrados para o abismo, a partir de março, aqui no Brasil. Nosso cisne negro não tem a plumagem sedosa, não desliza pelas águas, nem tem longos pescoços e patas curtas. Mas ele existia, e como não o conhecíamos, o ignoramos.

Hoje, tentando voltar à normalidade, muita gente, cansada com tantas perguntas sem respostas, diz que passou a agir como se o vírus não existisse. Taleb afirma que “a lógica do cisne negro torna o que você não sabe mais relevante do que aquilo que você sabe” justamente por ser inesperado.

Que novos cisnes negros nos esperam? Que realidades inimagináveis estão por vir? Até quando medidas de emergência se tornarão hábitos de vida?

Hora de voltar ao princípio deste capítulo, lembrando Tomé. “Ouvir contar, ao ouvir duvidar, ao duvidar tocar e ao tocar acreditar.” É com a fé que vamos curar as feridas de nossa incredulidade, ter forças para sair da casa com portas trancadas e andar destemidos pelas ruelas de Jerusalém.

É com a fé que tornamos a ressurreição tão real como a cruz. Deixemos os cisnes brancos e negros deslizarem em paz sobre as águas.

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