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Quem vai ocupar os primeiros lugares

Agora, não é ceder o lugar para quem é mais importante, tem mais títulos, mais conhecimento. É dar o lugar para o mais fragilizado, o mais necessitado, o mais desprotegido


05/07/2020 04:00 - atualizado 04/07/2020 12:16




Há mais de dois mil anos Jesus pregou: “Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e aquele que convidou a ti e a ele venha dizer-te: ‘Cede o lugar a este’. Então irás com vergonha ocupar o último lugar”.

Mas logo os discípulos já disputavam qual deles era o maior, recebendo outro puxão de orelha: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último”. Para logo adiante os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, pedirem ao Mestre que um se assentasse à sua direita e outro à esquerda quando estivessem na “glória”.

Se naquele tempo já havia essa necessidade de ser o primeiro, o maior, o que está à direita ou à esquerda, a situação veio complicando. Hoje, há uma parte do mundo que só quer ser o mais rico, o mais forte, o mais poderoso, o mais fotografado, o mais seguido. Ficar em cima do tablado e sob os holofotes, a humildade guardada no escaninho.

E, vejam só,  nesta era em que se cultua a imagem e as opiniões nas redes sociais, onde todo mundo posta,  alegre ou indignado, em que as opiniões digitais gritam suas exclamações por aí, os católicos reverenciam a figura de um homem que não diz uma só palavra em toda a história sagrada.

Nesse tempo de muita ilusão e pouca essência, em que muitos dormem sem remorso e acordam sem culpa, é o marido de Maria, o bom José, um dos mais admirados santos da Igreja.

Parece que as pessoas adoram a sua nobreza de sentimentos e gostariam de fazer o que ele fazia. Mas só José fez tudo o que Deus queria. Obediente, escondido do mundo, quase imperceptível, cumpriu sua missão e sumiu no silêncio.

Jesus não deu uma aula de etiqueta naquele dia. Não era um cerimonialista à volta com as normas de precedência, o livro que, para não provocar ciúmes entre autoridades, tem suas regras de quem deve se sentar no centro da mesa, ao lado direito do presidente, no lado esquerdo do prefeito.

Cristo aceitava com frequência convites de várias pessoas para comer em sua casa. Nessa passagem, o Mestre é recebido na casa de um dos principais fariseus da cidade. Movido pelo desejo de salvar todos, sem se importar com a opinião pública, mesmo conhecendo a malícia dos fariseus, Ele vê os convidados escolhendo os primeiros lugares e conta a parábola ambientada em um casamento.

Prega para todas as gerações a humildade, encerrando com o famoso versículo “pois todo o que se exaltar será humilhado, e o que se humilhar será exaltado”. Ser convidado pelo anfitrião a ocupar um lugar melhor é, com certeza, muito mais agradável do que ocupar um lugar indevido e ter que deixá-lo, momento constrangedor que ninguém quer vivenciar.

Enquanto o mundo distraído insistia em disputar os primeiros lugares, um inimigo invisível se instalou entre nós e estabeleceu um novo protocolo de convivência, custe o que custar, doa a quem doer.  Não estamos mais na casa do fariseu, mas em uma longa procissão a céu aberto, todos aprendizes de um novo tempo.

Quem está na frente e atrás de mim participa da mesma dignidade. Um bom tempo para reler o Antigo Testamento e ver quantas vezes Deus escolheu os mais improváveis, os que pareciam ter menos chances.

Agora, não é ceder o lugar para quem é mais importante, tem mais títulos, mais conhecimento. É dar o lugar para o mais fragilizado, o mais necessitado, o mais desprotegido. Colocar a virtude da paciência na nossa pressa.

Exercer a compaixão. Realizar ações individuais que resultem em benefício coletivo, praticando o que os economistas chamam de “externalidade positiva” – proteger os outros. Mudar os hábitos e até mesmo se mudar para beneficiar o outro. Mais ajudar e menos se satisfazer.

Já deixamos o outono, entramos no inverno e a pandemia não passa, mostrando que no depois nada será como antes. Cresce o número de pessoas que necessitam ser consoladas, aumentam os casos de depressão, as lágrimas estão mais incontroláveis. Precisamos descobrir qual parte nos cabe no milagre. Ser o bom José. Tentar fazer pelo outro como José faria.

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