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Hoje é Páscoa: "O importante é celebrar a vida e não alimentar o rancor"

Data é passagem para uma nova vida e oportunidade de celebrar a nova dimensão da realidade apresentada pelo Cristo ressuscitado


postado em 12/04/2020 04:00 / atualizado em 12/04/2020 09:06




Em Jerusalém, passada a crucificação e depois de guardar o silêncio prescrito pela festa e as dores de sábado, antes do amanhecer de domingo, Maria Madalena se dirige ao sepulcro de Jesus e vê a pedra removida – um acontecimento totalmente fora do horizonte de sua compreensão. Ela vai às pressas avisar aos discípulos. Já raiou o sol quando João, mais novo e mais ágil, chega ao túmulo de Cristo, mas por deferência à posição de Pedro, espera para que ele entre primeiro.

As faixas de linho se encontram no chão e o pano que tinha coberto a cabeça de Jesus está dobrado (enrolado) em lugar à parte e não jogado às pressas, descartando a hipótese de que o corpo tivesse sido roubado. A sepultura não fora violada, a impressão é que Cristo calmamente levantou e saiu. Deve ter havido ali alegria e medo entre eles, troca de olhares, vontade de explodir de alegria, mas a compreensão total ainda não havia chegado aos corações. Como capacitar-se para  acontecimento tão extraordinário?

Os discípulos voltam para casa e se trancam juntos a portas fechadas. Afinal, não tinha sido uma figura heroica que brilhara entre seus seguidores, mas a fraqueza (Ele não tinha bradado na cruz: “Meu Deus, por que me abandonaste?”). Pedro e João só atravessam correndo a paisagem pastoral debaixo daquele resplandecente amanhecer de domingo porque algo realmente extraordinário acontecera: a notícia de que o derrotado líder ressuscitara dos mortos.

É esta gloriosa ressurreição, realidade central da fé católica, que é celebrada neste domingo de Páscoa, maior festa do ano litúrgico, pois além de marcar o início de uma nova vida, tem importância fundamental no mundo ocidental. É dela que depende a fixação das festas móveis do calendário, todas decorrendo do cálculo que estabelece o domingo da Páscoa de cada ano, ligado ao equinócio da primavera no hemisfério norte. Conhecendo-se a data da Páscoa sabe-se a de outras datas móveis, como o domingo de carnaval, 49 dias antes, e a quarta-feira de Cinzas, 46 dias antes.

Uma perplexa Maria Madalena, ainda no túmulo vazio, recebe a visita de dois homens que perguntam: “Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?”. O que nos traz lá de mais de dois mil anos atrás aos dias de hoje para nos fazer a mesma pergunta: por que procuramos no ontem ou no passado respostas para nossos medos, ansiedades, dificuldades?. Por que ficamos chorando em volta do túmulo vazio e não vamos logo aproveitar a companhia da Ressurreição e da Vida?

Enchemos as gavetas da grande cômoda da vida com minúsculas misérias de cada dia, cálices transbordando de mágoas, uns ressentimentos misturando-se com os outros, transformando cicatrizes em novas feridas. “Pastoreando rancores”, como diz Gabriel Garcia Marquez. Um bom exemplo disso é o dos israelitas, que, na peregrinação pelo deserto, cansados de comer o insosso maná caído do céu, começam a murmurar, sentindo saudades das cebolas que comiam de graça no Egito. Como sentir saudades da opressão, da escravidão do Nilo, do faraó? Pois é.

Mas hoje é domingo de Páscoa, passagem para uma nova vida, data para celebrar a nova dimensão da realidade apresentada pelo Cristo ressuscitado. Um bom dia para lembrar Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco, sobrevivente de quatro campos de concentração nazistas. Autor de vários livros, ele mostra como é possível dizer sim à vida apesar dos acontecimentos trágicos da existência humana. De um terrível passado, retirou doses de otimismo para temperar a vida. Afirma que quem ressignificou cada momento vivido naquele horror fez toda a diferença.

Atualmente, o mundo vive uma pandemia e, no Brasil, estamos na fase do recolhimento. Está sendo difícil? Está. Mas ajuda se mudarmos a pergunta. Ao invés de “por que”, nos perguntar “para quê?”, nos preparando, neste momento de escondimento,  para deixar as faixas de linho no chão e sair para a radiosa manhã sem o temor de viver. Ressignificar a vida lembrando que ninguém nasceu em vão. O que foi criado vai chegar ao fim e o fim ressuscitará. Fomos semeados para florescer.

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