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Estado de Minas MUNDO STARTUP

"Habilidades humanas são essenciais na era da tecnologia"

Entrevistei a Jackie de Botton, cofundadora da The School Of Life - organização global cuja missão é ensinar inteligência emocional a adultos


20/12/2023 10:31
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Jackie de Botton, cofundadora da The School Of Life
Jackie de Botton, cofundadora da The School Of Life (foto: Divulgação)

 
O Brasil é líder mundial em prevalência de transtornos de ansiedade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e dentro do universo startupeiro, não é incomum a paixão pelo negócio levar a transtornos mentais e esgotamento mental de fundadores e colaboradores. Já escrevi sobre o tema na Startse e também na Folha de S.Paulo quando me deparava com CEOs completamente exaustos, com quadros crônicos de insônia e aparência literalmente de zumbis. Desta vez, trago aqui uma grande especialista para falar sobre autoconhecimento e saúde mental.


Entrevistei a Jackie de Botton, cofundadora da The School Of Life - organização global cuja missão é ensinar inteligência emocional a adultos. Sediada em São Paulo, a filial do Brasil trabalha, desde 2013, com um público que busca explorar as questões fundamentais da vida em torno de temas como amor, sociedade, família, relacionamentos e, principalmente, o autoconhecimento.


Para Jackie, o autoconhecimento é fundamental para que possamos viver uma vida autêntica, para saber de que forma somos um pouco loucos e para suportar tudo o que teremos que abrir mão para irmos em determinada direção. Empreender no Brasil não é para amadores. Tudo joga contra e ao mesmo tempo, tudo está a favor. Confira esta entrevista EXCLUSIVA com a fundadora:



 Hoje vivemos uma crise de saúde mental. O Brasil é o país mais ansioso do mundo e com muitos casos de burnout. No universo das startups não é diferente. Existem muitos CEOs, líderes e colaboradores que estão completamente esgotados. De que maneira o autoconhecimento ajuda a pessoa a evitar chegar nesse limite?


Jackie de Botton - O autoconhecimento é muito importante porque nos ajuda a ter uma noção exata do que precisamos para nos sentirmos mais satisfeitos. Ele é a base da inteligência emocional, o que pavimenta a estrada da nossa consciência. É nele que podemos ancorar todas as nossas habilidades emocionais. Com ele podemos fazer escolhas mais sábias em todas as esferas da vida. Pessoas altamente conscientes refletem mais sobre os próprios pensamentos e as atitudes do outro, cientes do quanto todos nós somos influenciados pela parte inconsciente da mente.


A educação emocional deveria começar na infância? Como pais podem auxiliar seus filhos desde pequenos para um mundo cada vez mais volátil e incerto?


Jackie de Botton - Sim. Quanto mais cedo uma pessoa entra em contato com suas emoções, mais cedo ela sabe que ninguém é normal. Se quisermos auxiliar nossos filhos devemos começar por um maior conhecimento de quem somos, do autoconhecimento. Só quando nos conhecemos melhor conseguimos fazer melhores escolhas – principalmente nos relacionamentos e no trabalho -  e isso não é diferente para uma relação com os filhos. Ensinar a partir de uma ação, daquilo que somos e fazemos, de como lidamos com nossos sentimentos é muito mais eficaz. Consultando a história humana, existem períodos em que o mundo foi ainda mais volátil e incerto. O que faz a diferença está dentro de nós: nossa capacidade de desenvolver as habilidades necessárias para lidar com esses desafios, a resiliência, a paciência, o humor. Essas habilidades podem ser desenvolvidas de diversas maneiras, a partir da literatura e da arte, mas por trás está a capacidade de estabelecer e manter conexões genuínas e constantes com outras pessoas, além de um senso de comunidade.
 
Qual o grande propósito da The School Of Life e por que a decisão de ter uma unidade no Brasil?


Jackie de Botton - No centro de tudo o que fazemos está o desejo de ajudar as pessoas a viverem uma vida mais plena, autêntica e melhor. É uma longa história, mas desde que a The School of Life foi fundada em Londres, em 2008, os brasileiros, juntamente com os holandeses, australianos e sul coreanos, foram os que mais procuram a escola. Em 2012, quando o Alain de Botton veio ao Brasil para o lançamento do livro “Religião para Ateus”, estivemos juntos no Rio de Janeiro e montei uma agenda para ele ter uma experiência verdadeiramente brasileira: fomos ao complexo do Alemão, aos monumentos do Niemeyer, à famosa igreja de São Francisco. Então, no final, quando nos despedimos, ele perguntou: "Jackie, lets go on a life adventure, lets open The School of Life in Brasil". Quem diz não para uma aventura?
 
De que maneira a pandemia fez os brasileiros buscarem mais apoio emocional? Quais são os cursos mais buscados na escola de vocês?


Jackie de Botton - Existe a pandemia do vírus do Covid e uma outra pandemia que surgiu durante os meses de quarentena que é a de saúde mental. Além de aulas de desenvolvimento humano, desenvolvemos uma série de cursos e programas para auxiliar pessoas e empresas com questões de saúde mental: como identificar a depressão, como manter a mente sã, a importância de uma cartilha de autocuidado e como identificar os primeiros sinais de burnout, são alguns exemplos dessas experiências em formato de workshop.
 
Como adquirir autocontrole e autogerenciamento numa era em que somos todos dependentes digitais?


Jackie de Botton - Com o autoconhecimento, com uma noção constante de quem somos, fazendo diários, pedindo ajuda de nossos amigos e colegas mais íntimos, balanceando qualquer tipo de pensamento e atividade online com exercícios físicos e com uma tentativa de estar mais próximos da natureza. Não precisa ir à praia todos os dias, basta olhar para o céu e contemplar as nuvens e as estrelas, ler, não nos esquecer que somos seres gregários – vivemos em grupo no coletivo. Manter nossa sanidade para adquirir uma melhor forma de nos autogerir requer constância, disciplina e metodologia – que não precisa ser pedante ou prescritiva, existem tantas formas de nos autorregularmos sem sermos ou ficarmos chatos. Mas essa rotina  vai ter que acontecer para o resto de nossas vidas.


Por outro lado, de que maneira a tecnologia pode nos ajudar? Vocês oferecem cursos e dinâmicas online, correto?


Jackie de Botton - A tecnologia não vai desaparecer, ela só vai aumentar – e em diversos casos nos ajudar – na rapidez com que conseguimos fazer uma pesquisa de preços, com a possibilidade de nos locomover em quase qualquer lugar do mundo sem nos perder, fazer pagamentos na praia por pix e ter acesso às mais exuberantes bibliotecas do mundo. É nossa habilidade humana que precisa se adequar a ela – seja impondo limites, desenvolvendo a resiliência ou a paciência
 
Se você se encontrasse consigo mesma quando ainda adolescente. O que diria?


Jackie de Botton - Nossa, diria tantas coisas – mas talvez a principal seria para ter mais calma, para apreciar cada minuto da vida. A vida é longa mas ela passa muito rápido
 

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