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Estado de Minas Entre Linhas

Israel x Hamas: Notícias de uma guerra que chega até nós

''Israel vive drama: continuar sendo um Estado judeu e deixar de ser democracia liberal, ou se tornar democracia multiétnica e deixar de ser Estado judeu''


01/11/2023 04:00
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Campo de concentração de Auschwitz, onde judeus fora exterminados por nazistas
Campo de concentração de Auschwitz, onde judeus fora exterminados por nazistas (foto: Wojtek RADWANSKI/AFP)

Uma das coisas mais tenebrosas que conheci foram os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, na Polônia, designados pelo regime nazista de Adolph Hitler como o lugar para a “Solução Final” para os judeus. Entre o começo de 1942 e o fim de 1944, homens, mulheres, crianças e anciãos de toda a Europa foram transportados em trens para serem eliminados em câmaras de gás e crematórios naquele complexo macabro. Cerca de 1,3 milhão a 3 milhões de prisioneiros foram ali exterminados, sendo 90% judeus. Cerca de 150 mil poloneses, 23 mil ciganos, 15 mil soldados soviéticos e 400 testemunhas de Jeová também foram executados ou morreram de fome, doenças ou em experiências médicas.

Tudo o que já havia visto sobre o Holocausto, em fotos, vídeos e filmes, nem se compara à experiência tenebrosa da visita ao local. O maior espanto é constatar como a racionalidade humana é capaz de banalizar o mal. Por isso mesmo, não estranhei a reação de Dani Dayan, presidente do Centro para a Memória do Holocausto de Israel, ao criticar o uso da Estrela Amarela pelos diplomatas de seu país na reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), na segunda-feira passada: “O emblema amarelo simboliza o desamparo do povo judeu, e hoje temos um país independente e um exército forte, somos mestres do nosso próprio destino. Hoje, deveríamos colocar um botton de bandeira branca na lapela, não um emblema amarelo”, disse ele, sobre o uso indevido da Estrela de Davi.

Ao ostentar a estrela amarela na lapela com o slogan “Nunca Mais”, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, afirmara que era um símbolo de orgulho e uma forma de lembrar que eles juraram se defender, e que o antissemitismo e o ódio aos judeus estão crescendo pelo mundo. No regime nazista na Alemanha e nos países ocupados na Segunda Guerra Mundial, todos os judeus foram obrigados a usar uma estrela amarela costurada na roupa para serem identificados; depois, nos campos de concentração, foram numerados com uma tatuagem no braço.

Era uma remissão ao Holocausto, por causa do ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro, no qual 1.400 pessoas foram assassinadas e 250 foram sequestradas em Israel. A retaliação ao Hamas por Israel é legitimada perante a opinião pública mundial não somente com a narratiiva da luta contra o terrorismo, mas também com a memória dos fatos que mais mexem com corações e mentes dos judeus de todo o mundo, inclusive aqui no Brasil: os campos de extermínio nazistas.

Lideranças incompetentes


Em contrapartida, o repúdio ao massacre de crianças, mulheres e idosos em Gaza, que somam aproximadamente 75% dos 8,5 mil palestinos mortos pelo exército de Israel, extrapola o mundo árabe e mobiliza todo o Oriente muçulmano. Tornou-se o novo epicentro da nova “guerra-fria” entre Estados Unidos e a Rússia, em lugar da guerra da Ucrânia. Não há o menor sinal de paz no horizonte. Nem mesmo um cessar-fogo humanitário, a não ser que hoje seja aprovada alguma resoluçao no Conselho de Segurança da ONU, que vive seu maior impasse. A China, que hoje assumirá a presidência do conselho, até agora foi espectadora privilegiada. Veremos qual será seu novo papel.

As notícias são muito desanimadoras. Há 240 reféns de Israel nas mãos do Hamas. O número de funcionários das Nações Unidas mortos na Faixa de Gaza aumentou para 67, segundo informação divulgada pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA). Um bombardeio no campo para refugiados na cidade de Jabalia, no norte de Gaza, deixou 50 mortos e mais de 300 feridos. O coronel Richard Hecht, porta-voz do exército de Israel, confirmou que as forças armadas do país atacaram o campo para matar um dos comandantes do Hamas. Os rebeldes Houthis do Iêmen também entraram na guerra, que acontece a mais de 1.600 quilômetros de sua sede em Sanaa, e lançaram drones e mísseis contra Israel. Continuam as escaramuças entre o Hezbollah e o Exército de Israel, na fronteira com o Líbano. Na Cisjordânia ocupada, os conflitos de rua com os soldados israelenses se intensificam.

Em 2009, o historiador britânico-judeu Tony Judt, que faleceu no ano seguinte, num artigo intitulado “O que fazer? (“Quando os fatos mudam”, Objetiva), vaticinou que a opção de deixar “mediocridades incompetentes” à frente de Israel e da Autoridade Palestina teria consequências catastróficas. “Graças ao tratamento abusivo dos palestinos pelo ‘Estado judeu’’, o imbróglio israelense/palestino é o motivo mais iminente para o ressurgimento do antissemitismo em todo o mundo. É o fator mais eficiente no recrutamento de agentes para os movimentos istâmicos radicais. E priva de um sentindo as políticas externas dos Estados Unidos e da União Europeia para uma das regiões mais delicadas e instáveis do mundo. Algo diferente precisa ser feito.”

Parea Judt, Israel vivia um drama existencial: continuar sendo um Estado judeu e deixar de ser uma democracia liberal, como propõe o primeiro-ministro Netanyahu, ou se tornar uma democracia multiétnica e deixar de ser um Estado judeu, com a anexação dos territórios palestinos ocupados. A terceira opção é empurrar os palestinos de Gaza para o deserto do Sinai e promover uma limpeza étnica nos territórios ocupados da Cisjordânia.




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