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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Barraco de Heleno na CPI evita convocação de Garnier

''O general Mentiu sobre a participação de Mauro Cid nas reuniões com os comandantes militares''


27/09/2023 04:00 - atualizado 27/09/2023 08:39
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General Heleno, ao lado do general Mourão, prestou depoimento à CPI
General Heleno, ao lado do general Mourão, prestou depoimento à CPI (foto: EVARISTO SÁ/AFP)

O barraco na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro durante o depoimento do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, ontem, evitou a discussão da convocação do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha. Segundo o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, em delação premiada, Garnier teria sido o único comandante militar a apoiar a proposta do presidente Jair Bolsonaro de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afastar o ministro Alexandre de Moraes da presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mais uma vez, a reunião da CPMI foi marcada por bate-boca entre deputados. Durante o depoimento do general Augusto Heleno, deputados e senadores bolsonaristas tumultuaram a reunião e interromperam várias vezes os parlamentares governistas. O presidente da CPMI, para controlar o plenário, chegou a expulsar o deputado Abilio Brunini (PL-MT) da sessão.

O parlamentar já havia sido advertido nas sessões passadas por fazer piadas e interromper os colegas. Ontem, interrompeu a deputada Duda Salabert (PDT-MG), que é transexual, e acabou irritando Maia, que normalmente é fleumático na condução dos trabalhos. “Tem gente que quer se promover às custas do bate-boca e da irritação. Tem gente que vem para CPMI apenas para fazer o papel do palhaço”, disse Maia.

Mas o barraco acabou protagonizado pelo próprio depoente. O general Augusto Heleno chamou a deputada Salabert de “senhor”, depois de se irritar com a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Salabert havia questionado a atuação de Heleno no Haiti, que comandou a missão de paz da ONU, a cargo do Brasil, no combate e eliminação das gangues que controlavam boa parte do território de Porto Príncipe. “Essa é uma afirmativa mentirosa. Se eu quiser, eu vou para a Justiça, processo o senhor e boto o senhor na cadeia”, declarou. No mesmo instante, Duda corrigiu o general: “É senhora”.

Com o tumulto, a reunião foi suspensa. Ao ser retomada, porém, Duda pediu a palavra e disse que o general havia se desculpado: “O general Augusto Heleno, quando eu entrei na sala, me pediu desculpas por ter me tratado no masculino”, disse.  “A Câmara dos Deputados e o Congresso Nacional não são um quartel que o general pode mandar prender quem bem entender. Aqui nós estamos no contexto de democracia e não de ditadura, a qual o senhor ajudou a construir em 1964”, completou Duda.

Foto desmente

 
O general Heleno acabou falando mais do que deveria, pois um habeas corpus lhe garantia o direito de permanecer calado. Mentiu sobre a participação de Mauro Cid nas reuniões com os comandantes militares. “Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de Força e participar da reunião. Isso é fantasia. Isso é fantasia. É a mesma coisa é essa delação premiada, ou não premiada, do Mauro Cid.. Estão apresentando trechos dessa delação e me estranha muito, porque a delação está ainda sigilosa, ninguém sabe o que o Cid falou", declarou.

Imediatamente, nas redes sociais, surgiram fotos de uma reunião de Bolsonaro, em 25 de fevereiro de 2019., com o ministro da Defesa e os chefes de Marinha, Exército e Aeronáutica, nas quais aparecem Heleno e Mauro Cid. Uma delas, publicada no site do próprio governo, desmente Heleno: “Presidente da República, Jair Bolsonaro durante encontro com durante reunião com Fernando Azevedo, ministro de Estado da Defesa; Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Júnior, comandante da Marinha do Brasil; general de Exército Edson Leal Pujol, comandante do Exército Brasileiro; tenente-brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, comandante da Aeronáutica; almirante Esq Cláudio Portugal de Viveiros, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, interino, e alte esq Almir Garnier Santos, secretário-geral do Ministério da Defesa”, diz a legenda.


Ex-comandante da Marinha, almirante Garnier, é a bola da vez na CPMI, no lugar do general Braga Neto, ex- ministro da Casa Civil e ex-candidato a vice de Bolsonaro, cujo depoimento já foi adiado duas vezes. Em tese, o ex-comandante da Marinha é um “homem ao mar”, desde segunda-feira, quando o ministro da Defesa, José Múcio, se reuniu com o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) e com os comandantes do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva e o da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, para discutir os rumos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro.

Embora tenham concluído que o depoimento de Garnier seria inevitável, a convocação do ex-comandante da Marinha não foi posta em votação pelo presidente da CPMI. Nos bastidores, o próprio governo trabalha para jogar água fria da CPMI e evitar a convocação dos ex-comandantes, porque o acirramento do confronto entre bolsonaristas e governistas dificulta a pacificação nas Forças Armadas.



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