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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Biden e Francisco recorrem a Lula para negocial com Maduro e Ortega

O presidente Lula mudou o discurso em relação aos presidentes da Venezuela, Nícolas Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega, seus amigos das horas mais difíceis


23/07/2023 04:00 - atualizado 23/07/2023 07:38
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Posicionamento de Lula no encontro dos chefes de Estado latino-americanos com os líderes da União Europeia mudou percepção dos EUA
Posicionamento de Lula no encontro dos chefes de Estado latino-americanos com os líderes da União Europeia mudou percepção dos EUA (foto: Dunand/Pool/AFP)

O título até parece fake news, mas não é. A política internacional é feita de interesses permanentes e conjunturas específicas, que se movem como as nuvens na clássica definição do banqueiro, ex-governador mineiro e ex-chanceler Magalhães Pinto: “Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. A visita ao Brasil da subsecretaria de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland, revelou uma mudança de postura do presidente Joe Biden sobre a polêmica atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à Venezuela e à Nicarágua, bem como  quanto ao esforço do líder brasileiro em participar das negociações de paz na Ucrânia para se projetar como liderança mundial.

O presidente Lula também mudou o discurso em relação aos presidentes da Venezuela,  Nícolas Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega, seus amigos das horas mais difíceis, mas que se tornaram verdadeiros ditadores, após fraudar  eleições e excluir os adversários do processo político. O posicionamento de Lula no encontro dos chefes de Estado latino-americanos com os líderes da União Europeia, em Bruxelas, em muita  sintonia com o do presidente francês Emmanuel Macron, foi interpretado como um realinhamento do governo brasileiro pelo Departamento de Estado norte-americano.

Na verdade, a estratégia diplomática do Itamaraty, cujos eixos são os interesses permanentes do Estado brasileiro e uma certa tradição de não-alinhamentos automático às potências mundiais,  acabou ofuscada pela atuação pessoal de Lula na política mundial, que está sendo marcada por declarações de improviso, muitas vezes desastradas, e suas  idiossincrasias de  líder carismático. A mais recente foi quando falou que deveríamos agradecer à África pela escravidão, cujo objetivo era lamentar, em vez de  enaltecer, como pareceu na sua mais imoprevisível gafe.

Mesmo assim, na quinta-feira passada, Victória Nuland teve longas reuniões com Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais, e a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura Rocha. Sua missão era realinhar as relações dos EUA com o Brasil em torno de interesses convergentes, principalmente depois do posicionamento de Lula e Macron em relação às eleições na Venezuela e à situação da Nicarágua, no encontro de Bruxelas.

Recados


Quais foram os recados da subsecretária de Defesa norte-americana ao governo brasileiro?

Primeiro, Biden acredita que Lula pode convencer Nicolas Maduro de que é preciso eleições limpas e transparentes na Venezuela. O fato de o Brasil  ter restabelecido as relações diplomáticas com a Venezuela criou essas condições. Mas há outra variável, os Estados Unidos também têm interesse em restabelecer as relações com a Venezuela, por causa do petróleo, principalmente depois do bloqueio econômico à Rússia, que é grande exportadora de óleo bruto.

Segundo, Lula também é visto como um interlocutor importante junto a Daniel Ortega. Simplesmente porque foi credenciado pelo Papa Francisco, na visita que o presidente brasileiro fez a Roma, para negociar a libertação dos padres católicos que estão presos na Nicarágua. Um deles é o bispo episcopal Rolando José Álvarez Lagos, de 55 anos, símbolo da resistência da Igreja Católica e da sociedade da Nicarágua  à ditadura do ex-líder sandinista. O clérigo foi  preso por Ortega, por atuar em defesa dos padres e freiras católicos que estão presos na Nicarágua e recusar o exílio.

A terceira grande novidade na visita, foi o reconhecimento de que Lula pode ajudar nas negociações sobre a guerra da Ucrânia por parte de Biden. Suas relações com Lula haviam esfriado depois da visita do presidente brasileiro à China e, principalmente, após o episódio dos navios de guerra  iranianos que visitaram o Brasil e foram autorizados pela Marinha a fundear no Rio de Janeiro.

O rompimento do acordo para exportação do trigo ucraniano pelo presidente russo Vladimir Putin é um problema muito mais sério do que admitem publicamente os Estados Unidos e a União Europeia. O Brasil e outros países que mantêm boas relações com a Russia, como a  Turquia e  Arábia Saudita, melhor posicionados para participar de negociações, estão sendo solicitados a atuar como bombeiros junto à Putin para resolver o problema mundial de abastecimento de trigo.

A diplomata também admitiu as dificuldades do governo Biden com o Congresso norte-americano pra aprovar seus projetos. Quando Lula esteve em Washington, Biden  anunciou uma ajuda de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, mas até hoje não efetivou as doações, que são até irrisórias diante dos gastos dos Estados Unidos com a guerra da Ucrânia, um dos motivos das críticas que Lula andou fazendo aos Estados Unidos em declarações públicas sobre o conflitos com a Rússia. Victoria Nuland garantiu que seu governo  trabalha para convencer o Congresso de que esse é um investimento importante para o Brasil, os Estados Unidos, a região amazônica e o clima, ou seja, a não efetivação da doação não é uma retaliação.

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