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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A transição do governo Lula está parecendo a Democracia Corinthiana

A equipe conta com 31 grupos temáticos, cada um empenhado em ter o seu o próprio ministério


18/11/2022 04:00 - atualizado 18/11/2022 08:26

Ex-governador Geraldo Alckmin coordena a transição
Ex-governador Geraldo Alckmin coordena a transição (foto: SERGIO LIMA/AFP)

Uma das páginas mais interessantes da história do futebol brasileiro foi o surgimento da Democracia Corinthiana, na década de 1980, um movimento que marcou a história do Timão paulista e representou, àquela época, o engajamento de um clube de futebol na luta pela redemocratização do país, com o engajamento dos craques do time, principalmente Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, na campanha das Diretas, Já.

Internamente, o futebol do Corinthians passou a ser administrado de forma revolucionária, num modelo de autogestão no qual todas as decisões importantes do dia a dia, inclusive contratações e escalações, eram tomadas  por toda a equipe, na base do “cada cabeça um voto”, do roupeiro do time ao técnico Mário Travaglini. O sociólogo Adilson Monteiro Alves, diretor de futebol do clube na época, foi o pai dessa criança.  O filho dele, Duílio Monteiro Alves, ocupa o mesmo cargo atualmente e pode ser candidato à presidência do clube.

Havia muito marketing embarcado na Democracia Corinthiana, a cargo do publicitário Washington Olivetto, que cunhou o nome do modelo de gestão e criou sua marca, inspirada na Coca-Cola. Em alguns jogos, o Corinthians entrou em campo com palavras de ordem de engajamento na campanha das Diretas, já estampadas nas camisas dos seus jogadores, do tipo “eu quero votar para presidente”.

Em sintonia com a conjuntura política, com um time muito competitivo, a Democracia Corinthiana conquistou a simpatia dos torcedores em todo o país e empolgou a Fiel, sua grande torcida, principalmente por ter conquistado o Paulistão em 1982 e 1983. Entretanto, quando Sócrates se transferiu para o Fiorentina, na Itália, começou a se esvaziar. O craque cumprira a promessa de que deixaria o país se a Emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria  as eleições diretas para presidente da República, não fosse aprovada.

Com a perda de seu principal líder dentro e fora do campo, os fracassos em campo e a derrota de Adilson Monteiro nas eleições para a presidência do clube em 1985, a Democracia Corinthiana deixou de existir.

A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, coordenada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, parece a Democracia Corinthiana. A impressão é de que ainda não existe um Estado-maior do futuro governo Lula, que deveria ser o núcleo central da transição. Tem muita gente falando e agindo de forma descoordenada, o que passa a má impressão de a equipe estar mergulhada numa disputa interna pelos ministérios, o que gera insegurança no mercado e frustra expectativas dos agentes econômicos.

Bumba meu boi


A bagunça maior é na equipe de transição na área econômica, na qual já está evidente uma disputa entre seus integrantes. Ontem, houve uma manifestação pública dos economistas Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pérsio Arida, que advertiram o presidente Lula de que a responsabilidade fiscal será avalista do sucesso de seu terceiro mandato. A síntese da carta aberta dos três economistas ao presidente Lula é essa. Na sequência, no final da tarde de ontem, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega renunciou à participação na equipe.

Legalmente, a equipe de transição coordenada por Geraldo Alckmin tem 14 pessoas nomeadas, de um total de 50 cargos previstos em lei, com remuneração. Entretanto, a equipe já conta com 31 grupos temáticos, cada um empenhado em ter o seu o próprio ministério, e mais de 300 pessoas indicadas para esses grupos de trabalho, a maioria por representação política dos partidos que apoiaram Lula no primeiro e no segundo turnos da eleição, e não, necessariamente, pela qualificação e experiência técnica de cada um. O critério para formação desse time não parece ser construir a passagem segura de comando na administração, sem interrupção de seu funcionamento, principalmente nas atividades-fim.  Tem muita gente falando e jogando para a arquibancada, e não para a equipe.

É preciso um freio de arrumação na transição, não somente na área econômica, na qual o próprio presidente Lula vem dando declarações que miram seus eleitores, mas confronta os agentes econômicos, o que provoca alta do dólar, queda do valor de ações na Bovespa e expectativas negativas de investidores. É quase uma autossabotagem. Ao mesmo tempo em que manda sinais positivos para os parceiros internacionais na questão ambiental, anula seu próprio desempenho com declarações desastrosas sobre a economia.

Não tem para onde correr. Se não quer tumultuar o começo de seu mandato, fazendo o jogo que o presidente Jair Bolsonaro gostaria que fizesse, para melar a transição, Lula precisa anunciar o nome do seu ministro da Fazenda e começar a tratar da montagem de seu ministério, porque a administração pública é uma estrutura complexa e hierarquizada, que não funciona na base do bumba meu boi, com todo o respeito pelas nossas tradições populares.
 

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