(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

Condenação de procuradores da Lava-Jato pelo TCU pode virar bumerangue

Iniciada em 2014, a operação Jato foi uma das maiores iniciativas de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história


10/08/2022 04:00 - atualizado 10/08/2022 08:35

Deltan Dallagnol afirmou que sua condenação tem viés político
Deltan Dallagnol afirmou que sua condenação tem viés político (foto: EVARISTO SÁ/AFP)

A Segunda Câmara do Tribunal de Contas da União (TCU) condenou ontem, por unanimidade, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, o ex-procurador Deltan Dallagnol e o procurador João Vicente Romão a ressarcir os cofres públicos por dinheiro gasto pela força-tarefa da Lava-Jato com diárias e passagens. Segundo os ministros do TCU, houve prejuízo de R$ 2,8 milhões em gastos da operação, valor que deve ser restituído ao Tesouro. Técnicos do tribunal haviam recomendado arquivar o processo.

Para o ministro do TCU Bruno Dantas, relator do projeto, e o subprocurador-geral do Ministério Público de Contas, Lucas Furtado, o modelo adotado na operação permitiu o pagamento "desproporcional" e "irrestrito" de diárias, passagens e gratificações a procuradores, com ofensas ao princípio da impessoalidade, em razão da ausência de critérios técnicos que justificassem a escolha dos procuradores que integrariam a operação.

A decisão é mais um capítulo da “desconstrução” da Operação Lava-Jato, que culminou na anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com base no princípio do juiz natural, sustentado pela defesa de Lula desde quando o ex-presidente começou a ser investigado pelo então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba Sérgio Moro.

Principal referência da operação, Moro teve sua imparcialidade como juiz colocada em xeque quando aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro, recém-eleito, para ser o ministro da Justiça, e abandonou a toga. Ambos acabaram rompendo em abril de 2020, quando Moro deixou o governo.

Ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot foi condenado por ter autorizado a constituição da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba; o ex-coordenador da força-tarefa Dallagnol, por ter participado da concepção do modelo escolhido pela força-tarefa e da escolha dos integrantes da operação; e Romão, por solicitar a formação da força-tarefa. Sete procuradores foram inocentados. Em nota, a assessoria de Deltan Dallagnol afirmou que há perseguição.

"A decisão dos ministros desconsidera o parecer de 14 manifestações técnicas de cinco diferentes instituições [...] que referendaram a atuação da Lava-Jato e os pagamentos feitos. Tudo isso com o objetivo de perseguir o ex-procurador Deltan Dallagnol e enviar um claro recado a todos aqueles que lutam contra a corrupção e a impunidade de poderosos." Agora, Dallagnon está impedido de concorrer às eleições, com base na Lei da Ficha Limpa, porque foi condenado por um colegiado.

Bumerangue eleitoral


Entretanto, a decisão do TCU pode virar um bumerangue eleitoral. Iniciada em 2014, a Operação Lava-Jato foi uma das maiores iniciativas de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história recente do Brasil. Na época, quatro “organizações criminosas”, que teriam a participação de agentes públicos, empresários e doleiros, passaram a ser investigadas pela Justiça Federal, em Curitiba. A operação apontou irregularidades na Petrobras, maior estatal do país, e contratos vultosos, como o da construção da usina nuclear Angra 3.

Frentes de investigação também foram abertas no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Distrito Federal. As investigações foram iniciadas a partir de uma rede de postos de combustíveis e de um lava a jato de automóveis de Brasília, usado para a lavagem de dinheiro, daí o nome da operação. No ambiente de descontentamento com a política e os políticos, a força-tarefa de Curitiba e Moro alavancou o tsunami eleitoral de 2018, quando o presidente Jair Bolsonaro foi eleito.

No decorrer do atual governo, porém, a combate à corrupção deixou de ser uma prioridade para a opinião pública, muito mais preocupada com a pandemia de COVID-19, a recessão econômica, o desemprego e o aumento da miséria. O eixo da política nacional se deslocou gradativamente da bandeira da ética para a economia.

Nesse ínterim, os condenados na Lava-Jato cumpriram parte da pena, adquirindo direito à prisão domiciliar ou liberdade condicional, foram absolvidos ou tiveram suas condenações anuladas por desrespeito ao “devido processo legal”. O ex-presidente Lula, que fora condenado e impedido de disputar as eleições de 2018, nas quais era o favorito, permaneceu 580 dias na carceragem da Polícia federal de Curitiba, até sua condenação ser anulada.

Sem entrar no mérito da polêmica jurídica sobre a Lava-Jato, que foi “deslegitimada” pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para os réus e condenados na operação esse assunto é como falar de corda em casa de enforcado. Na atual campanha eleitoral, quem ganha com a polêmica é o presidente Jair Bolsonaro, apesar dos escândalos de seu governo, porque esse assunto aumenta a rejeição do ex-presidente Lula.
 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)