
Dirigentes do PT, PSB, PCdoB e PV avançaram ontem na definição da federação que esses partidos estão constituindo, com base na nova legislação eleitoral; os entendimentos, porém, continuam tensos em razão das disputas regionais. Os quatro partidos chegaram à definição quanto ao comando da federação: os petistas ficarão com 27 dos 50 lugares da assembleia diretiva, enquanto o PSB ocupará 15 postos. Psol e PCdoB ocupariam quatro cada um. O PT tem hoje 53 deputados, o PSB, 30, o PC do B, 8 e o PV, 4. Para equilibrar a relação entre o PT e as demais forças, já que o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem maioria de assentos, as decisões seriam tomadas por maioria de dois terços e haver ia um rodízio no comando da Executiva, que seria formada por um presidente e três vices, com um representante de cada partido.
Hoje, haverá uma reunião da Executiva do PSDB para discutir uma eventual federação com o Cidadania. As negociações foram iniciadas entre os presidentes das duas legendas, deputado Bruno Araujo (PSDB-PE) e o ex-deputado Roberto Freire (Cidadania), mas estão empacadas. A Executiva do Cidadania também abriu negociações com o Podemos, o MDB e o PDT, em razão do fato de que há grande resistência à coligação com os tucanos, em estados importantes, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Bahia, Paraíba e Pará. Os maiores interessados na coligação com o PSDB são as seções de São Paulo, Pernambuco, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. O fato de a candidatura do governador de São Paulo, João Doria, não decolar está dificultando muito a coligação entre o Cidadania e o PSDB. A maior dificuldade é a definição de critérios para escolha de candidatos majoritários e a formação de chapas proporcionais nos estados, respeitando o peso de cada seção regional das legendas.
Diferenças locais
Essa complicação para a formação de federações decorre das dimensões continentais do país e suas diferenças regionais, reforçadas pelo caráter federativo do Estado brasileiro. A autonomia relativa dos partidos nos estados vem desde a República Velha e sobreviveu na Segunda República, que adotou o sistema proporcional de votação para o Legislativo. Ao contrário do que muitos imaginam, esse sistema foi criado para fortalecer os partidos, diante da tradição de voto uninominal herdada desde as câmaras municipais do período colonial. A tentativa de centralização e implantação de um sistema bipartidário, ocorrida durante o regime militar, com a criação por decreto da Arena, governista, e do MDB, o de oposição, fracassou. Para evitar a implosão da Arena, em razão das disputas locais, os militares até criaram as sublegendas, que permitiam aos partidos apresentarem três candidatos para os cargos majoritários, mas o expediente também deu errado.
A propósito, foi durante o regime militar que a formação de uma grande frente política ocorreu, tendo como estuário o MDB, que acolheu as principais forças de oposição. Naquela época, também se imaginava a formação de uma frente de esquerda, mas o que vingou foi mesmo uma ampla coalizão democrática liderada pelos liberais. Depois de sucessivas vitórias eleitorais do MDB, em 1974 e 1978, os militares desistiram do bipartidarismo e permitiram a formação de novos partidos, com o intuito de dividir a oposição. O PT foi criado nessa época, sob a liderança do ex-presidente Lula, juntamente com o PDT, encabeçado por Leonel Brizola, que se elegeria governador do Rio de Janeiro em 1982. O velho PTB havia sido refundado, sob controle de Ivete Vargas, mas não representava mais a grande massa sindicalizada. O MDB virou PMDB (era obrigatório ter partido no nome) e a antiga Arena, desgastada tanto quanto os militares no poder, mudou o nome para PDS (o atual PP). Mesmo assim, em 1985, formou-se uma ampla frente democrática para eleger Tancredo Neves (PMDB) no colégio eleitoral, com o apoio de uma dissidência da Arena e a oposição isolada do PT.
Continue lendo os seus conteúdos favoritos.
Assine o Estado de Minas.

Estado de Minas
de R$ 9,90 por apenas
R$ 1,90
nos 2 primeiros meses