(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas COLUNA

Pacheco é desafiado a se posicionar diante da 'agenda do ódio' de Bolsonaro

O novo presidente do Senado buscará se consolidar como nova liderança democrática no país


08/03/2021 04:00 - atualizado 08/03/2021 07:31

Enquanto Bolsonaro olha para o abismo, Rodrigo Pacheco precisará olhar o horizonte (foto: MARCOS BRANDÃO/AGÊNCIA SENADO 24/2/21 )
Enquanto Bolsonaro olha para o abismo, Rodrigo Pacheco precisará olhar o horizonte (foto: MARCOS BRANDÃO/AGÊNCIA SENADO 24/2/21 )
Senador em primeiro mandato, o agora presidente do Congresso Nacional citou JK duas vezes no discurso de posse e uma vez mais no discurso durante a abertura do ano legislativo. O simbolismo do gesto é poderoso.

Mineiro, JK elegeu-se presidente. Ultrapassou as turbulências e a fanfarronice do golpismo de Aragarças-Jacareacanga e do lacerdismo, e tomou posse. À época, o Brasil urbano-rural concentrava-se ao longo do litoral.

JK irradiou o sentimento da esperança na ação. Ocupou-se de fazer os brasileiros redescobrirem o Brasil. Deu vida ao sonho do impossível: fundou Brasília, que reinventou o Brasil. Olhou para o horizonte, que olhou para ele. Entenderam-se.

Fiel ao PSD, aliado ao PTB, em um aspecto semelhante a Getúlio, olhou para a cidade e a industrialização e, como Vargas, de costas para a desigualdade no campo. Com diversa perspectiva, ambos trilharam a senda do desenvolvimentismo. Mais cosmopolita, JK prometeu os “50 anos em 5”.
 
A época dos anos 1950 foi maior que o limite da década: estendeu-se até 1964, quando os militares e a burguesia brasileira sufocaram a democracia.

A época foi uma épica: debate e produção intelectual e editorial, produção de ideias e debate parlamentar de nível elevado, partidos políticos com personalidade, primavera cultural prolongada: a Renascença Baiana, o Cinema Novo, a Bossa Nova, o debate sobre o “nacional-popular”, o teatro, os centros populares de cultura, a poesia.
 
Sob a tenaz oposição da UDN, JK praticou democracia. Passou o poder ao opositor Jânio Quadros. Prosseguiu olhando o horizonte. Vislumbrou uma nova candidatura a presidente na eleição de 1965.

No poder, jamais propôs mudar a Constituição em busca da reeleição consecutiva. Fora do poder, no exílio e perseguido, manteve-se coerente no campo da democracia em oposição à ditadura. Fez parte da “Frente Ampla”, ao lado até de Carlos Lacerda, sem vender a alma ao diabo: jamais deu passo atrás em suas convicções democráticas.
 
Rodrigo Pacheco, 44 anos, fez o elogio da tradição política de Minas, demarcada, como ele a enxerga, pela conciliação. Com efeito, Tancredo Neves foi um grande conciliador. Respeitado, liderou porque tinha posição: o campo da democracia. Sempre, desde 1964, na oposição à ditadura e fiel ao campo da democracia.

Antes, sendo do PSD, manteve-se fiel a Getúlio, do PTB, fiel à democracia e contra o golpe civil-militar de 1964. Sob a ditadura, fiel a Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”, na liderança nacional da frente ampla pela redemocratização. Protagonizou a derrota política, “pelo alto” ou fora das ruas, da ditadura no campo dela: o Colégio Eleitoral.

Liberal-conservador? Antes de tudo, democrata, deixou-nos um legado de coerência e ação consequente. Os mineiros JK e Tancredo e o paulista Ulysses reuniam na ação política os prazeres da inteligência, ideias e convicções, a astúcia da razão e a elevação, admiráveis qualidades completamente ausentes em Bolsonaro.
 
A História é a madrasta dos acontecimentos. Não penso que Rodrigo Pacheco tenha feito um “contrato faustiano” (vender a alma ao diabo) com o presidente Bolsonaro.

O novo presidente do Congresso disporá de uma breve janela de tempo para fazer o seu caminho e esclarecer, em gestos e atos, se entrou na “Caverna de Polifemo” (sabe-se como entrar e não se sabe como sair) ou se irá  estabelecer-se como uma promissora liderança democrática.

Hoje, mirar-se em JK seria seguir o exemplo de Rodrigo Maia: ele liderou o Parlamento semelhante a um “senhor freios e contrapesos” e foi decisivo na contenção da investida golpista de Bolsonaro no biênio 2018-2019.
 
Rodrigo Pacheco será duas vezes desafiado a fazer escolhas decisivas: em breve, a tomar posição face à “agenda do ódio” presidencial: escancaramento do uso de armas e munições, licença legal das polícias para matar, manipulação e cooptação das simpatias das polícias militares com o propósito de moldá-las como “guarda pretoriana” de reserva do bolsonarismo; em 2022, na escolha entre a candidatura de extrema-direita antidemocrática, com Bolsonaro, e o campo da democracia. Ocupou-se o presidente da República de olhar para o abismo, que impregnou-lhe o espírito. Que Rodrigo Pacheco olhe o horizonte.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)