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Estado de Minas COLUNA DO JAECI

Ancelotti nunca cogitou dirigir a Seleção. Iludir o torcedor é covardia

É preciso parar de sonhar e buscar um técnico brasileiro em condições de fazer um trabalho de médio prazo, para resgatar nosso verdadeiro futebol


22/05/2023 04:00 - atualizado 22/05/2023 08:42
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Carlo Ancelotti
Carlo Ancelotti não tem conquistado muitos títulos no Real Madri, mas mesmo assim ainda tem crédito com a diretoria do time espanhol (foto: Pierre-Philippe Marcou/AFP)

Há tempos eu antecipei que Carlo Ancelotti ficaria no Real Madri, independentemente dos resultados na temporada. Ele ganhou apenas a Copa do Rei e perdeu o título espanhol para o maior rival, Barcelona, e não chegou à final da Champions, perdendo para o City, de goleada. Nada disso, porém, abalou a confiança do presidente, Florentino Perez, do time merengue, que confia e sabe que Ancelotti tem crédito, e de sobra.

Ele ganhou duas Champions League com o Real e foi campeão espanhol por duas temporadas. Na Europa, com raras exceções, o trabalho feito tem reconhecimento, ainda que na temporada seguinte a equipe vá mal. Vejam o caso de Jurgen Klopp no Liverpool. Ganhou a Premier League em 2019 – o time da terra dos Beatles jamais havia conquistado a competição nesse modelo e ficou 30 anos em jejum –, foi campeão europeu e mundial.
De lá para cá, o Liverpool acumulou fracassos, mas o técnico alemão não balançou nem um pouco. Ao contrário disso, já está reformulando a equipe para a próxima temporada, mandando cinco jogadores embora, entre eles, Roberto Firmino, que tem sete anos de clube, mas que já não dá mais.

Como certeza, se ele quiser voltar ao Brasil, vários clubes abrirão as portas, pois o que não serve mais para a Europa, no país tupiniquim é muito bem vindo, haja vista Hulk, Fernandinho, Marcelo, rejeitados no Velho Mundo, que deitam e rolam por aqui. E os três fizeram parte do vexame dos 7 a 1 que os alemães nos aplicaram, impiedosamente, numa semifinal de Copa do Mundo. Saíram execrados do Mineirão, mas voltaram em “alto estilo.”

Dito isso, é preciso o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, cair na real, parar de sonhar com Ancelotti e buscar um técnico brasileiro em condições de fazer um trabalho de médio prazo, para resgatar nosso verdadeiro futebol. O problema do Brasil é que os dirigentes, amadores, incompetentes e que se acham donos dos clubes, admitem e demitem treinadores como se fossem os maiorais. Não são. São passionais, fracos, alguns medíocres, que nem no clube mandam. São fantoches.

O dia em que o futebol brasileiro mantiver seus técnicos, ainda que fracassem numa determinada temporada, dando tempo para eles trabalharem, aí vamos formar uma geração de grandes técnicos. Já temos Fernando Diniz, Jair Ventura, Maurício Barbieri, mas os torcedores exigem a demissão deles quando o trabalho não encaixa, e os maus dirigentes cedem a pressão.

Curioso que os técnicos estrangeiros vêm aqui e fazem o que querem, e o tais presidentes aceitam e engolem tudo. O tal Vítor Pereira ficou no cargo 90 dias e perdeu cinco títulos. Se fosse um brasileiro que não tivesse chegado à final do Mundial, teria sido demitido no vestiário. Na minha visão, o nosso problema é estrutural, começando pelos presidentes, incompetentes, que de bola nada entendem, mas que pela vaidade se acham acima do bem e do mal. Enquanto esses caras existirem, nosso futebol vai continuar na lama.

Que saudade dos grandes dirigentes e dos grandes treinadores. Só quem trabalhou com os saudosos Telê Santana e Carlos Alberto Silva, como eu, pode atestar o quão bem eles fizeram ao nosso futebol. Eu não os via pedir a contratação de jogador A ou B. Chegavam nos clubes e com os jogadores que tinham montavam esquadrões, ensinando aos atletas como dominar uma bola, como cruzar, cabecear e por aí afora. Fundamentos básicos que hoje não se ensinam mais.

É muito fácil um cara chegar no Flamengo, por exemplo, clube mais rico do país, e pedir a contratação de 10 jogadores. Se der certo, bem, se não der certo, amém. Eles sabem que serão demitidos e vão deixar uma herança maldita. Sampaoli é um grande exemplo. Por onde passou, exigiu reforços, foi embora e largou a trupe para trás. Chega de tanto amadorismo. Vamos profissionalizar o nosso futebol.

A geração “nutella”, que acha que o futebol foi “inventado” por Messi, se contenta com qualquer coisa. Como não viram o futebol de craques e gênios da bola – no passado tínhamos dois grandes jogadores por posição, em cada time –, preferem se contentar com essa mediocridade. Ganham títulos no papel e acham isso normal.

O Campeonato Brasileiro foi instituído em 1971. De lá para cá, o Flamengo ganhou oito títulos, Corinthians e Palmeiras, sete. Mas a CBF reconheceu o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, a Taça de Prata e a Taça Brasil como se fossem Campeonato Brasileiro. Na verdade, eram torneios e nem todas as equipes do Brasil participavam. Uma vergonha. Título na caneta é feio, gente! Enfim, recado dado.

Esqueçam Ancelotti, pois ele nunca cogitou dirigir o time canarinho. Pode ser que Jorge Jesus aceite, mas eu priorizaria Fernando Diniz. Com todos os problemas do Fluminense, que tem praticamente um time e não um grupo forte, Diniz faz um belíssimo trabalho e mostra um futebol de toque, dribles, tabela e gols, que lembram muito o nosso verdadeiro futebol. Quando vemos um jogo da Europa e outro do Brasil, parece que estamos praticando outro esporte, tamanha a distância abissal do Velho Mundo para cá.

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