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Estado de Minas coluna hit

"A leitura não se constrói sozinha"


30/08/2021 04:00

entrevista de segunda
Deborah R Sousa/escritora

Deborah R. Sousa prepara o lançamento em formato de e-book de sua estreia na literatura,
Deborah R. Sousa prepara o lançamento em formato de e-book de sua estreia na literatura, "A história de todas as famílias" (foto: André Rocha/divulgação)

Três meses depois do lançamento de “A história de todas as famílias” (Crivo Editorial), a autora Deborah R. Sousa prepara para os próximos dias o lançamento da versão e-book da obra, que guarda traços biográficos. "Sobretudo o segundo conto, ‘Laranja com feijão’, onde falo sobre as memórias do meu avô, que faleceu há muitos anos, e lembro com gosto da infância compartilhada com ele", diz.

Quando começou a  escrever, Deborah se lembrou do passado, "coisas de que me havia esquecido e esse foi mais um encontro delicioso". Nos outros 10 contos, ela recorre a  memórias e fatos do cotidiano como ponto de partida e mistura isso com ficção. 

"A história muda completamente quando chega ao papel e toma vida própria, não é algo que consigo controlar. Deixo a história me levar, escrevendo sobre coisas que estão dentro de mim e que percebo no mundo por meio de personagens inventados", diz.

A expectativa é que até semana que vem o livro esteja disponível em versão e-book no site da Crivo Editorial. Deborah conta que já começou um novo livro. "Mas ele ainda está germinando, ainda descobrirei que caminho irá tomar. Sigo também como estudante do curso de letras da UFMG, para que eu continue a me renovar e não enrijeça. Estou elaborando um projeto para estimular novas escritoras mulheres que, em breve, divulgarei."

Para você, que sempre gostou de ler, qual a importância da leitura?
Ler é uma forma de se transportar para outros tempos, outras formas de pensar, para realidades diferentes, uma forma de “viver mil vidas”, como diz muito bem George R. R. Martin. Isso é tão mágico e rico que até me emociono pensando. A leitura nos leva a refletir sobre nós mesmos e sobre o mundo, a conhecer novos pontos de vista. Ler nos faz sentir, e que exercício melhor do que esse nestes tempos velozes e indiferentes? Também faz a nossa escrita melhor, entretém, faz passar o tempo e é um ato democrático quando o acesso ao livro acontece verdadeiramente. Sou uma eterna defensora da leitura para todas as idades, essa é a bandeira que levanto para encarar a vida.

Você concorda com a frase de Laura Cohen, sua professora na escola Estratégias Narrativas, que escrever é passar o bastão?
Antes de fazer cursos e participar do ateliê de escrita do Estratégias eu nunca tinha pensado sob esse ângulo: a leitura não se constrói sozinha. Ela é fruto de troca com autoras e autores que já morreram e deixaram um legado infinito para descobrirmos e também com escritores contemporâneos, que seguem produzindo, muitas vezes, em um mercado desafiador. A troca que vivi com outras pessoas que escrevem na escola, além do processo editorial, que envolveu editores, revisores, designers, é fundamental para quem quer escrever. A influência e o aprendizado daquilo que já está posto no mundo fazem toda a diferença e isso acontece também quando o livro chega ao leitor, que completa tudo o que foi colocado com a sua imaginação e as suas referências posteriores. Foi muito bom ouvir feedbacks diferentes da leitura do meu livro, cada pessoa se identificou com um conto, refletiu sobre sua vida, lembrou de histórias passadas. A escrita extrapola o papel e essa é a riqueza da coisa.

Já que citei a Laura, qual a importância do Estratégias Narrativas para quem, como você, estava procurando seu caminho nas letras?
Sempre gostei de ler e escrever, mas nunca encontrei um local apropriado para desenvolver e canalizar esse desejo. A escola, anos atrás, não foi esse lugar, nem a faculdade. O que é construído no Estratégias é um espaço para quem gosta de escrever poder se exercitar, se conhecer, testar estilos, realizar trocas com outras pessoas. Todo esse cenário foi transformador e desenvolveu a minha escrita até chegar no livro. Lembro-me da Laura falando: “Agora é hora de publicar” e senti um frio na barriga nessa hora. Esses espaços, além de desenvolver escritores, dão coragem para publicar.

Sua estreia na literatura é um livro de contos. Por que a escolha do gênero e qual a importância que você vê nele?
Sempre me vi como uma autora de romances, de narrativas longas. Tenho uma imaginação bem fértil e o meu exercício era colocar todos os meus pensamentos e pontos de vista no papel a partir de personagens e situações inventadas. Quando comecei a escrever, os textos foram virando contos e isso coincidiu com uma época em que encontrei diversas autoras contemporâneas com quem me identifiquei muito. Achei a escrita delas fabulosa e pensei: também quero chegar nesse lugar. É impossível teorizar sobre a importância de um gênero, todos os gêneros são importantes para a literatura e a vida, e a diversidade deles permite que o escritor e o leitor encontrem aquilo com que se identificam.

Quais os contos que marcaram sua vida?
Nos últimos anos, li livros de Lúcia Berlin, como o “Manual da faxineira”; Chimamanda Ngozi, como “No seu pescoço", e Alice Munro, como “O progresso do amor” e “A fugitiva”. E me encantei com o estilo de escrita dessas mulheres, narrando situações sob a ótica do gênero feminino, de novos contextos. A narrativa em torno do acontecimento ganhou outro significado para mim, diferente daquele dos autores clássicos que seguiam outros recortes da realidade para escrever. Somo a isso narrativas longas também, como a escrita de Toni Morrison e de Marguerite Duras e também a poesia de Rupi Kaur e Olívia Gutierrez. A verdade é que, quanto mais aprofundo neste caminho, mais encontro livros que mudaram a minha vida. Descobrir isso e o mundo da escrita foi o melhor encontro dos últimos tempos.

A literatura inspirou você em trabalhos com joias. Como nasceu e como funciona o Joias com Poesia?
Sempre tive aptidão para o comércio, sempre gostei muito de pessoas, de conversar, de realizar trocas. Quando resolvi criar a marca, uma amiga publicitária me disse: “Você tem que colocar a sua essência ali, senão a coisa não funciona”. Não havia o que pensar, a literatura era a resposta e, a partir daí, usei a minha imaginação para criar joias com inspirações literárias, partindo de tudo que eu sentia no encontro com essa arte que admiro tanto, uma forma de mostrar a humanidade do mundo por meio de formas e letras. Hoje a empresa tem um e-commerce (joiacompoesia.com) e vende pelo Instagram (@joiascompoesia). Vendemos para todo o Brasil e vejo que as pessoas se encantam ao encontrar objetos que contam histórias. Tem sido uma troca muito feliz e um espaço onde também me encontrei.

Livro de contos com tintas biográficas saiu pela Crivo Editorial
Livro de contos com tintas biográficas saiu pela Crivo Editorial


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