(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas HIT

Grupo de teatro é esperança para as artes cênicas no interior de Minas

Trupe Ventania, em Passos, completa 10 anos em 2022 como símbolo de resistência e amor ao palco


16/08/2021 04:00

(foto: Piettro Garibaldi/divulgação)
(foto: Piettro Garibaldi/divulgação)

Em 2012, um grupo de atores se uniu em Passos com o desejo de formar uma companhia para produzir e realizar espetáculos teatrais. Um sonho e tanto, que, 10 anos depois, está mais concretizado do que nunca. A Trupe Ventania tem orgulho de seu repertório. "São nove integrantes, todos com distintas formações, com distintos perfis. De modo geral, são atores que nasceram do teatro amador, com formação empírica, muito ligados à música e à cultura popular, e isso se reflete nos espetáculos", conta o diretor Maurílio Romão.

"O grupo nasceu com a proposta de experimentar possibilidades cênicas, tentando entender em seus integrantes qual a sua vocação. Entre os experimentos feitos, o teatro popular foi apurando no gosto e linguagem do grupo que se tornou sua principal pesquisa", acrescenta.

Passos, segundo Maurílio, tem predisposição para o teatro. "Muitos grupos já existiam por aqui, muitas pessoas já semearam o teatro por aqui. Já tivemos projetos como Mostra de Teatro nas Escolas, para escolas estaduais, Brincando no Palco, para escolas municipais, eu nasci dentro destes projetos, foi neles que comecei no teatro”, recorda o diretor, mostrando a importância desse tipo de inciativa.

Com a companhia, produz o Festival da Criança no Teatro, já na sua oitava edição. “O projeto consiste em estabelecer as primeiras pontes da criança com o universo do teatro. Para Maurílio, “é preciso políticas públicas dos municípios que potencializem e financiem quem realiza e não de prefeituras que desejam ser realizadoras, pois, ao final o mandato, voltamos sempre à estaca zero".


No ano que vem, a companhia completa 10 anos. Qual o balanço que você faz desse período? Pensava em comemorar com algum projeto ou a pandemia, que se arrasta, atrapalhou?
Dez anos de Trupe não poderá passar batido. Além de um livro de memórias, comecei a trabalhar numa adaptação para a rua de  “A vida é sonho”, de Calderón de la Barca. É um texto que sempre me inquietou, porém nunca consegui enxergar tal como o autor escreveu. Por isso, a necessidade de uma livre adaptação, popularizando e, de repente, remexendo na tônica do texto: o sonho! Não tenho pensado na pandemia como algo limitante, na verdade, ela pôde revelar uma outra gama de possibilidades. Faremos o espetáculo de 10 anos, com ou sem recursos públicos. Já produzimos muitos espetáculos de forma independente, acredito também nesta fórmula. Na verdade, a maioria dos espetáculos nestes 10 anos foram produzidas de forma independente. Não estou dizendo que não entramos em editais e nem muito menos dizendo que são fundamentais para o fomento. Estou dizendo que não ficamos esperando e nem subjugados a alguma aprovação. Temos uma autonomia de produção bem rara.

A companhia é sinônimo de determinação. Mesmo sabendo que não havia perspectiva de reabertura, em 2014, vocês mobilizaram a sociedade civil e transformaram o Teatro Rotary, que é também sede da companhia. Com a pandemia, as coisas, especialmente para o teatro, ficaram mais difíceis. Vocês ainda mantêm o frescor da determinação? Como e por quê?
Para manter o teatro aberto, precisamos entender a sua importância e tudo que ele impacta. Viver, inclusive numa cidade que tem um teatro de portas abertas e atuante, foi uma condição para morar na cidade. O teatro não é nosso. Alugamos, restauramos e fazemos a sua gestão. Pretendemos ter uma sede nossa, claro. Fico consternado ao ver espaços culturais fechando, mas feliz de conseguirmos manter o Teatro Gustavo José Lemos (Teatro Rotary) “aberto”. Justificar os porquês de manter o teatro sempre me pareceu uma defesa difícil e romântica, porque penso que não há justificativa maior que os feitos gerados por espaços culturais.

Uma das grandes discussões é a questão da falta de incentivos fiscais (estaduais e federais) para grupos que não têm a projeção de companhias da capital, por exemplo. O que você acha que deve ser feito para que o poder público garanta a sobrevivência dos grupos e a sobrevivência dos espaços?
Penso que é dever da União, estado e município assegurar fomentos para a cultura, de modo que o investimento possa revelar um retorno para a economia criativa. A Lei Aldir Blanc, por exemplo, fez circular a economia desse setor de modo substancial e que ainda reverbera. Imagina essa injeção de recursos duas vezes ao ano. Não vejo outra maneira que não seja do maciço investimento, porém investimento mesmo, que traga retorno, que engrandeça, que tenha critérios de ação, não como assistencialismo cultural como são tratados os editais de modo geral. O assistencialismo cultural é somente uma cortina de fumaça que governos fazem para dizer que fazem algo pela cultura, e isso não é verdade. Linhas de credito, financiamentos para a cultura seriam uma ótima maneira de ter uma autonomia, se assegurar que empresas culturais não fechem, que trabalhadores da cultura possam empreender. O teatro no interior de Minas é responsável por um movimento teatral orgânico, produzem incontáveis festivais, grupos. Porém, a política de descentralização ainda é pífia. Chegar um edital no interior é coisa nova, é recente! Não estou romantizando a dificuldade, não. Estou enaltecendo apenas o senso de urgência e necessidade que o artista do interior possui. 

Há quatro anos vocês organizam o Festival Nacional de Teatro de Passos e região. Qual a importância dele e os resultados do projeto?
Finalizamos a quinta edição do Festival Nacional de Teatro de Passos em 25 de julho. O festival trouxe uma alcunha para a cidade que foi muito desejada e trabalhada: “cidade de teatro”! O teatro aqui acabou sendo algo buscado, desejado. Filas e filas de pessoas para assistirem aos espetáculos, diversos espaços públicos ocupados, lugares visitados que nunca haviam recebido na vida um evento cultural. O festival mudou a cara desta cidade. É uma semana esperada no ano, algo está acontece no pensamento crítico, na qualidade de vida, uma explosão de sensações. Nas duas últimas edições (2020 e 2021), foi completamente on-line, espetáculos gravados, não queríamos deixar de fazer nenhuma edição. Foi muito difícil! Contamos apenas com patrocinadores, nenhum recurso público, mas precisava acontecer, precisa passar pela linguagem que se apresentava no momento, precisa se impor. Em 2021, começamos a produção sem a ilusão de fim de pandemia, e buscamos algo amadurecido na linguagem, fizemos híbrido, com cenas drive-thru, espetáculos virtuais, produzimos na pandemia e com linguagem virtual, exposição virtual, bate papos, oficinas presenciais, espetáculo presencial, com direito a inauguração do Teatro de Arena Paco, na Serra da Canastra. O evento movimenta a economia da cidade, aquece a referência de cada cidadão, “produz saúde mental”, parafraseando o amigo Clóvis Domingos.

“O gato malhado e a andorinha Sinhá” (2012), “Auto da folia” (2013),“Auto da paixão” (2015), “Maria Peregrina” (2020) e “Parece que foi ontem”(2021) estão entre as montagens da companhia. Quais os critérios de escolha de peças para formação de repertório?
Sempre um espetáculo nasce de uma necessidade. Necessidade de experimento, necessidade linguagem, de produção... Enfim, não existe um único critério. Os espetáculos que vão durar e ficar no repertório até determinado tempo é absolutamente desconhecido, não há critério! 

"Parece que foi ontem"  estreou este ano. Como foi a produção do espetáculo na pandemia?
Foi um espetáculo escrito, criado e encenado dentro da pandemia. Nasceu da necessidade de continuar, de falar de alguma maneira das sensações inéditas que estávamos sentindo. Foi um solo também pensado para o momento. Produção pequena, ator e diretor. Fizemos para espaços alternativo e para a linguagem virtual. Apresentamos para ambas as plateias, física (para um número restrito de pessoas) e virtual. Produzir este espetáculo neste período assegurou não enlouquecer naquele momento, uma luz de possibilidades e uma produção que nos manteve no momento mais crítico.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)