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Estado de Minas Entrevista de segunda

Obra de Chico Buarque ganha análise a partir do ponto de vista literário

Fã do compositor, Dimas Lamounier é autor de "Chico com todas as letras". Mineiro também é responsável pela página no Instagram @chicobuarquedobrasil


12/04/2021 04:00

(foto: ARQUIVO PESSOAL)
(foto: ARQUIVO PESSOAL)

"As agressões (a Chico Buarque) fazem parte da cultura do ódio que se instalou no Brasil, com a disseminação de fake news que procuram destruir reputações"

DIMAS W. LAMOUNIER / AUTOR DE "CHICO COM TODAS AS LETRAS"


Dimas Lamounier é fã de Chico Buarque. Desde novo, guarda tudo em torno da obra do compositor carioca. Discos de vinil, fitas cassete, VHS, livros, CDs, DVDs, camisas do Politheama (time de futebol do artista), ingressos de shows antigos, autógrafos em capas de disco e quadros com caricaturas. Tem ainda outra parte, o acervo de estudioso da obra do cantor. São anotações em papel, jornais antigos, revistas de vários anos, livros dele e livros sobre ele.

Tudo que é papel está sendo digitalizado. Fitas de música e vídeos estão ganhando formato digital e arquivados em nuvem. "Discos de vinil, fotos e livros pretendo manter por mais tempo", observa ele, que acaba de lançar o livro "Chico com todas as letras" (Editora Ramalhete). Na obra, Dimas analisa as letras do ponto de vista literário.

O universo musical de Chico é extenso. Difícil para um fã como Dimas apresentar as três canções de que ele mais gosta. "Poderia citar várias, mas vamos às três", diz, enumerando “Bom conselho” ("música icônica dos anos 70, indicando a atitude proativa da pessoa, que não deve ficar presa a paradigmas e a ditados populares. Mostra que devemos ser protagonistas de nossos destinos").

Cita também “Quem te viu, quem te vê” ("samba maravilhoso, bem ritmado, autêntico. Uma história de amor, mas ao mesmo tempo expõe outras questões. Riqueza x pobreza, separação x volta – a tônica do samba que letra longa é essa. E acreditem, a palavra amor não está na letra") e, por fim,  “Apesar de você” ("linda canção, que pelas vias normais seria censurada. Mas passou pela censura, que supunha ser uma canção de briga de casal. Tornou-se um hino contra a ditadura e a repressão, cantada por todos os segmentos sociais. Ainda hoje é sempre lembrada, sobrevive aos tempos").

Dimas nunca esteve cara a cara com o ídolo. Mas se o encontrasse, ressaltaria a importância dele para a arte brasileira. "Agradeceria a ele pela resistência nos anos de chumbo, a motivação por continuar a busca pela democracia, pela educação e, enfim, por um país melhor. Falaria de sua capacidade de reinventar-se e modernizar-se trazendo em cada novo trabalho assuntos atuais, sempre com opiniões importantes."

O autor não sabe se Chico chegou a ler a obra. "O livro foi autorizado a ser lançado e o Instagram (@chicobuarquedobrasil) recebe colaborações de pessoas próximas a ele. Pessoas com fácil acesso a ele já cantaram em nossas lives, enviaram fotos e interagem com a gente."

Sua admiração pelas músicas de Chico Buarque começou na infância, amadureceu na juventude e ficou ainda mais forte para você na fase adulta. Você conhece bem a obra dele, mas ao longo desses quase dois anos de execução do projeto descobriu alguma coisa que não sabia ou desconhecia?
O mergulho nos estudos foi muito importante para compreender mais sobre a vida e a arte de Chico Buarque. Por exemplo: quando voltou do seu autoexílio da Itália, em 1971, lançou o importante LP “Construção”, que contém a canção de mesmo nome, e ele encontrou o Brasil pior do que quando saiu. Depois desse LP, ele não conseguia gravar nada. Portas fechadas, praticamente. Nem sua mulher à época, Marieta Severo, atriz, conseguia trabalho. E ele tinha que trabalhar, tinha família para cuidar. Ele então parte para fazer músicas para filmes, peças teatrais, grava disco cantando outros compositores e começa a escrever livros. E se dispõe a escrever músicas infantis. Foi um período muito difícil. Só voltou a gravar um disco com predominância de músicas suas em 1976 (“Meus caros amigos”), ainda sob a égide da censura rigorosa, mas com abertura lenta e gradual.

Para os fãs de Chico, o compositor entende como ninguém a alma feminina. Mas como fica a alma masculina? Você consegue enxergá-la na obra? Onde? Por quê?
A alma masculina também aparece muito na obra de Chico Buarque, mas, diferentemente do caso das mulheres, os nomes dos homens pouco aparecem nos nomes das canções. Dezenas de homens amorosos, conquistadores, malandros, boêmios, sambistas, operários, músicos e muito mais. Alguns se destacam ao longo do tempo. O primeiro homem de destaque é “Pedro pedreiro”, do primeiro disco de 1966. Personagem emblemático, “Jorge Maravilha” foi criação de Julinho da Adelaide, codinome inventado por Chico Buarque para driblar a censura, em um rock desafiador aos generais da República: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. Os pivetes (“Pivete” e “O meu guri”) são figuras masculinas muito importantes na obra de Chico em sua fase de crítica social e denúncia das desigualdades. A canção “O velho Francisco” tem um assunto interessante – a velhice – em que o personagem expõe com clareza as dificuldades e o abandono dos mais velhos. Enfim, Chico também fez muita coisa boa sobre a “alma masculina”.

Qual seu grande desafio na hora de sentar à mesa e começar a selecionar canções e os textos aos quais elas estão relacionadas?
Realmente, não é fácil, existe um conteúdo muito grande de informações a ser mostrado. Dividi o livro em grandes temas e as canções que versavam sobre estes macrotemas: mulheres, homens, carnaval, futebol, grandes paixões, festivais, músicas para teatro e cinema, músicas de protesto nos tempos da ditadura e censura.

Há seis anos, Chico foi agredido verbalmente por um grupo antipetista em um restaurante no Rio de Janeiro. Simpatizante do PT, volta e meia recebe críticas. As pessoas não sabem separar o compositor do cidadão? Como você essa relação?
As agressões fazem parte da cultura do ódio que se instalou no Brasil, principalmente com a disseminação de fake news que procuram destruir reputações. Chico Buarque tem todo o direito de ter sua própria opinião e expressá-la, isso se chama exercer a cidadania. Felizmente, também ocorre o oposto, em suas andanças sempre é louvado e abraçado por tudo que ele representa.

Além do livro você mantém no Instagram a conta @chicobuarquedobrasil. Como surgiu a ideia do canal na rede social?
No final de 2018, iniciei essa página no Instagram. A cada postagem, colocava a letra completa da música como forma de disseminar o bom conteúdo. E deu certo. Hoje tem mais de 100 mil seguidores. Temos lives de quinta a domingo, dando oportunidade a novos talentos de todo o Brasil cantando o repertório de Chico.

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