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Estado de Minas COLUNA HIT

Passado e futuro se conectam nestes dias de isolamento social

No 'Diário da quarentena', o jornalista e pesquisador Carlos Felipe Horta revela preciosas redescobertas em seus arquivos, entre fitas cassete e estudos sobre lendas mineiras


27/09/2020 04:00

Diário da quarentena

Ouvindo o passado, de olho no futuro

Carlos Felipe Horta,
jornalista e pesquisador

"Todas as sextas-feiras, de 15 a 20 companheiros, integrantes da Suprema e Soberana Ordem do Porão, fazemos um encontro virtual, tomando uma cachacinha amiga e fraterna"


Quando a pandemia começou na China, ninguém imaginava o que iria acontecer. Eu também. Pouco a pouco, porém, tudo foi acontecendo. As consequências também. As serestas acabaram, as palestras sumiram, o projetado CD com Jackson Antunes e Zé Baliza ficou para as calendas gregas. Coisas mais se foram.

Com o mundo de cabeça para baixo, tinha que buscar novos caminhos. Filosofar não levaria a nada e aumentaria mais ainda o isolamento. Era preciso ocupar o tempo. Foi aí que o velho sonho de um livro com lendas e histórias mineiras foi retomado. Foi necessário ouvir gravações, reabrir livros, revistas, pastas de fotografias e desenhos.

Deu trabalho, mas isso foi jogando o isolamento para escanteio. Fortaleceu, igualmente, a nossa velha mania de pesquisar tudo. E me vi colocando o nariz em cima de coisas acumuladas ao longo de décadas, entre elas centenas e centenas de fitas cassete, retratos sonoros de uma vida. Inteira.

Gravações feitas nos velhos gravadores portáteis que, aliás, guardo ainda em perfeitas condições de uso. Folias de reis, congados, Minas ao luar, Seresta ao pé da serra, sessões de umbanda e candomblé, cantos de igreja, programas Mineira especial, Clássicos do sertão, Abbey Road Beatles Club, Especialíssimo, Noites do porão, acontecimentos históricos, casos populares e de família e, principalmente, dezenas e dezenas de entrevistas com cantores e músicos de Minas, Brasil e mundo, feitas nos tempos da coluna Música popular, no Estado de Minas.

O isolamento foi sumindo cada vez mais à medida que ia ouvindo as fitas e passando para o computador. E me vi de novo com Nara Leão, Elis Regina, Roberto Carlos, Mercedes Sosa, Tom Jobim, Arthur Moreira Lima, maestro Delê, Milton Nascimento, Fernando Brant, Celso Adolfo, Newton Baiandeira, Tadeu Martins, Manezinho, Simone, Jerry Adriani, Elizeth Cardoso, Altemar Dutra, Rubinho do Vale, Nelson Gonçalves, Sérgio Reis, Taiguara, Sanica, Madrigal Renascentista, Diamantina em Serenata, Hélio Marinho, Waldir Silva, Melão, Hermeto Pascoal, Mauro Silva, Rocha, Oswaldo Magalhães, Mangabinha, Ivan Lins, Mambembe, Tonico e Tinoco, Tadeu Franco, Sílvio Caldas, Mangabinha, Sérgio Ricardo, Teo Azevedo, Renato Andrade, Zé Coco do Riachão, Egberto Gismonti, Edna Fagundes, Zé Carlos, Gonzaguinha, Quinteto Violado e muitos e muitos outros. Até agora são 581 horas já gravadas no computador e ainda há muita coisa para recuperar.

O isolamento nos levou também a aprofundar estudos e pesquisas sobre projeto em andamento com membros de religiões afro-brasileiras, biólogos, folcloristas e o patrimônio municipal, para criar, em Belo Horizonte, o que estamos chamando de Jardins do Sagrado, dando sequência a um estudo iniciado no começo dos anos 1970, em seminário realizado sob os auspícios da UFMG juntamente com o professor José Moreira de Sousa.

Sem falar nos cachorros e gatos dando trabalho, mas também nos ocupando o tempo. Agora, por exemplo, estou escrevendo tendo no colo a Ferrugem, uma gata de olhos verdes. Além disso, para enfrentar o isolamento social (eufemismo que esconde a palavra solidão), cujos “protocolos” estamos respeitando rigorosamente, desde maio, todas as sextas-feiras, às 19h, de 15 a 20 companheiros, integrantes da Suprema e Soberana Ordem do Porão, fazemos um encontro virtual, tomando uma cachacinha amiga e fraterna. Todos, como o povo brasileiro por inteiro, desejando o fim da pandemia, para que possamos, o mais depressa possível, nos encontrar de cara limpa, sem máscara, frente a frente, sorrindo novamente...

E mesmo ainda tendo muita coisa a fazer no Porão, rezamos para que a vida logo se normalize. Afinal, como viver um outubro sem ver os congadeiros na Festa do Rosário da minha terra, Fortaleza de Minas?


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