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Fabiana Cozza: 'A vida é um saco sem batatas quando não tem gente'

Cantora escreve carta bem-humorada a uma das pessoas que ela mais sente falta no isolamento


18/07/2020 04:00

Diário da quarentena

Carta para Maria Baptista

Fabiana Cozza
Cantora

"Prefiro os livros. Falam baixo. Se gritam, calam-se logo, no escuro do peito"


Minas Gerais, início da pandemia no Brasil

Você me faz uma falta danada, hoje.
Ontem também. A bem da verdade, sei lá, não é falta de você, propriamente...

O que me faz um buraco é não ter sua risada desavergonhada enchendo o ar, essa sua mania de rir sem pedágios, fazendo fundação na gente, remendando ponte, rir de escorrer pelas pernas, sem remetente.

De passar vergonha, do garçom esperar você se recompor para colocar a comida na mesa. Rir a ponto de aguar o molho, de azedar o leite. Não tem receita. Era olhar, achar graça e explodir. De rir.

A vida é um saco sem batatas quando não tem gente. O maluco é só se dar conta disso quando a rua vira um deserto. Lá vem você rir de novo... Mas tem sempre um cachorro. Maltrapilho, mas de bem com a vida.

A casa fica perplexa de tanto espaço. Quase um gurufim.
Você diria: nada!
É uma escola de samba em recessão com teto de zinco.

Dá para rir alto e ficar aguardando o eco desmanchar ao longe e tornar a rir. Eu sei, você adora essas bobices.

Tá, subtraindo meu mau humor, sim: eu gosto do silêncio. Tiro até a canção da tomada. Prefiro os livros. Falam baixo. Se gritam, calam-se logo, no escuro do peito. O silêncio precisa estar acompanhado de silêncio. Gosto dele, mais durante o dia. À noite me encanta a lua, o apertar a vista para montar o cavalo de São Jorge. Sempre torto.

Nessas horas você adorava ser míope; cada dia o santo virava para um lado. Você dizia que era excesso de bom humor. Eu ria. Você sempre conseguiu. Agora, por exemplo...

Mas passa logo. Você não, seu riso desfila.

Essa reclusão obrigatória, essa coisa que a gente pega do outro e não vê. Aliás, que bobagem... o que é que não segue esse protocolo?! O que não nos contamina senão o outro?

Olha, esse bilhete é só pra dizer que você faz falta.

E que eu vou rir disso também.

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