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Estado de Minas COLUNA HIT

As mudanças causadas pela pandemia na vida de um artista plástico

No 'Diário da quarentena', Marcus Paschoalin fala das máscaras solidárias coloridas que criou e distribuiu nestes dias de isolamento social


postado em 23/06/2020 04:00

Diário da quarentena

O próprio eu

Marcus Paschoalin
Artista plástico

Um dos motivos de fazer as máscaras solidárias é levar um pouco de cor, já que não podemos ver sorrisos estampados nos rostos%u201D


Já estou acostumado com horários diferentes por causa do meu trabalho de artista, mas não esperava mudar tanto a minha rotina. De um dia para o outro, fomos obrigados a nos trancar em casa esperando as notícias do próximo passo. Já não tinha mais reuniões, as crianças não tinham aulas, os eventos sem previsão de acontecer. Ficamos apreensivos e começamos a nos preparar para passar a tal quarentena. Fui pela última vez ao ateliê e juntei todas as coisas de que precisaria para trabalhar em casa. Tinta, réguas, telas, fita-crepe, luvas e máscara. No primeiro dia, foi fácil. Montei a mesa na varanda do apartamento e comecei a produzir. Após uma semana, já tinha produzido mais de 10 telas.

O tempo foi passando, as tintas e suportes foram acabando, sem nenhum lugar para comprá-los (você pode pensar que poderia ter comprado pela internet, mas as cores quase nunca são fiéis ao que preciso!). Tive que começar a pensar em outras soluções. A casa já estava começando a se adaptar à nova rotina e algumas das notícias do mundo externo vinham pela TV (sempre muito assustadoras). Saudades dos amigos e dos familiares. Esperamos mais um pouco. Essa onda vai passar.

Todas as vezes que precisava sair, era mais ou menos como montar um arsenal de guerra com luvas, máscaras e muito álcool em gel. Abro aqui um espaço para explicar que um dos motivos de fazer as máscaras solidárias é poder levar um pouco de cor, já que não podemos ver sorrisos estampados nos rostos. Passado o susto, aos poucos fomos nos acostumando (mesmo sem saber se isso será possível!). Nos disseram até que esse seria o novo normal.

O convívio dentro de casa está ótimo. O tempo que sempre pedi, agora nós temos. Posso sair para andar de bicicleta com meu filho mais novo na hora em que quiser. A filha mais velha me pede pra estudar com ela, mas ainda não estou preparado para isso. E as tais das aulas on-line vêm sendo um aprendizado para professores, pais e alunos.

Podemos nos reunir em volta da mesa para jogar. Estamos nos conhecendo melhor. Estamos nos preparando para receber e fazer um mundo novo. Queremos que todos saiam melhores dessa. Que este momento “fechados em casa” sirva como momento de reflexão. Tinha muita coisa errada que temos que mudar. Essa mudança começa dentro da gente.

Tempo e dinheiro sempre foram fatores principais, estavam dificultando a convivência das famílias, que já nem se conheciam mais. Entramos no modo automático de viver, dirigir, cuidar, fazer tarefas domésticas ou não e de nos relacionar com as pessoas. De certa forma, tudo estava no piloto automático. Então, nos voltamos para dentro, voltamos para o lugar que tínhamos muito medo de visitar: o nosso próprio eu!

Afinal, agora estava sozinho. Por diversos dias, me permiti julgar a minha própria incapacidade, às vezes inutilidade, e até mesmo minhas fraquezas. Olhei nos meus olhos alguns dias e não me reconheci. Afinal, aquele realmente já não era mais eu. O mundo lá fora está nos esperando, a natureza está mais bonita, o céu agradece a diminuição da poluição. O ar está mais leve. Tenho certeza de que ficaremos melhores também. Não posso e jamais irei agradecer este momento, mas agradeço todo o aprendizado que veio com ele.

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