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Estado de Minas DIÁRIO DA QUARENTENA

Ricardo Vargas, que mora em Portugal, fala do isolamento social

Acostumado a trabalhar em home office, empresário mineiro diz que todos devem aprender a se adaptar aos novos tempos


postado em 11/05/2020 04:00


Como deixamos 
isso acontecer?

Ricardo Vargas
empresário

É tudo tão inesperado que é impossível encontrar em jornais, revistas, sites ou publicações técnicas de alguns meses atrás reportagens ou artigos com indicações do que estaria por vir de forma tão dramática. Como qualquer cidadão no mundo, aqui em Portugal ou aí no Brasil, sofro os efeitos dessa pandemia. O maior deles ocorreu nos eventos de que participo ao redor do mundo. Foi um impacto gigantesco: em menos de duas semanas, mais de 20 foram cancelados. Só eu tive de cancelar oito viagens no mês de março. Essa parte do trabalho ficou supercomplexa.

Mas, por outro lado, acabei sofrendo menos do que a maioria com relação ao home office. 
Há muito anos tenho o hábito de trabalhar remotamente ou dentro de casa. Sei que muita gente deve estar sofrendo com essa nova forma de trabalho. As pessoas estão aprendendo da pior forma, no momento emergencial.

Você não pode se entregar completamente à informalidade do lar. Não é por estar em casa, por exemplo, que você vai ficar de pijama, dormir até as 14h. Se não criar uma rotina, em poucos dias vai ficar completamente fora do ritmo de trabalho e, pior, não atingirá os resultados que 
ele exige.

A disciplina no trabalho me ajuda a manter a sanidade mental nesta quarentena. Talvez a melhor terapia, neste cenário tão incerto, seja tentar manter a mínima normalidade na vida e no dia a dia.

Todos estamos sem entender como a sociedade em que vivemos, este mundo superconectado, deixa um vírus atingir o planeta de forma tão devastadora. Os prejuízos econômicos e sociais da pandemia podem ser comparados a guerras. Estamos trabalhando trancados dentro de casa, pensando como uma coisa desse tipo foi ocorrer. Como deixamos 
isso acontecer?

No lado pessoal, a situação é mais difícil. Vivo com minha mulher e minhas filhas. A mais velha, que estuda em Londres, voltou para Portugal depois de embarcar num voo às pressas. Quando chegou a Lisboa, ficou lá de quarentena. Só depois veio para Cascais.

Estamos tentando manter a normalidade, dentro do que é possível ser normal. A liberdade é um valor tão fundamental que não conseguimos abrir mão dela. As meninas sentem muito isso. Querem sair, ver amigos. O nosso vínculo de família está ficando mais forte, pois nos dedicamos a coisas a que não nos dedicávamos: o café da manhã juntos, o convívio no fim do dia, as tarefas do dia a dia, cozinhar em família. Uma coisa muito legal é que nosso nível de tolerância se ampliou. Estamos relevando muitas coisas. Esse é um ponto importante, especialmente quando você está confinado com muitas pessoas.

O grande desafio é saber quando isso vai acabar. Serão mais duas semanas, mais um mês, dois meses? Em cada um desses cenários, o impacto é mais intenso. Fico pensando no caso das pessoas mais fragéis, que sofrerão impactos dramáticos do ponto de vista da saúde e do trabalho. Uma situação sem precedentes.

Entristece-me muito, morando fora do Brasil, ver que a polarização é tudo de que não precisamos neste momento. Em Portugal, não tem discussão. O presidente e o primeiro-ministro são de partidos opostos, mas estão juntos tentando resolver um problema tão maior. Sou espectador distante, mas o que temos visto no Brasil é diferente. Uma polarização cada vez maior, o que não resolve e não gera resultado. A falta de união me deixa triste. Mas tenho esperança de que dias melhores virão e que a gente, como sociedade, aprenda com isso. Certamente, não é a primeira nem a última vez que a humanidade enfrenta uma situação como essa.

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