Naquele dia em que tínhamos certeza de que o mundo iria mudar, acordei perdida, completamente desesperada. Com um programa de rádio para apresentar às seis da manhã, pensei: vai e arrasa, depois você chora, poderosa! Fui linda, plena e com muito glitter, porque o medo desaparece no brilho.
Quando cheguei em casa, li que ficaríamos isolados completamente, sobretudo das pessoas que amamos. Surtei por 30 segundos. Coloquei um vinil de Caetano, acendi o incenso de capim-limão, fiz um café forte e liguei para o meu marido, em prantos. Ele, com tranquilidade, disse: “Calma, meu amor. Ainda somos eu e você”.
Achei aquelas palavras tão lindas... Na hora, uma mulher apareceu na televisão vendendo globo de boate, desses que acendem. Ela dizia: “Compre e faça a balada na sua casa”. Não pensei duas vezes, comprei.
Será que tô enlouquecendo? Sei lá, comecei a lavar roupas igual a uma louca, faxinar, lavar quintal, dançar em casa. Entendi – com muito custo – que o mundo está mudando. Estamos diante uma pandemia e eu tenho que me adequar.
Acalmei minha alma, continuei indo para a rádio, todos os dias. Em casa, espero meu marido chegar e nos reinventamos. Quanta loucura... Fico aqui, contando as horas para que tudo isso acabe de vez e eu possa sair como louca, abraçando todos e entendendo, de uma vez por todas, que a felicidade está no simples.
Como sou grata a Deus por ter um companheiro lindo de alma, que me acalma nestes dias tão difíceis, tornando tudo mais leve. E que vai estar ao meu lado quando essa nuvem passar e nos tornarmos melhores na vida e de alma.
Kayete
Atriz e radialista