Diário da quarentena
Meu caro amigo...
De: Aline Calixto
sambista
Para: Maurício Tizumba
multiartista
“Meu caro amigo/ me perdoe, por favor/ se não lhe faço uma visita” – a frase de Chico e Hime continua muito atual e pertinente. O bom é que ainda podemos nos comunicar das mais variadas formas, agradeço ao mundo virtual por isso! Porém, nada substituirá um abraço, um aperto de mão, uma boa prosa e a cantoria de corpo presente. Por ora, estamos impossibilitados de realizar qualquer contato físico, espero que todo esse processo passe logo e que consigamos aprender com ele.
Te escrevo enquanto meu pequeno tira um cochilo, estou aqui no meu BBB (Big Brother Bebê), acompanhando de perto o crescimento e desenvolvimento do filhote. Às vezes, choro de alegria a cada conquista dele, outras vezes, de tristeza, pois é um bebê muito sociável e ama a presença dos avós, que neste momento estão distantes cumprindo sua quarentena.
Entre trocas de fraldas, mamadas, risadas, arrumo tempo pra organizar minha vida profissional em meio ao “caos-coronavírus”. Acredito que você esteja na mesma, pensando e tentando compreender como nos reinventaremos diante desse processo. Daqui, vou meditando, compondo, fazendo live no Instagram e seguindo do jeito que dá. Refletindo como nunca sobre o que nos levou a esta situação e como sairemos dela com o mínimo de perda possível.
O mundo tem andado doente, ou melhor, a raça humana tem feito do seu hábitat um local cada vez mais inapropriado. Se não pensarmos no planeta como um todo, onde cada ser humano, cada vida importa, sinto dizer: mais iremos sucumbir. Já não há mais espaço para a selvageria do capitalismo. Foi preciso uma COVID-19 pra escancarar isso de vez. O que vale mais, uma vida ou o lucro do empresário? O prejuízo de megacorporações ou o adoecimento de centena de milhares? Alguns falam e temem uma grande recessão.
Ora… Não será a primeira e nem a última. Penso que com uma boa dose de boa vontade, empatia e inteligência emocional tudo seria mais fácil de resolver. Jogo essa bola primeiramente no colo dos nossos governantes, inclusive daquele que defende o chamado Estado Mínimo. Para nos reerguer, será, sim, importante cada um fazer a sua parte, mas cabe ao governo oferecer aparato pra que possamos todos prosseguir, principalmente os mais necessitados.
Vejo que a maior parte da nossa sociedade tá vendo que o buraco é mais profundo do que parece e que será necessária uma força-tarefa grande pra sair desse fosso. Na minha clausura forçada, procuro agir de algumas formas, oferecendo minha contribuição seja cantando (santas lives!), divulgando notícias informativas VERDADEIRAS, doando, quando possível, material de higiene e limpeza para os mais necessitados, emanando energia positiva e cultivando a esperança em dias melhores. Mas para que esses dias cheguem logo, é muito importante o nosso entendimento de que a COVID-19 não
é uma “gripezinha”, que tem gente impossibilitada de fazer quarentena por motivos de força maior (uma salva de palmas aos profissionais da saúde, limpeza urbana e todos que cuidam do nosso bem comum), que tem gente que precisa urgentemente de ajuda financeira, e que é fundamental, na medida do possível, não sair de casa, usar sabão e álcool em gel.
Espero, meu querido, poder te abraçar em breve e fazer muitas cantorias com as nossas casas abertas para o amor, o afeto e a alegria de sempre!”