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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Jesus Cristo, o Cruzeiro e o Zé Taxista

Enfrentar o Cruzeiro voltou a ser motivo de preocupação para adversários. Vencê-lo, razão para vibrarem. Essas reações nos mostram que estamos no caminho certo


07/06/2023 04:00
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Apesar da derrota por 1 a 0 para o Atlético, pelo Brasileirão, domingo, no Parque do Sabiá, Cruzeiro mostrou bom futebol e perdeu várias chances para marcar
Apesar da derrota por 1 a 0 para o Atlético, pelo Brasileirão, domingo, no Parque do Sabiá, Cruzeiro mostrou bom futebol e perdeu várias chances para marcar (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Qual a semelhança entre Jesus Cristo, o Cruzeiro e o Zé Taxista? Os dois primeiros são conhecidos mundialmente. Carregam uma legião de devotos. Já o meu amigo José Martins da Silva Filho, o Zé Taxista, apesar de também ser conhecido por uma multidão nas praças e pontos, por um – digamos – defeito: é adepto à Turma do Sapatênis.

Gosto de resenhar com o Zé. Principalmente porque temos algo em comum no que tange a torcer para times antagônicos. Nossas alfinetadas são protocolares, classudas e sem requintes de ofensa ou preconceito. Se o Atlético de Lourdes tivesse a origem em gente como o grande Zé Taxista, e não na elite cheia de privilégios de Belo Horizonte, talvez aquela instituição teria mais dignidade, pois o pouco respeito que tenho por ela existe pela minha admiração por gente como o Zé.

Não por menos, vem dele um dos maiores sustos que um amigo me deu nessa vida. Certa feita, chegou a notícia dramática: “O Zé sofreu um acidente. Está no hospital com ferimentos na cabeça, nas pernas e nos braços.”

Nós, os amigos, ficamos desesperados. Uma espera angustiante até que seu filho, Vinícius, “tranquilizou” a todos – mas com outro susto: “Ele está bem. Conseguiu sair da cova.”

Horas antes, atendendo uma antiga cliente, Zé foi levá-la ao Cemitério do Bonfim, na Lagoinha, acompanhada de uma amiga. Lá, elas caminhavam por entre os mausoléus em busca do jazigo de um parente. Foi quando escutaram um estrondo. Pedras ruindo e gritos. Espanto. Desespero.

As duas correram até um buraco de onde subiam poeira e pedidos de socorro. No fundo de uma cova desmoronada, nosso Zé, ensanguentado e assustado. Caíra no leito dos mortos.

Zé Taxista, em semelhança a Jesus Cristo e ao nosso Cruzeiro, ressuscitou. O nosso “boa praça”, da prosa leve e rivalidade sadia, se recuperou dos ferimentos e voltou. Já provocando na pós-derrota do Cruzeiro para o Atlético de Lourdes. “Estou curioso para ver o que um certo cronista, amigo meu, irá escrever nessa quarta-feira”, balangou beiço por aí. Mal sabia que com isso, me inspirava uma reflexão.

Por que será que a Turma do Sapatênis, no auge da sua arrogância, advinda do calote perto de R$ 2 bilhões, se esbaldou a comemorar, como título mundial, uma vitória no sufoco e na sorte de uma falha do nosso escrete?

Resposta simples: senhoras e senhores, o Cruzeiro voltou!

Alguns ranzinzas dirão ser contraditório uma celebração após uma eliminação na Copa do Brasil e uma derrota para o time dos Bilionários do Brasil Miséria. Mas, então, o que dizer deles ao comemorarem um empate sofrido no Horto e uma vitória no sufoco em Uberlândia para o time que eles próprios deram como “morto” há menos de um ano? Seria medo dos ressuscitados ou décadas de trauma sendo reavivadas?

Enfrentar o Cruzeiro voltou a ser motivo de preocupação para os adversários. Vencê-lo, razão para vibrarem. Essas reações nos mostram que estamos no caminho certo da “ressurreição”.

Não temos porque entrar na pilha errada da “terra arrasada” e tampouco nos iludirmos com o topo da tabela. Certo e esperado é ora estarmos beslicando uma vaga na pré-Libertadoras, noutra, vendo se aproximar o famigerado Z4. Mas na maioria das vezes, estaremos como agora: no grupo de classificação para a Copa Sul-Americana.

Faz parte do processo. Termos ressuscitado o medo e o respeito dos oponentes já é motivado para seguirmos confiantes. Acreditando na filosofia de Pepa, no empenho de nosso escrete, sem nunca deixar de cobrar a SAF Cruzeiro por condições e plantéis melhores. O Cruzeiro voltou, mas o caminho da redenção total ainda é longo.

Ao meu grande amigo e ídolo Zé Taxista, dedico os aguardados escritos dessa quarta-feira, e deixo uma protocolar alfineta: se continuar me zoando, dá próxima vez, vou pedir aos saudosos gênios celestes Niginho Fantoni e Roberto Batata, sepultados no Bonfim, para darem uma puxadinha na sua perna se cair na cova de novo, seu fanfarrão.



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