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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

De Mariana para o Cruzeiro, com honra pra lá de especial

Estreia do jovem Jhosefer com o manto sagrado enche de orgulho a comunidade da primeira e mais celeste cidade de Minas


16/03/2022 04:00 - atualizado 16/03/2022 11:32

William, Wendell e agora Jhosefer: filhos de Mariana no Cruzeiro
William, Wendell e agora Jhosefer: filhos de Mariana no Cruzeiro (foto: Arquivo EM)


Manhã de um domingo ensolarado e preguiçoso. Noé vai à janela, na parte alta do Bairro Colina. Escuta o estampido de fogos de artifício vindo da beira do Ribeirão do Carmo. Não era dia santo. Nem de político inaugurar obra superfaturada, como é praxe ao longo da história da nossa cidade, Mariana. Seria o Cruzeiro? Não. Ele andava mal das pernas e o jogo só ocorreria ao final da tarde. Mas logo ele percebeu o motivo. Balançou a cabeça com orgulho. Sorriu para a brisa a levar os últimos resquícios de fumaça. Sussurrou para si: “É gol do filho do Adãozinho”.

Só mesmo boleiros são capazes de fazer tal conexão improvável. Noé, um dos maiores craques do time da Juma e do futebol marianense, é pai de Wendel, ex-volante do Cruzeiro. Já Adão, no seu acanhado armarinho “tem tudo”, ao soltar os rojões comemorava mais um gol do seu rebento, o menino Jhosefer, promessa do Sub-17 do time estrelado.

O destino também fez cruzar os filhos de Noé e Adão. Ao assumir o comando do Sub- 14 do Cruzeiro, em 2020, Wendel chegou à Toca da Raposa e logo soube da presença, no Sub-17, de um conterrâneo seu. Ouviu maravilhas sobre o atacante ponteiro. Curioso, foi até a beira do gramado para vê-lo treinar. Chamou-lhe a atenção – mais até que a habilidade do garoto – a forma respeitosa com a qual ele ouvia as orientações do treinador e procurava executá-las com afinco.

O treino findou. Wendel manteve seu olhar sobre o conterrâneo. O sorriso largo e a simpatia de Jhosefer para com os companheiros fizeram o ex-volante lembrar dos seus primeiros passos no Time do Povo Mineiro, quando ouvia os conselhos do experiente Maldonado e do técnico Luxemburgo. Ali, teve a convicção de que, no Cruzeiro ou em outro clube qualquer, aquele moleque da sua Mariana, ex-morador das redondezas da Colina como ele, vingaria no futebol profissional.

Dias depois, os dois se encontraram. Jhosefer continuou a esbanjar respeito. Cumprimentou Wendel, que logo lhe disse: “Muito bom ter um gaveteiro aqui como eu”. O garoto, com 16 anos, estranhou, pois não conhecia o apelido dado a quem nasce em Mariana.

Não demorou, novo encontro. Jhosefer foi até Wendel e lhe respondeu, sorrindo: “Agora eu sei o que é gaveteiro”. Dali por diante, na Toca, eles passaram a se cumprimentar por esse apelido ou mesmo por “Mariana”.

Domingo passado, ao fim da peleja contra o Pouso Alegre, derramando alegria por estrear com o manto sagrado no profissional, aos 18 anos, Jhosefer fez questão de dizer ao repórter: “Sou natural de Mariana, Minas Gerais”. Os foguetes não estouraram às margens do Ribeirão do Carmo porque Adão estava no Mineirão para aplaudir o filho – seu e da nossa Mariana.

O primeiro marianense a vestir o manto sagrado foi William, zagueiro do maior Cruzeiro de todos os tempos. Sagrou-se campeão da Taça Brasil de 1966. Wendel chegou ao clube aos 12 anos, depois de ser craque no Guarany (clube do qual tenho a honra de ser o pior lateral esquerdo da história). O filho de Noé foi campeão brasileiro de 2003. Já Jhosefer é ainda uma promessa, mas conseguiu nos encher de orgulho e esperança.

Eu não amo o Cruzeiro, verdade seja dita. Amar pressupõe calmaria, sentimento linear e uma paz modorrenta. Na verdade, tenho por ele paixão. Um sentimento avassalador, incontrolável e cheio de rompantes. Só consigo sentir o mesmo pela minha Mariana, primeira cidade de Minas Gerais, a mais cruzeirense de todas. Justamente por Jhosefer, Wendel e William unirem essas duas paixões, esse gaveteiro que vos escreve agradece com o coração em festa.

(*) Dedico essa crônica aos meus amigos de Mariana: Tate “Gaveteiro Azul”, Rodrigo Gargamel, Papai Jairo Antunes, o gênio da bola Cleyton (maior jogador que vi atuar em toda a minha vida), Ana Gabriela “Furacão Loiro” Scarpelli, Fábio Júlio, o saudoso Marquito, Vanderlei Machado, João do Circovolante, Ricardo Manso, Cristiano Casimiro, Geisa Pastor (a cruzeirense das bochechas vermelhas e o eterno sorriso doce), Ronaldo Bicalho (o primeiro gaveteiro da Máfia Azul) e o meu irmão Bernardo “Di Vanderlei” Campomizzi.




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