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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Ô meu pai, eu sou Cruzeiro, meu pai!

A volta olímpica de Alex com a estrela amarela, em 2003, fez um repórter abandonar a transmissão e voltar à arquibancada para gritar 'é campeão!'


postado em 01/04/2020 04:00

Armador Alex entra em campo, no Mineirão, para comemorar o título do Campeonato Brasileiro de 2003 pelo Cruzeiro(foto: Marcelo Sant'Anna/Estado de Minas - 30/11/03)
Armador Alex entra em campo, no Mineirão, para comemorar o título do Campeonato Brasileiro de 2003 pelo Cruzeiro (foto: Marcelo Sant'Anna/Estado de Minas - 30/11/03)

 
A saudade de ver o Cruzeiro em campo é colossal. Ao ponto de relevar os calos nas vistas, herança das pelejas contra CRB e Coimbra. Quando se ama incondicionalmente, se perdoa.

Optei por passar a quarentena ouvindo histórias celestes. Como lembrou o amigo Guile Suarez, do Reduto Cruritiba, “é possível viajar de qualquer ponto de Minas até o Mineirão recordando os títulos do Cruzeiro e terminar o trajeto sem conseguir falar de todos”. Já a Turma do Sapatênis não passa do primeiro quebra-molas.

Em meio aos relatos alegres, tristes, engraçados, tensos e “para a vida toda”, caí num sorriso molhado, em lágrimas emocionadas, após ouvir a história de companheirismo pelo Cruzeiro vivida pelo genial jornalista Rodrigo Fuscaldi e seu pai, Marcelo. Ela me fez lembrar do meu velho comigo contra o Goiás, no título de 2014. Seria um egoísmo profundo não dividir a ode ao amor pelas cinco estrelas de Rodrigo e Marcelo. Sendo assim, aqui está ela.

“Nasci em uma família de atleticanos, em que meu pai era um cruzeirense sem se importar muito com futebol. Morávamos em Sete Lagoas, e ir ao Mineirão não era muito comum na nossa vida. Até que numa tarde de domingo do início da década de 1980, meu pai e eu ouvíamos um Cruzeiro x Atlético pelo rádio. O Cruzeiro ganhou, meu pai ficou muito feliz, e eu, criança, nem me liguei muito. Ele ficou louco. Disse que, se eu não me tornasse um cruzeirense fanático, nunca mais poderia ir ao Mineirão ou ver uma partida. Com medo de que fosse verdade, respondi ser cruzeirense doente. Ele me abraçou, me beijou, me jogou para cima. Sinto aquele abraço até hoje. Tornei-me o que sou naquele momento.

Começamos a ir com frequência ao Mineirão. De carro, sozinhos, de kombi, com o pessoal do boteco vizinho à nossa casa... Vimos a decepção contra o Inter em 1987, a derrota para o Racing na Supercopa em 1989, os títulos de 1991 e 1992, com Mário Tilico e Charles e com Renato Gaúcho e Roberto Gaúcho. Éramos cúmplices de um amor pelo Cruzeiro. Ele me fez ser um grande cruzeirense. Eu o fiz ir aos jogos e a gostar daquele programa. Saíamos cedo de casa, passávamos aperto para comprar ingressos, para entrar no estádio. Às vezes, o Cruzeiro perdia, noutras ganhava. Pegávamos muito trânsito para voltar. Chegávamos de madrugada. Olhávamos um para outro, com um sorriso no rosto, sem precisar dizer nada. A gente se entendia pelo sentimento, pelo amor de um pelo outro e pelo Cruzeiro.

Mudamos para BH, compramos cadeiras cativas no Mineirão e íamos a todos os jogos, sem exceção. Mas me tornei jornalista esportivo e comecei a trabalhar durante as partidas. Amava estar naquele ambiente, mas sentia falta da companhia do meu pai, que continuava a frequentar o estádio com novos amigos.

Em 2003, eu, em início de carreira, trabalhava em uma rádio do interior com pouquíssima estrutura, salários atrasados, sem condições dignas. Mesmo assim, cobri todos os jogos do Cruzeiro, no Mineiro, na Copa do Brasil e no Brasileirão. Que ano mágico! Éramos eu, no gramado, e meu pai, na arquibancada.

Veio o dia de Cruzeiro e Paysandu. Ser campeão brasileiro era algo muito distante para nós, cruzeirenses. Não é como agora, quando já temos uma coleção de títulos semelhantes. Era icônico, histórico, gigantesco, uma mudança de paradigma.

Cheguei muito cedo para a transmissão. Emocionado. Um ambiente maravilhoso, a torcida enlouquecida. No campo, Mota fez o segundo gol e praticamente garantiu o título. Quando Alex, que estava suspenso, desceu das cabines, pegou uma estrela amarela, passou por mim e começou a dar a volta olímpica, não pensei duas vezes. Larguei o microfone e subi para as arquibancadas. Sabia onde meu pai ficava no estádio. Procurei por ele e, quando o vi pulando e vibrando igual um doido, voei no seu pescoço. Um aperto de campeão, com choro, emoção, grito de campeão. Ainda consegui assistir a três minutos ao lado dele, abraçados. O título brasileiro estava no peito, e eu fui campeão do lado do meu pai”.


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