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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Há coisas que só acontecem com o Atlético

"Faltam cinco pontos para a tábua de salvação dos 45. Restam dez rodadas. O Galo não ganha nem par ou ímpar"


01/10/2022 04:00

Keno, atacante do Atlético no jogo contra o Palmeiras
A decepção do atacante Keno contra o Palmeiras, na quarta-feira, é o retrato do Atlético neste Brasileirão, especialmente quando o time atua no Mineirão (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


Há coisas que só acontecem com o Botafogo, dizem as pessoas mal-informadas. Há coisas, muito mais coisas, bem mais estranhas e inexplicáveis, que só acontecem com o Atlético. Creditamos isso ao azar, mas essas coisas insondáveis e de outro mundo também já se mostraram em lances de sorte, como o escorregão de El Tanque Ferreyra na final da Libertadores de 2013, um rabo danado.

Da minha parte, esse estado de coisas levou ao mais absoluto ceticismo, embora tenha havido acontecimentos pra lá de transcendentais. Nos meus botões, a ideia de Deus pressupunha a noção da justiça divina, e eu me sentia injustiçado, roubado pelo Wright, a carteira batida pelo Aragão. E nada da reparação histórica, pelo contrário, quanto mais passados para trás, mais fodidos éramos, com o perdão do vocábulo, até muito casto diante de tanta sacanagem. Como um padre Kelmon de festa junina, apenas me perguntava, farsante: o que terá o atleticano feito em outras vidas?

A pergunta novamente me assombra diante da tragédia que se desenha, improvável, estatisticamente próxima do impossível, e por isso mesmo tão razoável e possível: a gente pode cair. É uma verdade crível exatamente por ser inacreditável. É algo a que precisamos nos prevenir justamente por não exigir prevenção, tamanha sua improbabilidade. A vida, perdão, gosta de foder o atleticano. E ela fará de tudo para alcançar seu objetivo com requintes de crueldade, o que torna o momento ainda mais grave – estamos a oferecê-la a faca e o melhor dos canastras.

Faltam cinco pontos para a tábua de salvação dos 45. Restam dez rodadas. O Galo não ganha nem par ou ímpar, pode observar quando da definição de quem sai com a bola e quem escolhe o lado do campo. No papel, o elenco é ainda melhor do que o supertime campeão de 2021, dos melhores do mundo. Na prática, não ganha sequer do Avaí, horroroso – nem empata, perde. Não há, por enquanto, qualquer pista sobre o que motivou ou ainda motiva a desgraça que agora nos abate. Resta a explicação que explica o inexplicável: há coisas que só acontecem com o Atlético.

A situação é ainda mais grave pelo conluio dos deuses contra a gente – deuses inexistentes, está claro. Seja como for, o corvo abriu as asas sobre nós. Não é que estamos dando azar – nós somos o azar em pessoa. De repente só tem pé torto. Qualquer volante cabeça-de-bagre, estando no time adversário, já vira o Zidane. Goleiro então, tudo Dasayev.

Já pensou sobre a improbabilidade de se acertar a trave? Em todos aqueles metros quadrados que compõem o gol, a trave é uma diminuta moldura de uns poucos centímetros. Mas, claro, somos os campeões do desafio do travessão. O que fizemos em outras vidas? Rachadinhas? Imóveis com dinheiro vivo? Relacionamentos suspeitos com milicianos e matadores de aluguel? Racismo? Homofobia? Misoginia? Loas a ditaduras e torturadores? Não. Genocídios, só pode.

Na quarta-feira passada, atleticano exilado, abandonei o barco (o sofá) aos 20 minutos do primeiro tempo. Achei manjado o roteiro e não quis me submeter ao filme repetido: joga melhor, desperdiça um caminhão de oportunidades, substitui tudo errado e perde no final. Decidi me poupar para o debate de quinta, pois sabia ser indigesta a peleja contra o padre Kelmon. Acordei pela manhã e não havia novidades: claro que havíamos perdido.

Só estamos melhor do que o Bozo. Ele estacionado nos 33, a gente nos 40. Hoje tem o Diniz. Péssima notícia. Ele gosta de jogar com quem sai para o jogo. Se pelo menos a gente tivesse um padre Kelmon pra auxiliar na trapaça e ver se arranca algum pontinho dos incautos. Mas o que temos é o padre Cuca completamente perdido, o nosso Ciro Gomes que podia desistir mas não larga o osso. Depois do Diniz tem o Santos na Vila. Ave Maria.
 
Há coisas que só acontecem com o Atlético. Entre elas, 40 mil pessoas que pagam para testemunhar a tragédia. Só nóis mesmo. Aconteça o que acontecer entre nóis e o dinizismo, vamos acordar domingo ainda mais atleticanos, é o karma. Então uma voz irá sussurrar em nossos ouvidos: aperta o 13 e confirma, que 13 é Galo. Só assim pra gente ganhar.


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