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Estado de Minas FRED MELO PAIVA

O inimigo leal cansou de avisar o Cruzeiro sobre os malefícios da soberba

Se tivesse de escolher uma segunda estrela pra botar no nosso escudo, escolheria o título da Série B. Por tudo que ele representa sobre amar


postado em 14/12/2019 04:00 / atualizado em 13/12/2019 22:30

Em 2006, o Atlético conquistou o título da Série B: a Massa empurrou o Galo nos momentos mais difíceis(foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS %u2013 25/11/06)
Em 2006, o Atlético conquistou o título da Série B: a Massa empurrou o Galo nos momentos mais difíceis (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS %u2013 25/11/06)


Há anos estamos a alertar o Crüzëirö: não tremas. Mas assim como a coroa encarapitada sobre o escudo, como se numa penteadeira, o Crüzëirö deu de ombros para o nosso sinal ortográfico, nosso toque sutil e galhofeiro, ainda melhor porque advindo de uma verdade incontestável dos fatos. Como Fábio, o Crüzëirö deu as costas ao inimigo. O inimigo leal que cansou de avisar sobre os malefícios da soberba e o equívoco da vaidade.

“Quem gosta de título é cartório”, dizíamos, à época das vacas magras, faquires a bem da verdade. Era o nosso jeito de falar que o amor vale mais do que as taças, nós avisamos. Títulos? Papai goxta. Mas o que são títulos diante da foto famosa do jovem time do Galo saindo abraçado de campo depois de perder nos pênaltis, e invicto, o Brasileiro de 1977? Sacanearam o Reinaldo. O título é aquela foto. É possível que você, cruzeirense, ria disso. Este é o seu maior inimigo na Série B: agora, meu amigo, não tem taça, não tem coroa, só o amor salva.

Títulos? Temos também. Durante 42 anos, esperamos pelo título impossível. Ganhamos. Daquele jeito que foi, épico, do tamanho do nosso sonho. A perna esquerda de Deus, o Leo Silva fazendo os 2 a 0 aos 42 do segundo tempo, a arquibancada em sessão de descarrego na igreja evangélica. Não seria exagero botar a coroa, o cedro e o trono sobre o nosso escudo. Mas não colocamos nada – ter a sorte de nascer Galo e ter visto aquilo daquele jeito, depois de tanto sofrimento, é algo que você só imprime na memória, na alma e no coração. Não é a falta de dinheiro que pode acabar com o Crüzëirö. É a simpatia, que embora quase amor, não chega de fato a sê-lo.

Pense no modo como o Galo caiu. Sem oportunismo, e tenho provas, o final do jogo contra o Vasco que decretou nossa queda em 2005 está, opinião própria, entre os três momentos mais bonitos da nossa história. Sessenta mil desalentados a cantar o hino de um jeito que eu nunca vi ele começar. Aos poucos, doído, um tango, um blues, e de repente aquilo vai num crescendo de vozes e lágrimas. Chorei todas as 800 vezes que vi e revi aquela cena, e olha que ela não me dói mais – ela me enche de um orgulho sem tamanho. Na saída do estádio, uma multidão cercou o ônibus do Galo, numa devoção que eu nunca vi. Como uma dor daquele tamanho pôde se transformar naquela explosão de um amor tão colossal?

As circunstâncias foram outras e não gostaria de desrespeitar a dor do cruzeirense que, por ventura e exceção, seja, vamos dizer, um cruzeirense atleticano. Mas apenas vejam como caímos e como o Crüzëirö caiu. Se tivesse de escolher uma segunda estrela pra botar no nosso escudo, eu escolheria o título da Série B. Por tudo que ele representa sobre amar qualquer coisa que seja em seu pior momento, carregar nas costas, assumir a bronca. Pela lição de humildade, garra e determinação. Ou o cruzeirense aprende a chorar porque ganhou três pontos do Operário ou vai se transformar num time pequeno, mesmo que um dia suba.
A torcida do Atlético sempre torceu... pela torcida do Atlético. Nós. Sempre na primeira pessoa do plural. Celebramos o aniversário do Atlético como o aniversário dos nossos filhos. Gritamos Galo a cada copo que se quebra no chão. Ainda que secretamente, usamos a camisa do Atlético em nossos próprios casamentos, em vitórias extracampo, mas também nas piores derrotas, nos velórios, vai com o filho na maternidade e vai com a gente no caixão, a que veste melhor com o paletó de madeira.
Guardo a suspeita de que o cruzeirense falhou em desenvolver essa parte porque o Crüzëirö nasceu e cresceu em função do Atlético. Nunca ele mesmo – sempre uma reação. Desde os primeiros dias até a nossa Libertadores de 2013. Foi o nosso título que desencadeou a tragédia do lado de lá. Gastaram os tubos, ganharam dois brasileiros, queriam empanar nossa conquista. Acabaram por construir uma dívida que, agora, os engole pelas pernas. De certa forma, o Kalil, involuntariamente, realizou o sonho de acabar com o Crüzëirö.
Feliz 2020 pra quem for capaz! Esta coluna volta ano que vem. Na Série A. Gaaaalooo!

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