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Estado de Minas COLUNA

Pacto global: uma chuva benéfica na educação

A ideia é de que esse esforço comum nos ajude a superar o mundo fraturado no qual vivemos, fruto da ruptura da solidariedade dos seres humanos


07/09/2020 04:00 - atualizado 07/09/2020 07:53

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O papa Francisco é um desses seres humanos com rara sensibilidade social, visão de futuro, intencionalidade fraterna e pés ancorados no presente e suas urgências. Talvez é dos poucos, se não o único, dos líderes mundiais que nos restam.

Não é à toa o respeito do qual goza e como a sua voz é ouvida e valorizada nos mais diversos fóruns. Sempre atento às demandas mais urgentes e necessárias para a construção de um “outro” mundo possível, mais benévolo e justo para todos.

Já na sua primeira Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium, publicada em 24 de novembro de 2013, Francisco propunha uma Igreja em saída, sem medo e sem excluir ninguém.

Um tipo de caravana mística, solidária, integrada por cristãos e não cristãos, crentes e não crentes, dispostos a enfrentar e tentar dar respostas aos problemas mais graves que afetam aos seres humanos e ao planeta Terra.

Entre eles, a educação e a formação, considerados pelo papa de extrema importância. Assim o manifestava na Laudato Si, que em junho passado acabou de completar cinco anos: “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza” (nº 215).

Animado por esse espírito, o papa Francisco convocou, por meio de documento publicado em 12 de setembro de 2019, à celebração de um Pacto Global pela Educação.

O grande encontro, que reuniria milhares de especialistas de diversos setores e majoritariamente jovens, estava convocado para acontecer em Roma, em 14 de maio de 2020. A pandemia provocada pelo coronavírus não o permitiu e foi adiado para outubro próximo. Tudo indica que também poderá não acontecer e terá que esperar mais um pouco. 

O papa parte do entendimento de que temos uma “emergência educativa” e propõe uma educação integral e inclusiva, que tenha como seu centro o desenvolvimento da pessoa e a proteção da casa comum. Isso nos levará a compreender o mundo como lugar de fraternidade e a educação como meio para promover a mesma, e não somente para desenvolver a pessoa e suas potencialidades de forma individual.

Essa abertura ao outro nos urge a respeitar a diversidade e entender a vida como lugar de encontro e diálogo entre culturas, gerações e crenças. A vida, recebida gratuitamente, é o vínculo que une a humanidade e a fraternidade, a nossa identidade objetiva.

Assim, eleva-se a fraternidade a uma categoria cultural, um dado antropológico fundamental que irmana a todos os seres humanos, numa relação que deve se tornar enriquecedora, complementar e servidora. Fomos criados, diz o documento, “não só para viver com os outros, mas também para viver a serviço dos outros”.

Essa postura da educação confrontará a idolatria do eu, promovendo uma transformação antropológica benéfica para todos. É a compreensão da consciência de “uma origem comum, recíproca pertença e futuro partilhado por todos” (Laudato Si, n. 202). Trata-se de reconstruir a identidade humana, afirma Francisco.

O Papa dá um passo à frente e propõe uma “Aldeia Educativa”, na qual a escola, a família e a comunidade se comprometam e somem esforços na construção da cidadania global. A ideia é de que esse esforço comum nos ajude a superar o mundo fraturado no qual vivemos, fruto da ruptura da solidariedade dos seres humanos entre si e com a natureza.

A partir dessa superação, será possível reconstruir a identidade humana, solidária e fraterna com todas as formas de vida, superando a cultura do descarte que ora impera entre nós. Uma identidade do ser humano, presente e mais serena, exigirá reconstruir os laços quebrados com a memória e com o futuro, com as raízes e com a esperança.

O papa alerta que, no fundo, a crise ambiental é reflexo da crise relacional entre humanos e que o que está em jogo é o futuro das relações humanas e com a natureza. Por isso, a proposta é de uma educação ecológica integral, onde aconteça uma reciprocidade entre interioridade e exterioridade, identidade e alteridade, entre si e o outro.

A questão, na visão do documento, é ontológica e antropológica. “Não haverá ecologia sem uma nova antropologia” (n. 118). Essa nova compreensão promoverá a harmonia dos seres humanos com toda a criação.

Isso exigirá, sem dúvida, repensar tanto o espaço escolar como o papel do educador. Reposicionar o papel da escola significa entendê-la como espaço de convivência e diálogo, como ambiente para o desenvolvimento social e cognitivo dos integrantes, tendo como centro a pessoa, que é relação.

Quanto ao professor, o documento sugere uma desconstrução do papel do educador como mero transmissor de conteúdos e detentor do conhecimento, e promover a vocação do educador-pedagogo, sempre em formação e com mentalidade de “bom pastor”.

A aposta é, portanto, impulsionar um processo educativo que tenha: a pessoa no centro (educação humanista); que gere compromisso comunitário (service learning); que esteja comprometido com o diálogo e a paz (cultura do encontro); que promova uma economia solidária (inclusiva e criativa) e uma abordagem de ecologia integral (ambiental, humana, social, econômica e cultural).

A terra árida da alma humana clama por uma chuva benéfica e fecunda dessa educação, que nos ajude a construir o diálogo, a paz e o respeito, entre nós e com a natureza. 

Pois, como diz o papa Francisco, “a educação é geradora de esperança”.
A primavera vai voltar!

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