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Pandemia de saúde, conhecimento e solidariedade

'O mundo, certamente, não será o mesmo após os dias que ora estamos vivendo'


postado em 23/03/2020 04:00 / atualizado em 23/03/2020 11:15

(foto: Agência Gazeta/Agência Brasil)
(foto: Agência Gazeta/Agência Brasil)
Bombardeados, insistente e instantaneamente, por vídeos, mensagens, reflexões, palpites, alertas e opiniões dos quatro cantos do mundo, nos debatemos entre a perplexidade e o medo pela crise de saúde que nos ameaça. Acostumados à correria, ao consumo, aos projetos de médio e longo prazo, ao individualismo e à superficialidade da rotina, vemos, de repente, o nosso mundo se reduzir à nossa casa, a sociedade toda à nossa família, obrigados a encontrar-nos com nós mesmos e nossos limites. A tentar entender que a crise planetária que nos afeta não é apenas de saúde, mas de humanidade. Somos todos, um; um, somos todos. Sem limites, sem fronteiras.

As perguntas são sempre as mesmas: como é possível que uma sociedade altamente tecnológica, que avança pelos espaços interestelares, que alcançou os cumes das ciências, da medicina, da robótica, que conquistou a alma do ser humano e seus segredos, se encontre ameaçada por um vírus? Como é possível que ele, o vírus, tenha a capacidade de fechar fábricas, destruir empregos, balançar as bolsas, fazer retroceder as economias, reformular sistemas políticos e questionar seus atores, esvaziar cidades, confinar multidões, parar esporte, turismo e lazer,  provocar medo e insegurança, tornar o nosso futuro incerto e semear a morte e a distância no convívio entre as pessoas? Como é possível que, em poucos dias, modelos civilizatórios e sociais de séculos “se desmanchem no ar”?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a crise por coronavírus como pandemia (do grego pan-demos, povo inteiro). Na pandemia somos um povo só, um povo inteiro. Segundo a OMS, três condições devem se dar para que uma doença seja considerada como pandemia: que seja uma nova doença na população; que o agente infecte humanos, causando uma grave doença e que se espalhe fácil e sustentavelmente entre os mesmos.

Faz parte da crença popular e da necessidade de encontrar explicações, acreditar que tudo já tinha sido previsto, dando vasão às explicações mais singelas, imediatistas e estapafúrdias. Para isso, vale citar o Apocalipse (no capítulo 15 se fala das 7 pragas), Nostradamus (1555), autores mais modernos (Dean Koontz, The eyes of darkness, 1981, teria previsto a cidade de Wuhan como epicentro de um vírus letal), ou, até mesmo, a literatura em quadrinhos (Asterix e Obelix) e os desenhos animados (Os Simpsons).

Até Bill Gates (numa TED em 2015, teria anunciado uma grande pandemia por vírus) e Raul Seixas (O dia em que a terra parou) entraram na dança. Teorias sobre a conspiração da China, que teria criado o vírus em laboratório para dominar a economia mundial e ocupar o centro geoestratégico do planeta, também circulam nas redes. Tudo parece servir quando o momento é de fragilidade, medo e desconcerto. Seja como for, a realidade está aí e esse vírus está deixando à vista verdades necessárias importantes.

Essa nova pandemia não é a primeira e nem será, certamente, a última da história humana. As pragas não são um fenômeno novo e na história da humanidade encontramos até oito pandemias por cólera e outras 10 ou mais por diversos tipos de gripe ou doenças. Algumas conhecidas: a “Peste Negra” (1346-1353), a “Gripe Amarela” (por volta de 1918), a “Gripe Asiática” (1889-1892) e a “Gripe Espanhola” (1918-1919). Mais recentemente, o Ebola, a Aids, Sars e a gripe por H1N1, que em 2009 foi declarada pandemia pela OMS. Todas elas ultrapassaram fronteiras e ceifaram milhões de vidas.

O mundo, certamente, não será o mesmo após os dias que ora estamos vivendo. A humanidade como um todo, crianças e velhos, homens e mulheres, de todas as raças, credos e condições, todos e cada um de nós, seremos afetados. Contagiados clinicamente ou não, mas outros contágios acontecerão. A humanidade não será a mesma e o aprendizado, imenso, nos possibilitará transformar as nossas vidas e nos abrirá novos horizontes de um futuro melhor em convivência, paz e solidariedade.

O que podemos e devemos aprender? 

1. A nossa fragilidade e a interdependência da solidariedade humana. Salvar-nos juntos é a única alternativa. Isso supõe construir uma consciência geral do nosso destino comum com todas as formas de vida.
2. Colocar-nos a possibilidade da existência de uma esfera pública planetária, que garantisse a paz, a saúde e a educação de todos os seres que habitamos o planeta Terra. A atual situação expõe, de forma inconteste, a fragilidade e a inadequação do modelo da ONU e da OMS. Uma governabilidade planetária nova com nova visão.
3. “Não podemos descuidar a justiça social, agora que a emergência do coronavírus está criando uma nova crise econômica. Esse momento, de grande necessidade, pode ser um bom momento para fortalecer a solidariedade, a proximidade entre os Estados e a amizade entre os povos, até construirmos a fraternidade universal de todos os povos, mulheres e homens, raças e culturas”. (Mensagem do cardeal Peter Turkson).
Isto é, cuidar melhor dos mais frágeis.
Uma pandemia de solidariedade, saúde e educação será capaz de ajudar-nos a construir uma Nova Ordem Internacional, na qual os direitos básicos dos indivíduos e dos povos sejam respeitados e, por fim, todos nos reconheçamos como humanos, diferentes e interconectados.
A lição está dada e esse aprendizado é fundamental!

Francisco Morales Cano, foi diretor-geral do Colégio Santo Agostinho BH por 20 anos. Atualmente é sócio-fundador da DOXA Educacional.

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