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Estado de Minas RASGANDO O VERBO

Patrulhamento vocabular é resultado de desconhecimento ou oportunismo

Argumentar que vocábulos como 'judiar' e 'denegrir' carregam e reforçam preconceitos é negar o caráter vivo da língua


postado em 27/01/2020 04:00

“Judiar”, “denegrir”, “a situação está preta”. O que essas palavras e expressões têm em comum? Na visão de alguns, leitor, os vocábulos em questão seriam uns dos responsáveis pela manutenção de preconceitos. Contudo, à luz de um conhecimento linguístico razoável e de um pensamento não tão imbuído de paixões ideológicas, qualquer um é capaz de perceber a tolice de tal patrulhamento vocabular.

Os argumentos dos vigilantes politicamente corretos se baseiam na ideia de que essas expressões perpetuariam preconceitos na medida em que “judiar” (palavra formada por “judeu” mais “iar”), cujo significado inicial estava relacionado a “tratar como os judeus foram tratados”, seria uma afronta ao povo judeu. Os guardiães do novo modo de se falar também afirmam que “denegrir” e que “a situação está preta” deveriam sumir da boca dos falantes na medida em que esses termos estariam associados ao preconceito contra a raça negra.

Ora... Honestamente, fico em dúvida se as pessoas defendem essas ideias por falta de conhecimento ou por oportunismo. Em primeiro lugar, deve-se entender que a língua é viva, ou seja, quem utiliza, hoje em dia, “judiar” não faz nenhuma relação desse uso com os judeus. E afirmo isso na condição de quem possui sangue judeu nas veias, o.k.? O tempo passou e a palavra perdeu o significado inicial, pronto. Mas vamos aos outros dois casos, que são mais esdrúxulos. Tanto “denegrir” quanto “a situação está preta” fazem referência, hoje, à cor preta, não ao negro. Se digo que a imagem de alguém foi denegrida, eu apenas quero dizer que esse indivíduo não possui mais uma imagem clara, transparente, visível. Ou os brasileiros se esqueceram de que preto e negro, antíteses de branco, remetem à ausência de cor, à obscuridade? Se a situação está preta, leitor, é sinal de que eu não consigo enxergar solução para ela. E só.

Enfim, tenho um dó danado das palavras. As coitadas (lexia que nada tem a ver com “coito”, como muitos defendem) acabam pagando por delírios políticos e ideológicos. Agora só falta alguma associação de veleiros exigir o fim do uso da palavra “embarcar” se esta não for utilizada para denotar a entrada de algo ou de alguém em um barco. Ora... Continuaremos a embarcar em trens, em ônibus e em aviões. Mas sempre haverá pessoas que, por questões ideológicas, teimarão em denegrir a língua portuguesa. Uma judiação! É... Realmente, a situação está preta.

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