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A palavra empoderada não sai mais da boca das pessoas

Criou os filhos sozinha? Empoderada. Trabalha fora e também se dedica ao marido e aos filhos? Empoderada. Não depila as axilas? Empoderada. Estamos vivendo uma verdadeira praga, a praga linguística do empoderamento


postado em 13/01/2020 04:00

Empoderar, empoderamento, empoderada. De acordo com o dicionário de língua portuguesa Michaelis, empoderar significa “Investir (-se) de poder, a fim de promover ações que possam provocar mudanças positivas no grupo social”. O termo empoderamento, por sua vez, tem como autor o educador Paulo Freire, que traduziu o vocábulo inglês empowerment. Mas Freire não fez só isso: ele acrescentou à palavra aportuguesada um sentido relacionado a uma atitude ativa diante do processo de conquista, ao contrário das traduções nos dicionários de inglês, nas quais o vocábulo em questão se refere a uma atitude mais passiva, em que o sujeito recebe o poder ao invés de conquistá-lo. E o termo empoderada? Bem, é sobre este que eu vou falar.

Depois da popularização da lexia empoderamento, foi um pulo para a palavra empoderada não sair mais da boca das pessoas, situação que me causa profundo desgosto. Antes que os amantes de Paulo Freire me atirem pedras, devo salientar que o meu compromisso é com o bom uso da língua portuguesa, não com as teorias educacionais, filosóficas ou políticas, o.k.? Tendo isso em vista, vamos lá.

Na condição de amante da boa colocação das palavras, sinto verdadeiro horror à banalização com que muitos falantes tratam certos vocábulos da língua portuguesa. De uns tempos para cá, quaisquer atitudes tornam uma mulher empoderada, já percebeu? E, por favor, não existe, aqui, nenhuma crítica ao feminismo. Aliás, se eu fosse uma militante feminista, eu ficaria p* da vida com o uso irresponsável que diversos brasileiros – em especial brasileiras – andam fazendo do termo em questão.

Criou os filhos sozinha? Empoderada. Trabalha fora e também se dedica ao marido e aos filhos? Empoderada. Não depila as axilas? Empoderada. Consegue ser CEO de uma grande empresa, cuidar da família e ainda arrumar tempo para se depilar? Empoderada. Assumiu um relacionamento amoroso com uma mulher? Empoderada. Largou uma carreira de sucesso para viver, em outro país, um grande amor com um homem? Empoderada. Consegue dizer, publicamente, que não quer gerar filhos? Empoderada. É mãe de cinco adolescentes? Empoderada. Posta foto de biquíni com celulites e gorduras à mostra? Empoderada. Posta foto do corpo perfeito no Instagram? Quanta dedicação... Empoderada. Meu Deus! Estamos vivendo uma verdadeira praga, a praga linguística do empoderamento.

Mas por que isso é ruim? Porque, caro leitor, quando uma palavra se torna um clichê, um lugar-comum, ela imediatamente perde o valor, o sentido. E, ao esvaziar-se o sentido dos vocábulos, esvazia-se, paulatinamente, o sentido das ações. Para o caso da praga linguística do empoderamento, não consigo ver nenhum pesticida que possa ser eficaz. Talvez a única solução seja o bom senso, tão em falta nos dias atuais. Ah, se você gostou deste artigo, por obséquio, não diga por aí que sou empoderada. A língua portuguesa e eu agradecemos.

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