
Lula rebateu quando questionado se, no passado, teria estimulado a divisão do país do “nós” contra “eles”: considerou a polarização em política “saudável” e disse que ela não significa estímulo ao ódio. Salientando a diferença entre adversário político e inimigo, disse ter saudades dos tempos de polarização política entre PT e PSDB, quando as ideias brigavam, as pessoas não. Ex-adversário político, Geraldo Alckmin, egresso do PSDB, agora no PSB, foi também figura de imagem para a estratégia discursiva da conciliação: valorizou o seu vice, sinalizou que ele terá um papel importante em um eventual futuro governo e avisou que, se ganhar a eleição, os dois irão governar juntos, unindo experiências. Lula se respaldou em Alckmin para salientar ao setor produtivo, que, assim como em seu primeiro mandato presidencial, será bem-sucedido na condução da economia.
Lula driblou as perguntas sobre corrupção, cobradas pelo espectro do eleitorado para o qual escolheu se dirigir na entrevista. Defendeu a atuação do Ministério Público e da Polícia Federal dentro do regramento do estado de direito e tratou de assinalar a temática reversa: a corrupção só aparece quando há órgãos que a investigam, disse ele. "Eu poderia ter escolhido um Procurador engavetador. Sabe aquele amigo que você escolhe e que nenhum processo vai para frente? Eu poderia ter feito isso e não fiz. Escolhi da lista tríplice. Eu poderia ter impedido que a Polícia Federal tivesse um delegado que eu pudesse controlá-lo. Não fiz. E permiti que as coisas efetivamente acontecessem do jeito que precisava acontecer”, disse ele, em crítica implícita ao seu principal adversário na corrida presidencial.
Lula marcou forte contraponto a Jair Bolsonaro ao longo de toda a entrevista. Defendeu as instituições democráticas, mas, sinalizou que não pactuará com abusos: chamou de “escárnio” o denominado orçamento secreto em benefício de parlamentares inaugurado no governo Bolsonaro, que avisou, vai se encerrar em seu governo. Para isso, prometeu mágica: vai terminar com a farra das emendas secretas de centenas de milhões dialogando com deputados. E avisou que não entregará ao presidente da Câmara dos Deputados a tarefa presidencial de governar, portanto não aceitará o que chamou de “semipresidencialismo”.
O público com o qual Lula conversou ao longo da entrevista já tem candidato. Os recados ao setor produtivo e aos órgãos de controle prestaram-se mais àquilo que pode ser entendido como a construção de pontes para a governabilidade de um eventual futuro governo do que propriamente para conquistar votos. Mas, pela serenidade e segurança com que dialogou, tampouco os perdeu.
