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Casamento e câncer de mama: o amor cura

Coragem não é não ter medo, é agir apesar do medo! É ficar e apoiar. É cuidar. É dar amor


postado em 19/01/2020 14:20 / atualizado em 19/01/2020 14:33


Faz parte do pacote casamento o envelhecer junto, curtindo as mudanças. “Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Até que a morte nos separe.” Sou casada há 16 anos com um amigo que conheci em 1995 na faculdade de arquitetura. Amizade colorida.

A gente aprende que depois do casamento vem os “felizes para sempre”. Na teoria é perfeito, mas a verdade é que, na prática, não funciona bem assim. Casamento é um compromisso que a gente tem que assumir todos os dias quando acorda.

Depois que chegam os filhos, muda tudo. O que dava certo para dois, não funciona para três. A fórmula é outra e demora para descobrirmos como fazer dar certo com uma pessoinha a mais.

E quando a minha pessoinha estava para completar 10 anos, a fórmula funcionando, com ajustes frequentes, mas funcionando. Descobri um câncer de mama.

Uma doença mexe com toda a família, temos que lidar com isso juntos. Mãe fica doente, pai fica doente, filho fica doente. Ah, ainda bem que fui eu!

Quantas vezes me disseram: “Bebel, você é muito forte enfrentando o câncer”.

Não estou fazendo isso sozinha! Mas o fato de ter aprendido a amar cada imperfeição do meu corpo ajudou muito. O fato de estar com alguém que valoriza a minha essência me ajuda muito.

Fiz uma cirurgia, uma quadrantectomia, retirada de uma parte da mama onde estava o tumor. Depois fiz 20 sessões de radioterapia. Foi como se tivesse tomado sol sem proteção durante um mês. A mesma queimadura, a pele soltando. Não houve necessidade de fazer uma mastectomia, aquela cirurgia que retira toda a mama, meu tumor era pequeno e pouco agressivo.

As mulheres me diziam para tirar tudo, aproveitar para “turbinar”, colocar silicone. Mas meu marido não disse nada sobre questões estéticas. Nem diante da possibilidade de ter que fazer quimioterapia e ficar careca. Nem diante da possibilidade de fazer mastectomia, antes da definição pelo tipo de cirurgia. Nem sobre o que eu devo ou não devo fazer depois que isso tudo passar. Ele apenas me apoia.

O corpo é meu e a decisão é minha. Tenho certeza que ele não precisa fazer nenhum esforço para amar quem eu sou. E a recíproca é verdadeira. Como disse Kristoff, em Frozen 2: “Meu amor não é frágil”.

Infelizmente, no Brasil, 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama são abandonadas pelos seus maridos após o diagnóstico. A dor do abandono é muito pior que o tratamento.

Quando falei sobre isso recebi depoimentos tristes, mulheres casadas há 10, 15 anos, me contando que tinham se separado, que o marido não deu conta. “Ele disse que eu estou feia careca.” “Ele não suporta me ver sem meus seios.”

Já é tão difícil a gente ter que lidar com todas as questões estéticas, os tratamentos, os efeitos colaterais. E a mulher ainda precisa lidar com as cobranças pela perfeição não atingida.

Na saúde e na doença, seria a minha saúde e a sua doença? O contrário não vale?

Que lugar triste esse de esposa descartável. Deve ser horrível precisar se preocupar com o que o outro vai pensar sobre a aparência do seu corpo quando a prioridade deve ser a saúde. Deve ser pior ainda ser marido covarde que foge quando a coisa aperta. E muitas vezes isso acontece até por ignorância, por falta de informação sobre o câncer e sobre o tratamento.

Nem todo paciente oncológico precisa fazer quimioterapia, eu não precisei.

Nem todo paciente oncológico vai ficar careca.

Nem todo mundo que faz quimioterapia fica careca.

O cabelo volta a nascer depois que o tratamento termina.

Nem toda mulher que tem câncer de mama precisa fazer mastectomia.

Muitas vezes, a reconstrução da mama pode ser feita junto com a mastectomia. E, quando não dá, as mamas serão reconstruídas depois, a reconstrução é acessível, pode ser feita pelo SUS. O tratamento é por um período, mais longo ou mais curto dependendo do caso, mas ele não dura para sempre.

Câncer tem cura! Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores serão as chances.

A mulher tem coragem, fica e luta. Segundo estudo do Observatório de Oncologia, 10% a 25% das pacientes com câncer de mama têm chances de ter depressão, e quem já teve depressão antes do diagnóstico de câncer tem mais chances de ter novos episódios depressivos. O impacto do diagnóstico, o medo do tratamento, e da morte, as dúvidas, os efeitos colaterais, o abandono, são fatores que aumentam as chances de um quadro depressivo.

Maridos, estamos aqui para cuidar de vocês e queremos que vocês sejam capazes de fazer o mesmo. Coragem não é não ter medo, é agir apesar do medo! É ficar e apoiar. É cuidar. É dar amor. Amor cura.

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