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Estado de Minas

Estou exausto

Mentes e corpos adoecidos: a população negra no Brasil não tem um dia sequer de paz


26/05/2023 15:37 - atualizado 26/05/2023 16:46
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Imagem em preto e branco de um homem negro levantando sua mão com o punho fechado em frente a uma multidão
(foto: Marco Allasio/Pexels)

Escrevo essa coluna exausto. Como já disse Ana Minuto, especialista em Diversidade e Inclusão e Conselheira: "Basta uma pessoa preta sair de casa que ela vai sofrer racismo". Infelizmente, não temos sequer um dia sequer de paz nesse país. 

24/06 - “Simulador de Escravidão”: Um jogo disponível na PlayStore, plataforma de distribuição digital do Google, chamado “Simulador de Escravidão”, da MagnusGames, até a manhã da ultima quarta-feira (24), tinha mais de mil downloads e 70 avaliações. Isso mesmo, foram mais de MIL DOWNLOADS! Sem falar dos vários comentários como esses: “Simulador excelente. Agora posso ter uma noção de como os meus antepassados administravam os seus négocios”, escreveu um usuário. “Muito bom mesmo, retrata bem o que eu gostaria de fazer na vida real”, afirmou outro. Na descrição do game, a produtora Magnus, incluiu que o “jogo foi criado para fins de entretenimento” e que condena a escravidão no mundo real.. Haja cara de pau e cinismo! 

23/06 - Apresentadora destrata AO VIVO chef de cozinha negro: Durante o preparo de uma receita de doces para diabéticos, o Chef de Cozinha, Esdras de Lúcia, passou por uma situação muito constrangedora. A apresentadora Claudia Tenório, no programa Viver Melhor, da Rede Vida!, por diversas vezes interrompeu seu convidado durante a apresentação dos ingredientes e das instruções de preparo. Além disso, a apresentadora não sabia qual era o nome do chef. No vídeo, é possível ver várias vezes Claudia tratando Esdras com rispidez e deboche. Em suas redes sociais, o chef desabafou: “Ela queria me dar aula. Foi uma sensação horrorosa, ela não só queria me dar aula, como também não teve paciência nenhuma comigo ao vivo… Como se eu não soubesse o que eu estava fazendo… Será que se eu fosse branco ela me trataria desse mesmo jeito?”

21/06 - Vinicius Junior, mais uma, vez alvo de racismo em campo: O atacante brasileiro, do Real Madrid, foi alvo de mais uma ação racista em um jogo contra o Valencia, na Espanha, no último domingo (21). Durante a partida, Vini escutou diversos insultos racistas e gritos de 'macaco' vindos das arquibancadas. O jogo foi paralisado por cerca de oito minutos. Depois de uma grande confusão em campo, o atacante brasileiro foi hostilizado por torcedores e jogadores rivais, levando um mata-leão de Hugo Duro, e foi o único jogador expulso do campo.

Esses são alguns dos casos de racismo que ganharam a mídia nesta semana. Mas você já parou para pensar quantas situações como essas e outras tantas são praticadas diariamente no Brasil e não chegam às redes sociais ou à grande imprensa? 

Estou exausto por todas essas situações de opressão e ódio: 

Estou exausto por viver em um país onde ações de racismo ainda são naturalizadas, exausto por viver em um país onde o racismo ainda é fonte de “entreterimento”. 

Estou exausto por todos os casos de racismo nos quais a vítima foi silenciada por medo de perder o emprego e foi pra casa chorando de dor pela vergonha, pela humilhação, pelo medo, pela frustração e pelo constrangimento.

Exausto por todos os casos de racismo que a pessoa negra tomou coragem de levar a situação para as lideranças da empresa e, no lugar de ser acolhida, apoiada, acabou sendo demitida. 

Estou exausto de além ser alvo de racismo e ter que lutar contra o sentimento de vergonha e culpa. 

Estou exausto por todas as pessoas que foram alvo de racismo, mas tiveram sua palavra desacreditada por não terem gravado a situação dolorosa. 

Exausto pelas “brincadeirinhas” e “piadas” racistas feitas em reuniões de família, trabalho, ou entre amigos. Estou exausto pelo descaso e pela negligência que pessoas negras alvos de “piadas” e “brincadeiras” racistas são tratadas. Exausto por ver muitos dos meus sendo acusados e tachados de mimizentos diante dessas “piadas racistas”. 

Estou exausto por viver em um país onde "basta uma pessoa preta sair de casa que ela vai sofrer racismo”. 

Exausto de ver pessoas sendo racistas e escapando de responder judicialmente só porque pediu “desculpa”, o famoso “se alguém se sentiu ofendido”. 

Mesmo sabendo que, infelizmente, ainda é necessário, estou exausto por ter que falar o óbvio tantas vezes nesta coluna. 

Como fica a saúde mental da população negra diante de tanto racismo, desrespeito, negligências e desumanização? Mentes e corpos exaustos e adoecidos. 

Mas não se engane, mesmo exaustos, diante de situações de racismo, não vamos levar na “esportiva”, não vamos “engolir calados”. Não espero isso de nós! 

E você, pessoa não negra que se diz antirracista, já se responsabilizou de fato ou só é #antirracista? 

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E se você é uma pessoa negra que precisa de atendimento psicológico ou psiquiátrico, mas no momento não tem condição de pagar uma consulta, tenho a indicação de uma lista de profissionais que atendem de graça ou com um valor acessível. É só me procurar nas minhas redes sociais (@arthurbugre).

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