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País vira meme global, após piadas do papa e do prêmio Nobel

''Grosseria dos radicais mancha a imagem do Brasil, alvo de blagues do papa e do Nobel Paul Krugman''


30/05/2021 04:00 - atualizado 01/06/2021 15:21

O papa Francisco brincou com os brasileiros, ao dizer que no país se bebe muita cachaça e as orações são poucas(foto: Alberto Pizzoli/AFP )
O papa Francisco brincou com os brasileiros, ao dizer que no país se bebe muita cachaça e as orações são poucas (foto: Alberto Pizzoli/AFP )
Os depoimentos dos governistas na CPI da Pandemia no Senado, entre caras e bocas ora de pânico, ora de soberba, mas sempre de quem tem algo a esconder, dão razão, por mais embaraçosa que seja, à blague do economista Paul Krugman já na segunda linha de um artigo no The New York Times, esta semana, em que caçoa de promessas tecnológicas em torno das quais há muita espuma, como as criptomoedas.

“É o equivalente monetário da velha piada sobre o Brasil”, zombou o popstar Nobel de Economia. “É o país do futuro e sempre será.” Isso foi na terça. Na quarta, abordado no Vaticano por um padre brasileiro que lhe pediu orações pelo Brasil, o papa Francisco não resistiu e, sorrindo, disparou: “Não tem salvação. É muita cachaça e pouca oração”.

Com seus gracejos, Krugman e o papa expressaram o sentimento de decepção com um país do qual se esperava mais que as alegorias das campanhas da Embratur para seduzir gringos incautos – samba, carnaval, mulheres de fio-dental, natureza exuberante...

A truculência da extrema-direita alçada ao poder manchou a imagem idílica da propaganda. As queimadas na Amazônia e no Pantanal, as invasões de terras indígenas, a violência miliciana, especialmente no Rio e nos garimpos, e o descontrole pandêmico rasgaram o resto.

A distância, a impressão de um país degradado parece mais nítida, ou não seria crescente a diáspora dos que migram buscando o melhor para suas vidas – emprego, renda, segurança, educação de qualidade. A migração legal para os EUA bateu recorde em 2020, com destaque para os vistos aos “trabalhadores de qualidade”, como os define a imigração americana – 1,9 mil entre 7,2 mil concedidos – uma evasão de talentos não vista nem na brutal recessão do biênio 2015-16.

O Brasil interrompido, num processo de frustrações acumuladas que vêm desde os anos 1980, está em toda parte. Na CPI que busca apurar as responsabilidades pelo número absurdo de mortes, quase 460 mil em 14 meses, devidas a um vírus contra o qual só vacinas salvam vidas, as razões do fracasso da nação despontam a cada sessão.

A vacinação começou em janeiro. Mas poderia ter começado com 60 milhões de doses já em dezembro, como revelou – com documentos – o diretor do Butantan, Dimas Covas, à CPI, além das doses que Carlos Murillo, da Pfizer, também provou terem sido oferecidas ao governo a partir de agosto, e só este ano foram compradas. Contra fatos não há argumentos, apesar do esforço patético dos senadores governistas.

O crescimento que ilude


O barbarismo da pandemia no país, que até 2018 tinha o serviço de imunização mais elogiado do mundo, segundo a OCDE, a OMS, a ONU, abalou a economia, já muito fragilizada por 40 anos de desgastes sucessivos. Reerguê-la é a prioridade número 1, além da vacinação.

Não será fácil, como demonstram o governo e os seus acólitos no mercado financeiro, entusiasmados com projeções de crescimento da economia de 4% a 5% este ano, depois da queda de 4,1% em 2020. Só que tal crescimento apenas repõe o PIB, Produto Interno Bruto, ao nível em que se encontrava ao fim de 2019 (basta que cresça 4,3%).

Esse crescimento contrasta com o quadro do desemprego, que segue em alta e cada vez mais precarizado, com a maioria sobrevivendo do trabalho informal ou se registrando como microempresário – o que o tira da estatística do desemprego, mas não assegura a sua renda.

Em 1970, o general-presidente Emílio Médici disse que “a economia vai bem, mas o povo vai mal”.  Hoje, 51 anos depois, ambos vão mal. É o que se infere das projeções de crescimento para 2022: em torno de 2,5%, insuficientes para criar empregos na conta necessária para atender à expansão demográfica e os que ficaram para trás, além de pouco para recuperar a renda per capita perdida.

O progresso sequestrado

A verdade é que o desenvolvimento está travado devido à obsessão fiscalista que sequestrou as políticas monetária e fiscal a partir do Plano Real de 1994, relegando a nota de rodapé o planejamento de longo prazo e a prioridade do crescimento movido pelo investimento.

Sedimentou-se a crença de que o país tende à insolvência pelo peso da dívida pública e o gigantismo do Estado, justificada em parte pelos erros mais de execução que de formulação na gestão de Dilma Rousseff, levando-a a ser impinchada por maquilagem contábil.

Em vez de correções, porém, processou-se a captura ideológica da formulação econômica pelo ortodoxia mercadista, elevando à condição de verdade científica o desinchaço não bem do Estado, mas de suas políticas de promoção da riqueza privada e de mobilidade social.

Essa discussão é inescapável à campanha eleitoral que se avizinha, e cabe ao centro democrático fazê-la à esquerda e à direita. Se for preterida pelas promessas populistas, há risco de que a revolta dos desprezados pelas reformas tecnocráticas no Chile, no Peru, na Colômbia, em fermentação no México, nos EUA pré-Trump, sacadas muito bem por Joe Biden, chegue também ao Brasil na década em que a transformação tecnológica e climática promoverá mudanças radicais.


Necrofilia ideológica


A providência imediata é enterrar o que o jornalista venezuelano Moisés Naím chama de “necrofilia ideológica” – um amor por ideias que foram experimentadas e provaram não funcionar. Elas vão do desenvolvimentismo estatizante, que só serve à burocracia pública, a oligarcas partidários e a grupos empresariais reacionários, ao ultraliberalismo imposto como se fosse um dos direitos humanos.

O país carece de um sentido de missão com dimensão tanto econômica quanto social. A infraestrutura física (transportes, energética, de comunicação) e a gestão privada precisam adotar a economia digital de fronteira não como opção, mas como necessidade. A atenção social merece ser tratada como valor inegociável e ir além dos marcos de políticas de renda. Como? Promovendo a educação profissionalizante tecnológica como fundamento do ensino médio e superior, gerido em sintonia com as habilidades demandadas pelo mercado não mais como compartimentos estanques – educação de um lado, economia de outro.

O patrimônio real e sustentado da nação é o gigantismo do mercado de massa estagnado, não as reservas naturais, devastadas pela má intenção de autoridades ambientais e a bandidagem edulcorada como o que não é, forças empresariais. Mire-se a formação do ativo mal aproveitado da população e a produtividade da economia dará o salto necessário para o desenvolvimento enfim despontar. Não há opções.

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