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Estado de Minas Coluna

Brincar virou pecado! Onde foi parar nosso bom humor?

Brincadeira do papa Francisco de que o "Brasil não tem salvação, porque é muita cachaça e pouca oração" escandalizou e desagradou algumas pessoas por aqui


02/06/2021 04:00

Brincadeira do papa Francisco de que o %u201CBrasil não tem salvação, porque é muita cachaça e pouca oração%u201D escandalizou alguns por aqui (foto: Alberto PIZZOLI/AFP)
Brincadeira do papa Francisco de que o %u201CBrasil não tem salvação, porque é muita cachaça e pouca oração%u201D escandalizou alguns por aqui (foto: Alberto PIZZOLI/AFP)

Ah, nem... Cansei! Onde foi parar nosso bom humor? O brasileiro está perdendo uma de suas boas qualidades que é a leveza. Sempre fomos bem-humorados, apesar de todos os problemas, nunca perdemos a qualidade de conseguir extrair o lado bom das coisas e até mesmo de rir de nossas tragédias. Infelizmente, de uns anos para cá parece que nada mais pode ser dito que vira crime.

Desde que entramos na democracia, era possível escolher nossa ideologia política, votar em quem queríamos e conviver com parentes e amigos que pensavam diferentemente de nós, sem brigas. Havia respeito, e a amizade e o amor eram valores mais importantes. Nas últimas eleições presidenciais, a divergência política virou crime. Nunca vi coisa igual. Pais e filhos brigaram de ficar sem se falar, amigos romperam relacionamentos de décadas. Isso não faz parte do perfil da nossa raça.

Semana passada, conversando com uma amiga, ela disse em tom de repreensão se havia ouvido o que o papa Francisco tinha dito sobre o Brasil. Estava em uma semana assoberbada de serviço e tinha uns dois dias que mal conseguia escrever as matérias e responder aos e-mails e mensagens de WhatsApp. Navegar na internet estava fora de questão. Continuou, contando escandalizada: “Pediram a ele para orar pelo Brasil e ele respondeu que o Brasil não tem salvação, porque é muita cachaça e pouca oração”.

Tenho que confessar que estranhei. Aquela fala não combinava em nada com o que vemos do papa desde que ele foi eleito. E ela continuou dizendo que não se falava em outra coisa por aqui e todo mundo horrorizado. Claro que, assim que pude, fui me inteirar do assunto. Qual não foi a minha surpresa quando vi o vídeo viralizado e li as notícias veiculadas nos jornais on-line?

O papa Francisco fez uma brincadeira, falou rindo. E o padre Carlos Henrique, de Divinópolis, que postou o vídeo, disse que foi uma fala de afeto, carinho e proximidade, e complementou contando que, em seguida, o pontífice fez um sinal da cruz em sua testa e disse que sempre ora pelo nosso país, e que tem um carinho muito grande pelos brasileiros.

Pode ser que a brincadeira tenha sido de mau gosto, mas quem nunca “meteu os pés pelas mãos” alguma vez na vida? Não é porque ele se tornou papa que deixou de ser humano. Apesar de ser chamado de “santo homem”, como a expressão mesmo diz, santo homem. Só Deus não falha. Mas em sua expressão, e tom de voz, com a risada, fica claro que a intenção era única de brincar carinhosamente.

E ele falou alguma mentira? Não se bebe muito por aqui? Bebe-se sim. E é cachaça mesmo. E tem pouca oração, porque, apesar de a maioria da população ser católica, proporcionalmente ao número de batizados, poucos são os praticantes.

Isso não significa que não temos salvação, porque Deus é amor, e sua misericórdia e sua graça estão sobre nós constantemente, basta cada um querer, porque esta, sim, é uma decisão pessoal, individual, única e ninguém pode escolher pelo outro.

Gostei mesmo foi do sambista Boca Nervosa, que entrou no clima da brincadeira e mais rápido do que o The Flash criou um samba – não sei se a composição foi dele ou de outra pessoa, ou se teve algum parceiro –, gravou e jogou na rede. Divertido, já viralizou e deve ter chegado ao papa, que, provavelmente, deve ter arriscado uns gingados no ritmo, escondido das câmeras, porque ele sim não perdeu seu savoir faire du vivre.

Segue um trecho da letra e sugiro que os “acusadores” de plantão ouçam a música, recuperem a leveza na vida. “O papa falou que o Brasil não tem mais solução. Disse que é muita cachaça e pouca oração. Santidade, eu discordo do que o senhor tá falando. No Brasil nós bebe cachaça, mas oferece para o santo. Tá certo que em todo canto tem um cachaceiro, mas o povo brasileiro sempre foi gente de fé.” O samba cita todas as religiões e termina, com muito humor, dizendo que depois das reuniões religiosas é de lei “tomar uma no bar do Zé, com muita fé”.

(Isabela Teixeira da Costa/Interina)




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