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Pierre Cardin: 'Fecho os olhos e vejo formas. Em casa e em silêncio, crio'

Morto aos 98 anos, relembre os principais trechos da entrevista do estilista francês quando esteve no Brasil, em 1982


30/12/2020 04:00

Pierre Cardin e modelo durante desfile outono-inverno de 2016-2017, em Bonnieux, na França:
Pierre Cardin e modelo durante desfile outono-inverno de 2016-2017, em Bonnieux, na França: "Fecho os olhos e vejo formas. Em casa e em silêncio, crio" (foto: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP %u2013 9/7/16)

Um profissional visionário e peça importante no renascimento da alta-costura na França do pós-guerra, o estilista francês Pierre Cardin morreu nesta terça-feira (29), aos 98 anos. Filho de imigrantes italianos que se transformou em um empresário mundialmente conhecido, ele faleceu no hospital de Neuilly, em Paris. “Dia de grande tristeza para toda a nossa família, Pierre Cardin não vive mais. O grande costureiro que foi sobreviveu ao século, deixando a França e o mundo com um patrimônio artístico único na moda, mas não só”, escreveu sua família em comunicado à imprensa.

Quando completou 60 anos de trabalho, Cardin esteve em São Paulo, onde participou de um desfile de sua última coleção, palestra e exposição inédita de seus trabalhos. O texto abaixo foi publicado por esta coluna em 1982:

“Primeiro a lançar uma coleção de prêt-à-porter, o que lhe custou a saída da Câmara Sindical de Alta-Costura, Cardin mudou a história da moda. 'Eu sempre pensava na possibilidade de vestir muitas pessoas, na verdade trabalhadores; ao mesmo tempo, não havia muitos consumidores de alta-costura; aliás, se eu tivesse continuado só com a alta-costura, hoje não estaria aqui', revelou em coletiva. 'Não há vulgaridade alguma em vestir quem trabalha', concluiu.

'O prêt-à-porter nas lojas de departamento permitiu minha sobrevivência e minha criação'. Proprietário de um verdadeiro império, com restaurantes, hotéis, teatros, fonte de água mineral e revistas, agora está também se dedicando ao projeto de um edifício em Veneza – o Palais Lumière Pierre Cardin, em construção, que contará com 1.200 apartamentos, heliporto e áreas de lazer. Linhas arrojadas, que caracterizam seu trabalho na moda, podem ser observadas nesse projeto, com ares futuristas. 'Trabalho com o meu conceito de forma', justificou.

Tanto o desfile, que aconteceu em 26 de abril, quanto a exposição, cuja inauguração se deu dia 28, teve o desenho de um colar criado em 1971 como inspiração para a passarela e o espaço expositivo desenvolvidos pelo cenógrafo Guilherme Isnard. A passarela branca do desfile é a mesma que o público percorre na exposição e as colunas do espaço, cobertas de tecido cinza, dialogam com as peças expostas, no centro de círculos. Projeções com imagens de toda a produção do estilista são expostas em duas paredes laterais e vitrines mostram acessórios. A curadora da exposição, Denise Mattar, explicou que o critério utilizado não foi o cronológico e sim por conjunto de cores e blocos de características.

'Não é a roupa que faz a elegância; ela vem do interior da pessoa, de seus gestos e de seu comportamento', disse Cardin.
Lá, pode-se ver uma das primeiras peças criadas por ele, um mantô vermelho, em lã plissada no viés, datado de 1952, magnífico. Estão ainda expostas as peças Cosmocorps, criadas nos anos 1960 para a era espacial. Um dos módulos traz as golas como destaque, gigantescas e uma das marcas registradas de Cardin. Assimetrias, círculos e moda masculina são alguns dos outros módulos da exposição. Os amantes de desenhos e modelagem poderão ainda se deliciar com os croquis apresentados, de peças criadas nos anos 1960 e 1970. Uma saia tem seu molde numa vitrine, revelando uma composição belíssima.

O desfile que apresentou uma panorâmica de suas criações, teve início com as peças Cosmocorps, de ares futuristas, em cores como fúcsia, prata e preto. Saias de folhas soltas, casacos com mangas geométricas, tudo com um corte preciso, arquitetônico. Vestidos florais, leves e esvoaçantes, em chiffon, cetim e outros tecidos nobres. Babados, laços e flores gigantes em detalhes. Apanhados de tecidos em vestidos e macacões leves, alguns em tecidos brilhantes e líquidos. Enquanto a moda feminina apresentou delicadeza em traços leves, a masculina mostrou, salvo um ou outro modelo, uma moda mais funcional. O desfile foi finalizado por alguns vestidos de noiva, atemporais e ousados.

Nascido de família pobre perto de Veneza, na Itália, aos 2 anos emigrou para a França. Aos 17 anos, no final da Segunda Guerra Mundial, trabalhou na Cruz Vermelha, em Vichy. 'Eu queria ser ator e bailarino, mas não tinha dinheiro e precisava trabalhar', disse, justificando sua ida para Paris e o início trabalhando na Maison Paquin, que uma amiga médium lhe havia indicado. Nessa época, participou do figurino do filme A Bela e a Fera, de Jean Cocteau. A seguir trabalhou com Schiaparelli e Dior, quando este lançou o New Look. Ficou com Dior por três anos, montando a seguir seu próprio atelier.

'Eu trabalhava com alta-costura, mas era jovem e socialista – jovens são contestadores; tinha a grande pretensão de vestir o mundo', explicando sua primeira coleção de prêt-à-porter, que causou escândalo, pois a Câmara Sindical de Alta-Costura considerava a roupa em série uma decadência. 'O prêt-à-porter me fez fortuna, vendi os direitos de minha marca na América, roupas minhas foram reproduzidas 200 mil vezes', continuou.

De acordo com ele, a partir daí passou a viajar muito, sempre a trabalho, mas aproveitando para conhecer a cultura de cada país visitado. Participou no Brasil, como ator, do filme Joanna francesa, de Cacá Diegues. Hoje, ele tem aproximadamente 750 licenciamentos no mundo todo. Comprou teatros, o restaurante Maxim's, foi embaixador da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Hoje tem também um museu com 5 mil itens, entre roupas, móveis e objetos.

Inspiração: 
'Fecho os olhos e vejo formas, cores e materiais; no final de semana, em casa e em silêncio, crio.'

Administração:
'Para comandar uma empresa tão grande como a minha é necessário ter diplomacia e bons colaboradores que sigam a mesma linha'.
Sobre o Brasil:
'Já estive em seu país aproximadamente 12 vezes e a primeira vez que estive em São Paulo levei um choque pelo tamanho e vitalidade dela; é um país internacional, a população brasileira, miscigenada, é muito bonita! Vocês são exemplos para mim.'

Viagens:
'Já fui 100 vezes aos EUA, 32 vezes à China, estive 18 vezes na Rússia e sete na Austrália; já visitei os países nórdicos, a América do Sul, o Japão e, em cada viagem, procuro conhecer a cultura do local, a forma de viver.' 

Cosmos:
'Sempre fui influenciado pelo Cosmos e sempre tive certeza que o homem chegaria à Lua, embora tenha sido muito ridicularizado por isso; tive a honra de ser fotografado com a mesma roupa com que os astronautas estiveram na Lua e tive a felicidade de me sentar no foguete que empreendeu a viagem.' 

Mulheres:
'Sempre pensei nas mulheres que trabalham, na sua vida cotidiana; hoje, elas trabalham mais que os homens, são brilhantes!.'

Moda
'A moda situa as pessoas no tempo e no espaço; um homem nu no deserto não tem identidade, não tem nacionalidade; a moda mostra sua condição sociocultural, é uma radiografia social dos indivíduos; imaginem uma cidade sem moda, ela não existiria; por sorte há a moda e ela é extraordinária; dela, mais do que trabalho, se tira prazer.'

Círculos e bolas:
'Uma bola não para, está sempre em movimento e é por isso que existe na minha roupa e é meu símbolo; tudo no mundo, do planeta ao pó é redondo, o redondo vai longe e o quadrado para'.” 

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