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As comemorações do Dia da Pátria e meu amigo herói

Neste ano em que a data vai passar em branco, fico me lembrando da emoção que sentia ao assistir aos desfiles militares na minha infância, marcada pela guerra


07/09/2020 04:00

Oficiais do Corpo de Bombeiros em traje de mergulho desfilam pela Avenida Afonso Pena, numa parada militar(foto: Reprodução/Arquivo Corpo de Bombeiros )
Oficiais do Corpo de Bombeiros em traje de mergulho desfilam pela Avenida Afonso Pena, numa parada militar (foto: Reprodução/Arquivo Corpo de Bombeiros )
Passei boa parte de minha infância vivendo as aflições da Segunda Guerra Mundial, que não perdoava ninguém. Minha mãe tinha que fazer milagres para alimentar a família, onde realmente faltava o pão. Farinha de trigo não existia. Quando um pão tradicional aparecia, era dia de festa, comemoração, uma fatia pequena para cada um.
Quando a guerra acabou, fui levada por minhas irmãs mais velhas e seus amigos para assistir à chegada da Força Expedicionária da Europa. Nunca tinha visto nada mais bonito do que uma parada militar – e entre os heróis que retornavam cobertos de glória, um deles que ficou meu amigo ao longo dos anos.

João Rodrigues Neto, ou João Preto, identificação que, nos dias atuais, é proibida, era filho de Túnica, uma das empregadas de minha avó, que me acompanhava na infância, e único herói verdadeiro de Santa Luzia. João foi servir na Itália, ficou numa região em que os italianos se escondiam da guerra e da fome. Ficou conhecendo os foragidos e, coração grande, não teve dúvidas em esconder uma boa quantidade de comida que recebia em seu batalhão, para destinar aos famintos. Toda noite colocava uma boa quantidade de alimento perto dos italianos escondidos, que iam buscar.

Entre os foragidos, vários eram ricos empresários italianos, que, depois da guerra, fizeram questão de conhecer seu benfeitor. Ficaram amigos dele e, por várias vezes, o levaram para conhecer a Itália. Ficava hospedado – ele e a mulher, quando depois se casou – na casa dos italianos em Roma, que o tratavam à vela de libra. Ia aos melhores restaurantes, era presenteado com as melhores roupas, os melhores presentes.

Quando voltou da guerra, assumiu seu emprego de carteiro. Era então não mais o João Preto, mas o João Carteiro, e como trabalhava perto de minha casa, não era raro aparecer no início da tarde, para sentar em minha sala, tomar um café, contar casos da guerra e, quando dava tempo, cantar um de seus hinos evangélicos. Que repetiu, abraçado comigo, ao lado do caixão de meu marido, provocando grande emoção nos presentes, que não estavam entendendo nada.

Este dia consagrado à pátria, que hoje será passado em branco, sem desfile militar, não só me lembra meu amigo herói luziense, que já se foi, como também uma das grandes alegrias de minha infância. Contava nos dedos os dias que faltavam para assistir à parada, na Avenida Afonso Pena, repleta de gente. E da pátria desfilando, com seus soldados, seus tanques, seus comandantes e também estudantes de várias escolas públicas. A música marcial era emocionante, e a vontade que dava à meninada que não estava no desfile, era participar dele. Não sei se essa vontade de ver desfile militar para comemorar o Dia da Pátria ainda existe. As crianças de hoje não conhecem muito nem a história do Exército nem a realidade, que não estão presentes nas séries de computador e laptop.

No último mês, o 4 Batalhão do Exército, que é meu vizinho, colocou na rotatória da Avenida Raja Gabaglia, retorno que foi criado pela Construtura Líder, de Carlos Carneiro Costa, um belo tanque de guerra. Tenho um sobrinho que sonhava, meses atrás, tirar um retrato em cima de um tanque. Pedi daqui e dali e me informaram que no quartel não tinha tanque, só em Juiz de Fora. Esse que foi colocado na pracinha logo despertou seu velho desejo. Mas não dá para subir no canhão, a única coisa que pode ser feita é ficar ao lado dele. Pena não se ligar mais a infância ao interesse pelos nossos soldados e artefatos de defesa.

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