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Setembro Amarelo: preconceito em relação ao suicídio precisa acabar

Campanhas de prevenção e empatia com pacientes psiquiátricos são de extrema importância e podem evitar o ato de tirar a própria vida


04/09/2020 04:00

Como convivo com psicólogos, psiquiatras e outros profissionais que trabalham com adolescentes, aprendi que um dos mais sérios problemas dos pais, nos dias atuais, é evitar tendências suicidas nos filhos. Parece conversa jogada fora, mas é a pura verdade. Até professores de universidades contabilizam alunos que foram levados pela desilusão da vida. Como tenho em minha vida particular alguns casos de parentes e amigos que se foram assim, procuro seguir sempre o que se divulga sobre o assunto. E setembro é o mês dedicado a isso. A coluna traz hoje texto de um profissional que é bom conhecer, Sivan Mauer*.

“Desde 2003, 10 de setembro é conhecido como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Porém, desde 1994, já existia a campanha Setembro Amarelo, que teve início nos Estados Unidos com os pais e amigos de Mike Emme, um jovem de 17 anos que tirou a própria vida. Mike tinha grandes habilidades para lidar com mecânica automotiva, e recuperou e pintou de amarelo um Mustang 1968. As habilidades levaram Mike a ficar conhecido como "Mustang Mike". Já a fita amarela virou tradição quando os amigos de Mike as prenderam na lapela, no cabelo ou no chapéu no dia do funeral do jovem, onde também distribuíram cartões com a inscrição "Não tem problema pedir ajuda".

A história de Mike é comovente e tenho certeza de que sensibiliza muitos, mas infelizmente no dia a dia a realidade não é bem essa, pois o suicídio muitas vezes é alvo de preconceito e mitos, tanto por parte da população leiga quanto da comunidade médica. É preciso entender que o suicídio não é uma doença. Entretanto, na maioria das vezes, é o resultado de algumas doenças, como o transtorno bipolar e a esquizofrenia. Entre 80% e 90% das pessoas que cometem suicídio estão sofrendo de algum tipo de transtorno do humor. Muitas vezes, o paciente psiquiátrico sofre preconceito até mesmo por médicos de outras áreas e outros profissionais da saúde.

Entre a população leiga, o preconceito em relação ao suicídio se amplifica. A falta de empatia pelo paciente pode ser exemplificada por meio de vários casos. Em um deles, uma pessoa estava tentando tirar a própria vida saltando de uma ponte entre Vila Velha e Vitória, no Espírito Santo. O resgate levou algumas horas. Nesse intervalo, muitos pediram para que o suicida se jogasse de uma vez por todas. Algumas, inclusive, afirmaram que se dispunham a empurrá-lo. Em um certo momento, iniciou-se um buzinaço, e assim por diante. Empatia é um fator importante para que exista o acolhimento do paciente psiquiátrico, e isso pode ser decisivo em momentos emergenciais.

Podemos observar, também, o preconceito em relação a algumas populações no Brasil, como as indígenas, que chegam a ter uma prevalência de suicídio triplicada quando comparada à da população em geral. Isso demonstra um descaso da sociedade em geral, do governo e das entidades responsáveis por essa população. As campanhas de prevenção são de extrema importância para pessoas que consideram a possibilidade do suicídio, pois cada vez mais a medicina entende que isso pode ser prevenido. Entretanto, os profissionais da área da saúde precisam se atualizar e entender os novos fatores de risco para doenças mentais. Alguns estudos, por exemplo, demonstram que cyberbullyng e o tempo que se passa na internet estão relacionados a suicídio.

Algumas formas de prevenção passam por abordagens psicoterápicas e outras pelo uso de psicofármacos. Entre as abordagens psicoterápicas se destaca o Centro de Valorização da Vida (CVV), que desde 1962 exerce grande papel na sociedade trabalhando na prevenção do suicídio. O CVV atende 24 horas por telefone ou site, além de realizar atendimento pessoal. Apenas com medidas preventivas e educacionais, episódios como o que ocorreu na ponte deixarão de existir. E as pessoas passarão a ter o mínimo de empatia em relação ao sofrimento humano.”

* Sivan Mauer é psiquiatra, especialista em transtornos do humor. É mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine (EUA), e doutor em psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 

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