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Depois de 90 dias trancada, morreria de tédio e não de COVID-19

Se as pessoas não ficassem tão estressadas pelo medo, esse paradeiro seria mais bem-aceito, a vida seria mais leve e amena


29/07/2020 04:00

Profissional de saúde coleta amostra para detectar se paciente tem COVID-19(foto: PRAKASH MATHEMA/AFP)
Profissional de saúde coleta amostra para detectar se paciente tem COVID-19 (foto: PRAKASH MATHEMA/AFP)
Se previsão vale para alguma coisa, parece que minha família, que não é pequena, está registrando o primeiro caso da maldição mundial, a COVID-19. Graças a Deus, o final foi mais do que feliz – e animador para quem vive na expectativa de ter ou não ter a enfermidade. Quem pegou a doença foi minha sobrinha médica, que formou-se no fim do ano passado, depois de fazer curso brilhante e recebeu, junto com o diploma, vários convites para trabalhar. 

Escolheu o que lhe interessou mais, em pronto socorro, e passa o tempo restaurando vítimas de desastres variados. Alugou um apartamento perto do hospital onde trabalha, mora sozinha e, num dia comum, viu que estava com febre, sem olfato e sem sentir gosto de nada. O exame constatou positivo e ela foi para casa, não quis fazer a quarentena em Poços de Caldas, onde mora a família. Ficou em casa sozinha, mas acompanhada à distância pelos colegas e, em 15 dias, estava curada. Sem tomar sequer um medicamento, o que é mais curioso. Já voltou a trabalhar, sem nenhum problema, gente nova é assim.

O que considero pior nessa pandemia é a dúvida: estou ou não estou doente? Vivo nessa dúvida “retrós”. Passo o dia perfeitamente bem, quando a noite vai caindo, aparece uma dor aqui, outra ali, a perna e o pé doem, penso que é resultado do diabetes, o braço incomoda e, junto, aparecem todos aqueles pequenos problemas que são comuns à idade, que sinto ao longo dos tempos normais. A tosse volta em horas variadas, o espirro matinal não falta e o sabor e o perfume, que já haviam desaparecido há muito, passam a ser indício de  que a danada me pegou.

Como faço parte do malfadado grupo de risco, pela idade e pelo diabetes, tomo minhas precauções razoáveis, mas não tenho a síndrome dos cuidados exagerados – deixar sapato na porta, tomar banho quando chego em casa, não ter funcionários domésticos. Corro riscos inúteis? Acho que não. Prefiro agir racionalmente, como sempre agi. Como diz outro sobrinho, que mora no Rio, sou feita de barro diferente. Talvez porque enfrente doenças sem fazer drama, sigo  tudo o que é recomendado pelos médicos quando preciso deles.

No racional, imagino que se as pessoas não ficassem tão estressadas pelo medo, esse paradeiro seria mais bem-aceito, a vida seria mais leve e amena. Se for seguir as recomendações que recebo de amigos, não botaria o nariz para fora da porta. Então, depois de 90 dias trancada dentro de casa, já teria morrido de tédio e não de COVID-19. O que mais tenho torcido é para que essa mania de home office acabe e eu volte a trabalhar na redação do jornal, sinto falta do ambiente cotidiano que representa 60 anos de minha vida profissional. Fora isso, cumpro com as obrigações cotidianas, como suprir a casa, ir ao médico, ao dentista e, quando os salões de beleza estavam abertos, não deixei de ir me cuidar. Única coisa boa dessa reclusão é que para quem passa o dia fora como eu, posso gastar um tempo imenso fiscalizando a casa. Então, tenho cuidado de detalhes que, em épocas de trabalho, não era possível fiscalizar.

Junto a essa expectativa de espera, outro problema sem remissão são os dignos conhecedores da COVID-19. Quem quer aparecer cria logo uma lenga-lenga sobre como se precaver, como se cuidar, o que é preciso fazer, mais isso, mais aquilo. Até lombrigueiro já me recomendaram usar – não posso saber a razão. A recomendação virou mania, o medicamento acabou nas farmácias. Agora, leio no jornal que, para comprar, só com receita médica. Quer dizer: por aqui, vale tudo e quem embarcar nesse clima está sem caminho lógico a seguir. Cruz-credo.

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