(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Africana, considerada santa, viveu em Minas Gerais

Rosa Maria Egipciaca de Vera Cruz, morta pela Inquisição, morou em Mariana e sua trajetória é contada pelo escritor e antropólogo Luiz Mott


postado em 29/04/2020 04:00 / atualizado em 28/04/2020 19:51

O antropólogo Luiz Mott é autor de Rosa Egipciaca: uma santa africana no Brasil. Autor pesquisou a vida e trajeto religioso de sua personagem durante 10 anos(foto: Facebook/Reprodução)
O antropólogo Luiz Mott é autor de Rosa Egipciaca: uma santa africana no Brasil. Autor pesquisou a vida e trajeto religioso de sua personagem durante 10 anos (foto: Facebook/Reprodução)

Foi uma grande surpresa para mim – e acredito que deve ser também para muito leitor – saber que já passou pelo Brasil uma africana considerada santa, morta pela Inquisição. Fiquei sabendo disso ao tomar conhecimento de um livro escrito por Luiz Mott: Rosa Egipciaca: uma santa africana no Brasil (Bertrand Editora). Rosa Maria Egipciaca de Vera Cruz nasceu em uma região da África, pouco imprecisa pelo autor, e ainda menina foi jogada em um navio negreiro, vindo parar no Rio de Janeiro, onde a batizaram e viveu até os 14 anos. Nessa altura da vida, deflorada, foi vendida para Minas Gerais, sendo integrada à casa de Paulo Rodrigues Durão, pai do futuro Frei Santa Rita, que desempenharia um papel importante na vida da escrava. Sabe-se também que, por conta própria ou por pressão dos senhores, ela viveu como prostituta do arraial do Inficcionado, de 1733 a 1748.

O autor conta que a partir dessa época, ela passou a ser acometida por ataques convulsivos, tornando-se também presa de visões e êxtases. Nessa fase de sua vida foi entregue a um padre, Francisco Gonçalves Lopes, para ser exorcizada – e o padre passou a tomar conta dela. Com o agravamento das visões, desconfiaram de que podia ter possessões demoníacas. Perseguida, ela fugiu de Inficcionado, indo para Mariana, onde foi açoitada em pelourinho na praça. Sua aventura mineira terminou aí, ela fugiu para o Rio, acompanhada pelo padre Francisco, já aí livre da condição de escrava conseguida por seu padre-companheiro.

No Rio, tornou-se uma das fundadoras do Recolhimento do Parto, que em princípio funcionava recebendo moças de mal procedimento, mas intencionadas a começar vida nova. Na reclusão, a negra Rosa continuou tendo ataques e o visionarismo, prevendo dilúvios que submergiam ora Minas, ora o Rio, tornando-se então arauto da vontade divina na introdução do culto dos sagrados corações, do esdrúxulo rosário de Santana, que inspiravam práticas sacrílegas nas quais sua pessoa era venerada como santa.

O prato estava feito para a Inquisição. Seus olheiros coloniais prenderam não só a ex-escrava Rosa como o padre que a acompanhava e que ficaram encarcerados durante um ano, sendo então embarcados para Lisboa, como prisioneiros do Santo Ofício. A curiosidade dessa história tão aventurosa e desconhecida é que o padre Francisco foi julgado e saiu penitenciado em um Ato de Fé, em 1766. Rosa, depois de seis interrogatórios, desapareceu. Sua história relata também que depois que aprendeu a ler e a escrever, tornou-se autora de centenas de páginas de um livro edificante – Sagrada trilogia do amor de Deus, luz brilhante das almas peregrinas, queimado na época em que foi presa no Rio de Janeiro.

O autor do livro faz a descrição de sua personagem: “Rosa é, em muitos aspectos de sua vida, uma típica santa barroca, ultramoderna para seu tempo. Muita das devoções, sacrifícios e até milagres de madre Egipciaca são idênticos aos encontrados nas biografias de santos e santas reconhecidos por Roma”. O autor pesquisou a vida e o trajeto religioso de sua personagem durante 10 anos, viajou por Lisboa e Minas percorrendo os lugares onde a negra visionária viveu, vasculhou arquivos eclesiásticos em busca de documentos que esclarecessem passagens nebulosas da fundação do Recolhimento do Parto, percorreu igrejas, capelas e museus do Rio em busca de dados perdidos que lhe permitissem entender melhor as complexas visões de Rosa.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)