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Licença-maternidade maior prejudica as mulheres

Especialistas e políticos avaliam que aumentar período de férias pós-parto pode aumentar demissões e desestimular empresas a contratar pessoas do sexo feminino em período fértil


postado em 12/11/2019 04:00


Já contei aqui que meu sobrinho que mora na Finlândia– e é casado com uma finlandesa – tem um filho que nessa altura está com quase 3 anos. Eles estiveram aqui quando o menino apenas engatinhava, e ela estava há meses de férias. Quando voltassem para casa, seria a vez de as férias serem dele (6 meses). A ministra Damares Alves, aquela que fala muito e nem sempre o que deve, levantou meses atrás a possibilidade de as mulheres terem direito a licença-maternidade pelo período de um ano. “Defendo mais tempo da mãe com a criança em casa, o pai também. Agora, essa é a realidade no Brasil? Não é. Podemos lutar por isso? Podemos. Vamos ter resistência? Muita. [...] Na Hungria, são três anos de licença-maternidade. No primeiro ano, a mulher ganha 110% do salário. No segundo ano, 80%. No terceiro, 50%. Se quiser voltar ao trabalho no segundo ou terceiro ano, 60%”, disse a ministra.

Como a pressão empresarial foi muito forte, ela logo voltou atrás, dizendo que sabe que este tipo de licença-maternidade não é viável para o Brasil e avisou aos empresários que se trata de um ‘desejo apenas’: “Calma, empresários. Este é apenas um desejo. Sabemos que a realidade brasileira é bem diferente, mas não custa sonhar. Este governo trabalha para criar o ambiente que favoreça a implementação desse tipo de medida favorável à família, sem pressionar e inviabilizar os negócios.” Atualmente, o benefício da licença-maternidade assegura quatro meses de afastamento para a mulher – esse período pode ser estendido a até 6 meses, dependendo do empregador. Ainda é possível que os dias de férias sejam incorporados à licença caso a mulher esteja há mais de um ano na empresa.

Debora Ghelman, advogada paulista especializada em direito humanizado nas áreas de família e sucessões, diz que a sugestão da ministra na teoria é um lindo projeto, pois objetiva fortalecer os laços afetivos entre a mãe e seu filho. Porém, na prática, dificilmente funcionará. “Primeiro, será um desestímulo para as empresas contratarem as mulheres que estejam na idade biológica para se tornar mães. Segundo, poderá ocorrer demissão em massa dessas mulheres. Terceiro, provavelmente, seus salários se tornarão ainda mais baixos em comparação aos dos homens, uma vez que ficará caro para as empresas contratarem mulheres”, explica a especialista.

A ministra Damares também opinou sobre a licença-paternidade, benefício que concede aos pais apenas cinco dias de afastamento do trabalho, podendo esse prazo ser estendido a até 20 dias, dependendo da empresa. “Se a gente pudesse ter para os pais (licença-paternidade) dois ou três meses seria ótimo. Mas olha o problema que a gente vai ter ainda no Brasil para chegar a esse objetivo. A indústria vai reagir, o comércio vai reagir, mas a Hungria conseguiu”, disse a ministra.

Debora sugere que os moldes da licença-paternidade poderiam ser inspirados em outro país europeu, a Suécia: “No modelo sueco, a licença é compartilhada entre homens e mulheres. Noventa dias para cada um e os outros 300 dias são convencionados entre o casal. Se a nossa legislação evoluiu no sentido de defender a igualdade de gêneros, por que não estender essa licença para os pais? Isso está de acordo com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Além de permitir que os pais aprofundem seus vínculos afetivos com os filhos, permitirá que a mulheres retornem em paz ao mercado de trabalho, sem aquela culpa de abandonar seu filho”.

A deputada estadual Janaina Paschoal, eleita em São Paulo, também se manifesta sobre a proposta de Damares: “Creio que tal modificação findaria por prejudicar as próprias mulheres, que deixariam de ser contratadas. Fatalmente, o prejuízo à carreira das mulheres implicaria prejuízo às próprias crianças, pois muitos lares são sustentados, exclusivamente, por mulheres. Podemos até pensar em estímulos para que mulheres com filhos pequenos possam trabalhar meio período. Mas licenças obrigatórias mais longas prejudicarão as mulheres e, por conseguinte, as famílias”, completa a deputada.

Para Debora, a legislação brasileira e os tribunais estão incentivando cada vez mais a independência financeira da mulher e seu ingresso no mercado de trabalho: “Por isso, as pensões alimentícias entre os cônjuges estão sendo cada vez mais raras e as mulheres também têm que contribuir com as pensões dos filhos menores e incapazes. Logo, esse projeto, apesar da boa intenção, é um retrocesso quando falamos em era da igualdade de gêneros”, finaliza a advogada.

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